Atualizado em 12 Abril, 2021

A pequena Itu, no Estado de S. Paulo, pode até ser um dos berços da república, ter um passado histórico invejável e uma paisagem natural fantástica. Mas será sempre recordada como a Capital do Exagero

Pensei que o capítulo “Brasil” estava encerrado – afinal já regressei a Portugal há mais de um ano. Mas as temperaturas que se fazem sentir por estes dias no interior do país, fizeram-me regressar às imagens da pátria de Drummond de Andrade, com saudades do sol e do calor. Cinco graus negativos é a temperatura mínima para hoje no distrito da Guarda, onde estou a trabalhar. Conseguem avaliar o sofrimento de alguém concebido nos trópicos?

Fujamos então do frio, de volta ao Estado de S. Paulo, onde passei momentos maravilhosos. Estamos em Itu, S. Paulo, na Fazenda e Camping das Pedras. Basta cobrir o biquíni com um vestido colorido para ir tomar o pequeno-almoço (o café da manhã tem bolo de fubá e pão de queijo, hmmm).

O parque não fica longe da cidade, mas a Mata Atlântica rodeia-o de tal forma que parece que estamos no meio do nada. Só se ouvem os pássaros e as gargalhadas das crianças na zona das piscinas. Alugámos um chalé porque já passámos do tempo em que dormíamos no chão e acordávamos cheios de energia…

Começa o dia em Itu (S. Paulo)

Começar o dia com uma caminhada ou um passeio a cavalo? A segunda opção, até porque nos garantiram que os animais são calmos. O meu cavalo castanho é realmente pachorrento, quase, quase um burrinho. Ainda que se desvie do caminho de quando em vez, para pastar. Vou-lhe fazendo a vontade, porque este passeio é feito com todo o tempo do mundo.

Dali rumamos à piscina, onde preguiço ao sol depois de um mergulho. Escolhemos a piscina sem escorregas, muito mais calma a esta hora da manhã. À tarde haverá tempo para um jogo de futebol, onde os casados serão dizimados pela equipa dos solteiros, e um torneio de voleibol para os mais enérgicos.

Eu fico-me pela assistência, a animar os jogadores, porque já tive drama suficiente no campo de futebol, quando tentei apanhar uma bola com o peito. Também não foi nenhuma tragédia grega, mas eu voei numa direcção e os meus óculos noutra.

Mais um dia e o programa é um pouco mais do mesmo: piscina (desta vez arrisco no tobogã e o meu pequeno explorador no escorrega da piscina infantil), grelhados com salada ao almoço, sesta na relva, mais um passeio a pé, conversa boa. Três dias são suficientes para me pespegar um tom doirado à pele.

O único senão? Os “pernilongos” não me largam, apesar das camadas de repelente com que me unto.

Terra dos exageros

A história dos exageros começou na década de sessenta quando Simplício, um famoso humorista natural de Itu, fez sucesso na televisão com a sua personagem caipira. À arrogância dos citadinos, que enalteciam as virtudes da capital, Simplício contrapunha dizendo que na cidade dele tudo era maior, em escalas estratosféricas.

Segundo ele, um ovo de codorniz de Itu era do tamanho de um ovo de avestruz; a pulga era vendida numa gaiola e parecia uma abelha. O chapéu local seria o único capaz de abrigar “do sol de Itu, o maior do mundo”. O cachorro-quente e os gelados tinham meio metro de comprimento; para percorrer um restaurante era necessário uma moto.

A cidade achou graça e respondeu com uma cabine telefónica (um orelhão) com sete metros de altura e um semáforo com o dobro do tamanho normal, na Praça da Matriz. Depois criou o “Parque do Exagero” onde tudo é grande, do jogo de xadrez às formigas.

Coincidência ou não, Auguste de Saint-Hilaire, um naturalista francês que visitou a região no século XIX, dizia na sua obra Viagem à Província de São Paulo e Resumos das Viagens ao Brasil, que “as romãs dos arredores de Itu são as melhores de todo o país e que as cebolas ali atingem extraordinário tamanho”. As cebolas não as vi, mas tudo o resto posso comprovar que existe em Itu (S. Paulo). Sem exageros, está um frio de rachar agora que aterrei de volta à realidade. Vou preparar um chá!

Um Simplício gigante.

Dicas úteis

Como chegar: Itu (S. Paulo) faz parte do Roteiro dos Bandeirantes. Fica a 620 km de Belo Horizonte, a cerca de 100 km de S. Paulo e 170 km da sua  costa.

Desde Sampa, seguir em direcção à BR-050, depois para SP330/Anhanguera e SP280/C. Branco. Convergir para a estrada BR-116, seguir as indicações para SP-280/C. Branco/SP-21/Rodoanel. Continuar até à  BR-374 e sair para Campinas/Piracicaba. Apanhar a Rodovia Dep. Archimedes Lammoglia e depois a saída em direcção a Estrada Itu.

O que comer: comida caipira, claro, se possível cozinhada em fogão a lenha. Por exemplo, no restaurante do camping onde ficámos,  a leitoa pururuca é a grande atracção. No que respeita às sobremesas, destaca-se o doce de ovo queimado, antiga receita de família, e os doces caseiros feitos em panelas de cobre (saudades da goiabada).