Atualizado em 16 Abril, 2021

Unforgettable é uma palavra tão rica em melodia e doces recordações que me parece adequada à Madeira, aqueloutra, afastada do bulício do Funchal. Aqueloutra, das estradinhas apertadas, paisagens esmagadoras e falésias majestosas.

É portanto embalada pela voz de veludo do Nat King Cole [Unforgettable / In every way … / that’s how you’ll stay ]  que vos escrevo este segundo post sobre a pequena pérola encastrada no Atlântico. Uma jóia aqui tão perto, 900 km que se resumem a hora e meia de voo.

Explorado o Funchal, era tempo de explorar as imponentes paisagens da Madeira, que recordam as origens vulcânicas da ilha. É comum alugar carro para explorar a ilha. Eu escolhi uma alternativa mais tranquila, guardando o meu tempo e atenção para o Pedro. Como já vos contei, esta foi uma aventura a dois, pelo que reservei as saídas com a Lido Tours e não me arrependi.

Para além de conhecer outros andarilhos, como a polaca Anna Nowakowska, consegui apreciar as regiões mais pitorescas sem preocupações com a condução. É que, por vezes, se revela quase uma saga do Indiana Jones, com pedras a resvalarem para o abismo (bem, concedo, deixo-me levar pelo dramatismo, haha).

Cabo Girão

Ressalvando a minha pequena dose de exagero e apesar das garantias da minha amiga Tânia de que as estradas madeirenses cumprem as dimensões legalmente exigidas, senti uma ligeira apreensão nas várias vezes que tivemos que cruzar com um autocarro ou um camião.

O nosso condutor/guia brincou diversas vezes com a situação: “façam como eu, fechem os olhos. Quase sempre corre bem!” ou “a antiga estrada era bem pior, foi assim que arranjei este penteado”. Sublinhando que o senhor é tão bem-humorado quanto careca. Na verdade, as vias são excelentes, apenas um pouco estreitas devido ao território acidentado.

Ao longo dos dois dias de excursão, vimos e fotografámos quadros belíssimos, dos quais vos destaco apenas alguns. Comecemos com um clássico: o Pico do Areeiro, o terceiro ponto mais alto da ilha (1810 metros), onde as temperaturas descem vários graus, mas a paisagem compensa imensamente este pequeno inconveniente.

As piscinas naturais de Porto Moniz

Para o meu pequeno explorador, aquelas nuvens gordas condicionadas entre os picos montanhosos são “piscinas de nuvens”. Penso como seria agradável nadar ali, se a física não fosse mais forte do que a nossa imaginação!

Dali descemos em direcção à costa, através da floresta original de Laurissilva, que apreciamos com calma em Ribeiro Frio, onde as árvores mantêm algum do seu esplendor secular. Esta é uma paisagem da Madeira que não vai querer perder.
Depois de um pequeno passeio por entre os viveiros de trutas, fizemos uma pausa para uma poncha. O casal holandês que nos acompanhava achou a bebida muito forte, o guia replicou que beberam pouco, caso contrário já entenderiam português Continuámos depois, rumo ao último lar das casas típicas da Madeira: Santana.

As suas casas triangulares, construídas com pedra e colmo, foram em tempos usadas como estábulos e mesmo como habitação. Hoje, a vila mantém algumas apenas pela tradição, instalando ali o posto de turismo e pequenas lojas de artesanato, flores e vinho da Madeira. Tudo emoldurado por uma montanha de vegetação exuberante.

Queda de água Véu da Noiva

No outro extremo da ilha, a oeste e a 75 km do Funchal, fica uma das paisagens mais maravilhosas da Madeira – Porto Moniz- com as suas piscinas naturais. Apesar dos termómetros marcarem uns tímidos 18º C, alguns turistas nadam e apanham sol.

A água, calma e transparente, permite ver o fundo de areia e pedras, com pequenos peixes que nadam tranquilamente ao lado dos banhistas. Mesmo ao lado, o mar castiga os rochedos com ondas vigorosas.

Até ao final da II Guerra Mundial, a única forma de acesso a Porto Moniz era pelo mar. Entretanto, uma estrada foi cavada na encosta até São Vicente, cortada por quedas d’água e com constantes derrocadas. Uma parte desta estrada ainda é transitável e, graças a isso, conhecemos o véu da noiva (Seixal) e aquecemos com mais uma poncha de maracujá.