Atualizado em 12 Abril, 2021

Sabiam que 85% das palmeiras de Espanha estão concentradas numa cidadezinha da Costa Blanca? Com quase 300 mil exemplares, o palmeiral de Elche é tão antigo que se descobriram tâmaras fossilizadas…

Não estamos numa ilha tropical e, no entanto, centenas, milhares, de palmeiras ululantes oferecem-nos uma sombra generosa, especialmente agradável na hora da siesta, quando tudo se move mais lentamente em Espanha. Uma senhora de pedra dá-nos as boas-vindas ao Huerto do Cura, onde conheceremos algumas das palmeiras mais estranhas à face da terra.

Esta é apenas uma das muitas réplicas da Dama de Elche espalhadas pela cidade: um busto em calcário do século V a IV antes de Cristo. O original da escultura, encontrado em 1897, está actualmente no Museu Arqueológico Nacional de Madrid, para fúria dos ilicitanos, os habitantes de Elche, que clamam pelo seu regresso a casa.

As palmeiras rivalizam com a dama ibérica como símbolo da cidade: os fenícios trouxeram-nas há milhares de anos, os árabes desenharam os jardins e implementaram técnicas de irrigação, o rei Jaime I de Aragão ordenou a sua protecção em 1265 (uma das primeiras leis ecológicas da Península Ibérica) e a UNESCO elevou-as à categoria de Património da Humanidade.

Jaime I de Aragão, o protector do palmeiral de Elche
O Huerto del Cura tem ainda uma admirável colecção de cactos

A cidade de Elche, no sul da Comunidade Valenciana e a cerca de 20 km de Alicante, foi crescendo no meio dos huertos, como se chama a uma parcela de terra com palmeiras, numa simbiose admirável.

Hoje existem 95 pomares, sendo o Huerto do Cura um dos mais conhecidos. Vale a pena pagar bilhete para passear neste lugar tranquilo – Jardim Histórico-Artístico Nacional desde 1943 – e conhecer a palmeira imperial, assim baptizada em honra da bela austríaca Sissi, que visitou o lugar e ficou maravilhada com a sua singularidade.

O que tem a palmeira de tão especial? Hoje com uns veneráveis 165 anos e oito toneladas, a palmeira viu nascer sete braços quando era uma bela jovem de 30 anos, que foram crescendo desmesuradamente até formar o candelabro gigante que vemos na foto de abertura deste post…

Outras palmeiras ostentam um rótulo no tronco, indicando que foram dedicadas a personagens ilustres que visitaram o local, como a rainha Vitória Eugénia em 1912.  Estas jóias da botânica de Elche terão inspirado o poeta Miguel Hernández quando cantou:

cada uma das palmeiras 
disputa a solidão suprema dos ventos, 
a delicada glória da fruta 
e a supremacia da elegância dos movimentos 
na mais venturosa geografia.

O escasso volume de água do rio Vinalopó motivou a decoração das margens por artistas locais

Mas há mais palmeiras para nos espantar no palmeiral de Elche, muitas mais, nomeadamente no Parque Municipal, ao lado do posto de turismo. Ali encontramos outras preciosidades como o Tridente ou a Sentinela, com mais de 25 metros de altura, nome que recebeu graças a uma canção ilicitana que chama às palmeiras as sentinelas de Elche.

A dois passos fica a Basílica de Santa Maria, com a sua linda fachada barroca, construída no mesmo local onde outrora se erguia uma mesquita, derrubada depois da reconquista cristã. O templo é palco anual do Mistério de Elche, a única representação teatral realizada no interior de uma igreja ocidental, depois do Concílio de Trento proibir este tipo de manifestações (vídeos aqui).

Ao longo de oito horas e dois dias (14 e 15 de Agosto), o drama litúrgico conta a morte, assunção e coroação da Virgem, ao som de cantos medievais que seguem uma partitura do século XVII. O Mistério de Elche é antiquíssimo e foi igualmente distinguido pela UNESCO, como Património Imaterial da Humanidade.

Mas hoje não há festa, pelo que subimos tranquilamente à torre, de onde se tem uma vista fantástica sobre o rio Vinalopó (achei deliciosa a cadência do nome) e sobre o palmeiral de Elche. Já sabem, este não é um palmeiral qualquer. É, tão-somente, o maior da Europa.

Huerto del Cura: aqui | Todos os dias 10h-20h30 (Julho e Agosto) | Bilhete: 5€ adulto, 2,5€ criança (Agosto 2017)

Basílica de Santa Maria: todos os dias 7h00-13h00, 17h30-21h00 | Grátis. Subida à torre 2€ (adulto), grátis (até 5 anos)