Atualizado em 23 Abril, 2021

Despedimo-nos de Zhuhai na fronteira com Macau, antes de rumarmos a outras cidades do sul da China. O bairro de Gongbei é o local para se fazer compras

Diz o ideário marxista que a riqueza deve ser justamente distribuída, certo? Acontece que política é política e economia é economia. Conduzir um Porshe na China já não é visto como um vício ocidental, importado do capitalismo. Um empresário pode ganhar cinquenta vezes o ordenado de um trabalhador comum e levar um estilo de vida compatível.

O consumo também está lá nos píncaros, como podemos constatar no bairro de Gongbei (拱北), especialmente na Rua do Lótus (莲花路; Liánhuālù), completamente repleta de lojas, restaurantes, barraquinhas de comida, bares improvisados… Muitos homens de negócios terminam aqui o dia, a beber, a jogar aos dados e a gracejar com as raparigas da noite.

Não esperamos que exista turismo sexual na China de Mao Tsé-tung e da revolução cultural, mas Gongbei é frequentemente descrito como o recreio hedonista dos empresários de Hong Kong, Taiwan e Macau (que fica, literalmente, ali a dois passos).

Vimos várias dessas trabalhadoras, nos cabeleireiros do bairro, preparando-se para a noite. Nos casinos de Macau também se pode contratar o pacote completo: jogo, compras, estadia e acompanhante. Falaram-me ainda da existência de barquinhos enfeitados, em alguns pontos do rio das Pérolas, onde é igualmente possível encontrar-se companhia feminina.

Mas tergiverso. Voltemos a Gongbei que, para além das noites animadas, é conhecido pelas lojas de rua e ainda pelo centro comercial subterrâneo, remotamente parecido com um bazar marroquino, com os seus corredores labirínticos.

Nunca dominei a fina arte do regateio, mas aqui é essencial se alguém quer mesmo aquele fake Rolex, aquela fake Yves Saint-Laurent, ou qualquer brinquedo electrónico. Infelizmente, encontrar roupa tradicional chinesa de qualidade é quase uma missão impossível.

De qualquer forma, dialogar com os vendedores é um passatempo muito divertido e também passo muito tempo (talvez demasiado) a olhar para todas as embalagens expostas nas prateleiras do supermercado, a tentar ler ou simplesmente adivinhar o que contêm. Tenho feito algumas descobertas extraordinárias, como aperitivo de ervilhas com vários sabores, mas a que mais me orgulha foram as garrafas de aguardente chinesa (白酒) a 3,5 yuans. Isto é cerca de 50 cêntimos, minha gente. Toda a gente se foi lá abastecer!