Atualizado em 6 Janeiro, 2021

Um bispo africano, o casamento de Romeu e Julieta e uma obra-prima de Andrea Mantegna. São argumentos suficientes para espreitar a Basílica de San Zeno, em Verona?

Com tantas igrejas lindas no centro histórico, não entendi muito bem porque tantos viajantes insistiam em incluir a Basílica de S. Zeno (ou Zenão) no roteiro. Mas, depois de espreitar, junto-me ao coro. Vale a pena o desvio.

Só o facto de ali repousar o padroeiro de Verona seria motivo para aguçar a curiosidade. A cidade escolheu um santo africano, tal como Pádua adoptou o nosso Santo António. Há muitas lendas sobre este padre oriundo do norte de África, que conquistou fiéis com as suas pregações. Uns dizem que foi mártir, outros afirmam que expulsou demónios.

Uma lenda afirma que, no Inverno de 588, o rio Ádige causou cheias catastróficas. Mas que, milagrosamente, a água “não se atreveu” a entrar na igreja dedicada a San Zeno, mesmo com as portas abertas. A elegia poética “Versus de Verona” (escrita entre 781 e 810) afirma que Zeno foi o oitavo bispo da cidade.

Certo é que o seu dom de oratória atraía multidões, que 93 das suas homilias foram preservadas e ele é considerado santo pela Igreja Católica e pela Igreja Ortodoxa. Padroeiro dos pescadores, o bispo de Verona é quase sempre representado com peixes e canas de pescar, reflectindo um hobby ou simplesmente a sua fama de “pescador de homens”.

interior da basílica

portas de bronze da Basílica

Segredos da Basílica de San Zeno

Explicada a mística de San Zeno, vamos explorar a sua Basílica. Na verdade, existem duas igrejas neste local. Uma mais pequena, que se foi tornando insuficiente para as devoções populares. E a igreja maior, do século IX, construída e doada por Carlos Magno a seu filho Pepino, rei da Itália.

Depois de muitas obras, o templo ficou bastante destruído durante o terramoto de 1117, sofrendo mais alterações. A actual Basílica é uma obra dos séculos XII, XIII e XV. As portas de madeira escondem o primeiro segredo da Basílica. Umas monumentais portas de bronze que contam histórias.

Numa das vinhetas (parece mesmo uma banda desenhada), vê-se o santo a exorcizar a filha do imperador Galiano. Apesar de popular, a lenda é improvável, já que o reinado de Galiano terá terminado antes do bispo nascer. Outras vinhetas contam passagens da vida de Cristo.

Segundo segredo: a cripta. Shakespeare casou ali os enamorados Romeu e Julieta. A ficção empresta um colorido extra a esta cripta singela, em permanente evolução, onde está o corpo de San Zeno.

cripta com o corpo do santo
retábulo de San Zeno, de Andrea Mantegna

Subindo depois as escadas, iluminados pela luz da grande rosácea, passamos por uma escultura em mármore colorido de um San Zeno sorridente. Nunca tinha visto uma imagem católica tão feliz. Ao fundo da Capela Mor fica o terceiro segredo: o Retábulo de San Zeno (século XV). A obra-prima do renascentista Andrea Mantegna é tão linda, que Napoleão a levou consigo para Paris. Foi devolvida mais tarde, mas a parte inferior permanece no Louvre até hoje.

Com todos estes segredos e ainda um tranquilo claustro (vestígio do antigo mosteiro), o que espera para conhecer de perto a Basílica de San Zeno?

claustros da Basílica de San Zeno

Dicas úteis

Site da Basílica de San Zeno aqui | Horário: Março-Outubro 8h30-18h00, domingos e feriados 12h30-18h00; Novembro-Fevereiro 10h00-13h00 e 13h30-17h00, domingos e feriados 12h30-17h00 | Bilhete: 3€ (adulto), grátis até aos 18 anos. Ou pode optar pelo bilhete Chiesa di Verona (6€) que lhe garante entrada em quatro igrejas da cidade.

Coordenadas  GPS: 45°26’33.255″ N / 10°58’45.305″ E

Dica: é possível conhecer a Basílica sem pagar bilhete, assistindo à missa ou outro evento religioso, como a festa de San Zeno, que se celebra a 12 de Abril e 21 de Maio (esta última assinala a trasladação das suas relíquias).