Atualizado em 25 Maio, 2025
O Real Mosteiro de Santa Clara, onde Joana a Louca viveu e morreu, é a joia mais brilhante de Tordesilhas, Espanha. Conheça este património UNESCO de belos detalhes mudéjares
© Foto de entrada: Turismo de Espanha
As águas do Duero (o nosso Douro) correm ao lado de Tordesilhas, a pequena cidade castelhana prenhe de sussurros do passado. Sentada nas suas margens, quase consigo imaginar os gritos de uma rainha trancada durante mais de 40 anos.
Joana I de Castela chegou a Tordesilhas em março 1509 com o corpo do seu marido, Filipe o Belo. Rainha sem trono, estaria longe de imaginar que o seu cativeiro duraria até sua morte, em 1555. Onde é que Joana lamentou a sua solidão? No Real Mosteiro de Santa Clara, o mais importante monumento de Tordesilhas, a par das Casas do Tratado, onde Portugal e Espanha dividiram o mundo conhecido em 1494.
Foi neste local que o Tratado de Tordesilhas foi assinado, definindo uma divisão das terras conquistadas pelas coroas portuguesa e espanhola, mediante uma linha no oceano Atlântico, situada a 370 léguas a oeste do arquipélago de Cabo Verde.
Seguindo a rua das Casas do Tratado, paralelamente ao rio Douro, chegamos ao mosteiro. Na verdade, trata-se de um complexo que inclui o mosteiro de monjas clarissas e instalações do antigo palácio, além dos banhos árabes, parecidos aos de Córdoba e Granada.
Nós fizemos a visita guiada ao complexo museológico (não é possível visitar a maioria dos espaços de outra forma) e saímos encantados com os detalhes.
Um pouco de história
O Real Mosteiro de Santa Clara de Tordesilhas começou por ser um palácio árabe, conhecido como Pelea de Benimerín. Mandado construir pelo rei Afonso XI em 1340, serviu para comemorar a Batalha do Salado (contra os mouros) e foi financiado com os despojos de guerra.
A arquitetura mudéjar do palácio, que serviu de residência à favorita do rei (Leonor de Gusmão), prova o fascínio que os reis de Castela e Leão tinham pelo luxo e sofisticação dessa cultura. Artistas de Toledo foram contratados para a sua construção.
Mais tarde, Pedro I – filho de Alfonso XI – adaptou o edifício para aí residir a sua amante andaluza, acrescentando vários outros elementos de influência árabe. O mesmo rei cederia o espaço, em 1363, à sua filha Beatriz, para que o convertesse num convento.
Isso pressupôs novas obras e acrescentos. É o caso da igreja, de estilo gótico, cujo presbitério está coberto com uma rica cobertura mudéjar da segunda metade do XV.
Apesar de muitas alterações ao longo do tempo, o Real Mosteiro de Santa Clara de Tordesilhas conserva elementos importantes do palácio inicial: a entrada principal do palácio, o pátio de entrada ou Compasso; restos estruturais e decorativos de gesso nas abóbadas do claustro, e ainda a Capela Dourada, considerada um dos conjuntos góticos mais luxuosos da província de Valladolid.
Foi aqui que viveu a rainha Joana, mãe de Carlos V e filha dos reis católicos, depois de ser afastada do poder (quiçá a sua saúde mental serviu apenas de desculpa para as politiquices). Dizem que Joana adorava música, crê-se que o órgão que se vê no mosteiro lhe pertenceu.
A obra Juana la Loca: La cautiva de Tordesillas, do historiador Manuel Fernández Álvarez, é uma boa fonte de informação, para quem pretende saber mais sobre a vida melancólica daquela rainha.
A visita guiada ao Real Mosteiro de Santa Clara
Classificado como “bem de interesse cultural” em 1931, o complexo do mosteiro pode ser visitado apenas através de uma visita guiada. Até porque o mosteiro ainda funciona, as freiras até fazem biscoitos e vendem em horários determinados (não tivemos a sorte estar lá na hora certa).
As visitas guiadas, disponíveis apenas em espanhol, tanto quanto me lembro, começam às 10h00 e demoram cerca de uma hora, se incluírem os banhos árabes. A última visita da manhã inicia-se às 13h00. Durante a visita, que achei demasiado curta, vê-se a capela mudéjar, o pátio árabe, a capela dourada, o refeitório, o pátio El Vergel, o antecoro e coro, a Igreja e a capela Saldaña.
Alguns destes espaços foram musealizados, apresentando coleções de pintura religiosa, escultura e mobiliário. Destaque para um retábulo com pinturas atribuídas a Nicolás Francés (pintor que tem obras na National Gallery londrina e no Museu do Prado) e o magnífico teto dourado do presbitério.
Separados do mosteiro, encontram-se os banhos árabes, relacionados com os exemplos islâmicos da Andaluzia e do Levante do século XI, com salas para banhos, com água e vapor de temperatura regulada através do sistema de hipocausto, ou seja, fornos subterrâneos.
Dicas úteis para visitar o Mosteiro de Santa Clara
Como chegar a Tordesilhas
Localizada na província de Valladolid, nas margens do rio Douro, é possível chegar a Tordesilhas de transportes públicos a partir de Madrid, isto é, apanhando o comboio da capital espanhola até Valladolid e depois um autocarro até Tordesilhas.
Mas o mais fácil é mesmo alugar um carro. A cidade está rodeada de boas estradas, incluindo a autoestrada A-VI Madrid-Tordesillas.
Bilhetes para o mosteiro
É possível comprar os bilhetes para o mosteiro à chegada. Contudo, se preferir comprar as entradas antecipadamente, pode fazê-lo no site oficial. O preço do bilhete em 2025 era de 8€ por adulto.
A entrada é gratuita à quarta e quinta-feira à tarde para cidadãos da União Europeia e cidadãos latino-americanos, ambos com prova de nacionalidade ou autorização de trabalho. A entrada é igualmente gratuita para crianças com menos de 5 anos, famílias numerosas, guias turísticos oficiais, professores, visitantes com deficiência e desempregados (apresentando credenciais).
Horário do mosteiro
De terça a sábado: 10h-14h e 16h a 18h30. Domingos: 10h30 a 15h.
Alojamento em Tordesilhas
A pequena cidade de Tordesilhas tem uma oferta hoteleira limitada e simples. Os dois alojamentos com melhor avaliação no Booking são:
- Parador de Tordesillas (****), rodeado de um pinhal, dispõe de piscina e parque de estacionamento privado e gratuito.
- Hotel Torre de Sila (***), mais próximo do centro histórico e com quartos espaçosos.
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Um Comentário
Me sentindo meio ignorante aqui porque não sabia que Tordesilhas era um lugar (ou não me lembrava das aulas de História rsrs). Achei fascinante a mudança de função do castelo, de morada das amantes para um mosteiro religioso. E fiquei penalizada com a história da rainha Joana, presa por décadas – um bom exemplo que bastava declarar uma mulher como louca para afastá-la de qualquer poder de decisão.