Atualizado em 17 Fevereiro, 2021

A Virgem Peregrina, na sua curiosa igreja em forma de concha, espelha a tradição de hospitalidade da cidade, eternizada naquele ditado galego. Continuamos a explorar os tesouros do caminho português de Santiago

As ruas ainda fervilham dois dias após a Festa da Peregrina, a romaria em honra da padroeira da cidade que, com o seu chapéu e cajado de peregrina, representa também o caminho jacobeu português. Trazida por fiéis franceses, a imagem mora num templo barroco (séc. XVIII) em forma de vieira, a concha que se tornou o símbolo do caminho.

Mas esta aventura pelo casco vello de Pontevedra começa na Praça de Santa Maria, pela mão de Valentín, um dos mais notáveis guias que já tivemos o prazer de acompanhar até hoje.

O apaixonado galego conduz-nos logo à Basílica de Santa Maria (séc. XV), onde a imagem principal – um Cristo da Boa Viagem – passa a noite ao relento. Isto tem uma explicação muito simples: o templo foi financiado por marinheiros e, já se sabe, eles queriam rezar antes de enfrentarem a incerteza do mar a cada madrugada.

 

O município organiza visitas guiadas pela cidade ao longo de todo o Verão.
Pontevedra, no Caminho de Santiago

As curiosidades da igreja não se ficam por aqui. Na fachada existe um busto de Cristóvão Colombo que, somado ao seu sobrenome num dos altares, serve para sustentar a controversa teoria de que o navegador nasceu aqui. Aliás consta que a caravela Santa Maria, uma das três da sua primeira viagem à América, foi construída na cidade (recordem outra das caravelas da expedição).

Continuando por estas calles de pedra, a maioria pedonal (alegria!!), descobrimos outras jóias, em ouro (vale a pena conhecer a colecção de ourivesaria do Museu de Pontevedra), históricas e arquitectónicas, como as ruínas de Santo Domingo ou a Igreja de S. Bartolomeu com a sua virgem grávida.

As ruas abrem-se em múltiplas e pequenas praças, muitas delas mantendo o nome tradicional. Ao contrário de outras cidades espanholas, Pontevedra não tem um grande terreiro para onde todas as vias parecem convergir, mas sim várias praças pequenas, um sem-número de praças que convidam os habitantes a adoptarem a sua.

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A estátua recorda a passagem o romancista, poeta, actor e dramaturgo espanhol Ramón María del Valle-Inclán na cidade, em finais do século XIX.

 

O ambiente favorece o convívio na Praça da Ferraría e na Praça de Méndez Núñez, popularmente conhecida como Praza das Galiñas, por se fazer ali o mercado em tempos medievais, na Praça da Leña com as suas esplanadas ou na Praça da Verdura.

Acrescente-se à lista a Praza del Teucro, com as suas laranjeiras e casas brasonadas oitocentistas, que alude à origem mitológica da cidade. Reza a lenda que Pontevedra foi fundada por Teucro, um grego que viajou para Ocidente depois da Guerra de Troia.

Segundo Homero, na sua eterna Ilíada, Teucro foi um dos melhores arqueiros do exército grego. Na guerra de Troia, disparava as setas atrás do grande escudo do seu meio-irmão Ajax. Quando regressou a casa no fim da guerra, o seu pai desterrou-o por não ter vingado a morte do meio-irmão (que se suicidou), pelo que viajou em busca de um novo lar.

Pontevedra é mais do que uma paragem no caminho para Santiago de Compostela. Pontevedra é este usufruir das ruas, é as praças cheias de gente nas inúmeras festas ao longo do ano: a incontornável Festa da Peregrina, a Festa dos Maios, a Feira Franca na primeira semana de Setembro, ou o Festival de Jazz e Blues, durante o mês de Julho, com concertos gratuitos ao ar livre.

A cidade galega com mais ruas pedestres e espaços verdes por habitante recebeu, em 2014,  o prémio ONU-Habitat , no Dubai,  pela qualidade de vida e políticas de mobilidade urbana. No ano seguinte, Pontevedra foi distinguida com o prémio de excelência em Nova Iorque pelo Center for Active Design e, em Hong Kong, com o prémio Cidade de Mobilidade Inteligente Euro-China.

Localização: Pontevedra, capital da província e das Rias Baixas, usufrui de uma boa rede de infraestruturas que a liga aos principais centros urbanos vizinhos, nomeadamente a Autopista del Atlántico AP9 que atravessa a Galiza costeira. A partir de Madrid ou Barcelona, existe uma ligação diária de comboio. O aeroporto de Vigo fica a 30 km. De Portugal, chega-se à AP9 a partir da A3. A cidade fica a 172 km do Porto.

Visitas guiadasaqui

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