Atualizado em 7 Abril, 2021

A neve dança no céu escuro, mas as ruas não estão vazias. Na noite fria de 7 de Dezembro, a cidade acorda para uma nova temporada no alla Scala. Começou a temporada da ópera em Milão

Os milaneses vão chegando ao teatro elegantemente vestidos, sob o olhar atento de Leonardo Da Vinci que, com a sua longa barba e característico barrete (o Pedro reconheceu-o graças a isso), domina a Piazza alla Scala, em Milão. Muitos outros aguardam na Galeria Vittorio Emanuele pelo primeiro espectáculo da temporada, transmitido num ecrã gigante.

O maestro Daniel Barenboim levanta a sua batuta e a magia começa. A plateia emudece, enquadrada numa sumptuosa moldura de vermelho e dourado, sob o majestoso lustre em vidro de Murano, como nos tempos da imperatriz Maria Teresa.

O teatro alla Scala é uma das casas de ópera mais famosas e de maior prestígio do mundo. Mozart tocou aqui, nos seus verdes anos. As vozes mais extraordinárias fazem parte da sua história: Maria Callas, Luciano Pavarotti, Plácido Domingo, Teresa Berganza, Joan Sutherland, Montserrat Caballé, José Carreras. A extraordinária dupla Margot Fonteyn-Rudolf Nureyev pisou este palco.

Mas se o teatro está ligado a algum nome é ao de Verdi, que aqui iniciou a sua carreira. Nabbuco (1842) foi a sua segunda ópera apresentada no alla Scala, garantindo-lhe um lugar no panteão dos compositores.

A história do rei babilónio Nabucodonosor, que invade Israel, ecoou fundo na alma dos italianos, numa altura em que o norte do país estava ocupado pelo trono austríaco. “Vai, pensamento, sobre asas douradas“, cantam os escravos hebreus no terceiro acto, como se cantassem a liberdade italiana.

Rigoletto, La Traviata, Macbeth, Don Carlo, Aida, Tristão e Isolda – as produções a que eu gostaria de ter assistido são tantas. Mas hoje, fico-me por uma humilde e muito mais barata visita ao museu do teatro, que permite vislumbrar o seu palco épico. O camarote está protegido por um vidro, que filtra as cores e os sons da orquestra (estão a ensaiar La cena delle beffe), pelo que ficamos muito quietos, a apreciar a música.As relíquias do museu merecem, de resto, uma visita por si só: ali repousa um dos pianos de Liszt, trajes e libretos de várias produções, salas dedicadas a grandes compositores ligados ao teatro…

Durante a visita, afáveis funcionários vêm avisar-nos que houve uma pausa nos ensaios e nós corremos novamente para os camarotes, entretanto livres das protecções, para devorarmos todos os pormenores: palco, tecto, decoração. Definitivamente, este é o lugar para se assistir a uma ópera ou a um ballet.

Um dia destes…

Site do Teatro alla Scala: aqui. | Bilhete para o Museu: 7€ /adulto.  | Gratuito para crianças até aos 12 anos