Atualizado em 15 Abril, 2021

Finalmente está pronta, a casa rosa que sonhei para a minha bela e amada Blanche. Não podia arrastá-la do seu mundo parisiense sem lhe dar tudo a que está habituada.

A nossa bela casa rosa é motivo de muita polémica, bem sei. Mas que sabem estes provincianos acerca de Modernidade? Porque haveria de querer uma casa estreita e sombria, igual a todas as outras no Porto? Prefiro mil vezes as de Biarritz, onde passamos férias, com as suas cores inusitadas e  as maravilhosas linhas Déco.

Consigo imaginar a minha noiva a dançar nestes salões altíssimos, de cor tão suave como o seu colo perfumado. A luz jorra, abundante, dos grandes janelões que rasgam as paredes e que se abrem para o nosso belo jardim geométrico.

Não poupei esforços nem dinheiro para criar este refúgio. Fazem ideia de quanto paguei ao Gréber? Que discurso eloquente declamei para o convencer a vir criar um jardim a Portugal? Ele, que fez tanto sucesso no Canadá e nos Estados Unidos, acedeu ao meu convite. Agora voltou para Paris, foi escolhido como arquitecto chefe da Exposition International, o que ainda enaltece mais este trabalho.

O Pedrinho e a prima no jardim francês que se abre perante a Casa rosa.

Quem conheceu a Quinta do Lordelo, a velha casa de férias dos meus pais, fica de queixo caído assim que atravessa o portão e se depara com a grande alameda de liquidâmbares. Os americanos chamam sweetgum a estas árvores magníficas, mas “liquidâmbar” é tão mais elegante. Mal posso esperar pelo Outono: as folhas vermelho fogo vão criar um tapete triunfal.

Nem todas as espécies foram fáceis de transportar – ai as sequóias gigantes e os cedros do Atlas! – mas o resultado faz tudo valer a pena. Agora sim, a propriedade é digna dos Condes de Vizela e a minha bela Blanche vai ser muito feliz aqui. Este lugar vai ficar na História.

A exposição de fotografia macro revela outra faceta dos jardins.

O monólogo acima poderia muito bem ter sido de Carlos Alberto Cabral (1895−1968), segundo Conde de Vizela e abastado industrial mas, na verdade, é somente fruto da minha imaginação exuberante. O post foi inspirado numa visita guiada aos Jardins de Serralves, no Porto.

A Casa de Serralves e o Jardim envolvente foram criados nos anos 30 do século passado pelo aristocrata nortenho para a sua noiva, a manequim parisiense Blanche Daubin, e romperam com os cânones  estéticos da altura.  O desenho que o conceituado arquitecto Jacques Gréber fez para o Jardim foi influenciado pelos jardins franceses dos séculos XVI e XVII, nomeadamente o de Versailles.

A Casa acabaria por ser vendida nos anos 50 ao Conde de Riba D’Ave, antes de chegar às mãos do Estado que aqui instalou um Museu de arte contemporânea (1996). Em 2012, todo o conjunto da Fundação de Serralves recebeu o estatuto de Monumento Nacional.

No Jardim podem encontrar-se espécies autóctones (como o teixo, que está em risco de extinção, o pinheiro bravo, o castanheiro e vários carvalhos) e exóticas (sequóias da Califórnia, liquidâmbares, cedros-do-Atlas, castanheiros da Índia, rododendros e camélias).

Site de Serralves aqui.  | Entrada gratuita no primeiro domingo de cada mês. | Dica: aproveite o resto do domingo para conhecer o centro histórico do Porto