Atualizado em 8 Abril, 2021

Em Edfu, uma cidade remota no sul do Egipto, fica um dos templos mais fabulosos de sempre: o templo de Hórus. A secura do ambiente conservou o edifício de uma forma invejável

Deixámos Luxor para trás e continuámos a subir o rio, em direcção a Assuão. O barco, o Nilo Carnival, tem poucos passageiros, o que nos permite viajar de uma cidade à outra com muita tranquilidade. Quem procura, encontra-me num de três sítios: sala de massagens, jacuzzi ou espreguiçadeira.

Depois do jantar, há sempre animação no bar: a Galabia Party, dança do ventre, dervixes rodopiantes mas nós, newly-weds, perdemos alguns,

A nossa próxima paragem é Edfu, a cidade de Hórus, que desempenhou um papel importante na antiga rota das caravanas, unindo o vale do Nilo às minas do deserto, e que foi sede do culto àquele deus que muitos comparam ao grego Apolo.

Nada mais lógico do que visitar o seu templo, da época ptolomeica. Construído entre 237 a.C. e 57 a.C., o Templo de Hórus é de uma majestade e uma pureza arquitectónica que não deixam ninguém indiferente.

Eu sei, são adjectivos que tenho usado com alguma frequência acerca desta aventura, mas não deixam de ser sentidos, nem tenho outra forma de descrever o quanto aquele país me deixou enlevada. O Egipto é uma lição de humildade, não conheço quem lá tenha ido e não se tenha sentido uma pequena formiguinha.

O templo de Hórus

A porta do santuário (pequenina, com apenas 37 metros de altura) é guardada por dois falcões, a forma comum de representar o deus regente dos céus e dos astros neles semeados. Praticamente todas as superfícies, dentro e fora do templo, estão cobertas de baixos-relevos e hieróglifos. Mas, infelizmente, algumas foram desfiguradas por cristãos, que as consideravam pagãs.

Foi naquele cenário grandioso, sob um céu azulão, que Farouk nos introduziu na mitologia egípcia. Diz a lenda que Ísis pousou, na forma de um pássaro, sobre a múmia do esposo Osíris e, destas núpcias post-mortem, nasceu Hórus. Os deuses são assim, conseguem ser fecundos mesmo depois de mortos!

O falcão é o animal simbólico de Hórus.

Há uma estela no Museu do Louvre que narra este episódio, com o seguinte hino:

Oh benevolente Ísis
que protegeu o seu irmão Osíris,
que procurou por ele incansavelmente,
que atravessou o país enlutada,
e nunca descansou antes de tê-lo encontrado

Ela, que lhe proporcionou sombra com suas asas
e lhe deu ar com suas penas,
que se alegrou e levou o seu irmão para casa.
Ela, que reviveu o que, para o desesperançado, estava morto,
que recebeu a sua semente e concebeu um herdeiro,
e que o alimentou na solidão,
enquanto ninguém sabia quem era…

Mais tarde, Hórus matou o seu tio Set (ah, estas intrigas familiares) para vingar a morte do pai e assumir o poder. Numa das batalhas, Hórus perdeu o olho esquerdo, o olho da lua, o que poderá ter originado os ciclos lunares. Extraordinário como há uma explicação para tudo!

Dica: esta viagem aconteceu em 2006, altura em que contratámos uma agência. A realidade do país mudou um pouco, mas ainda é difícil fazer a visita de forma independente.