Atualizado em 17 Dezembro, 2024
Entre a névoa das montanhas do Sri Lanka, colinas verdes e idílicas cascatas, Ella é um dos destinos mais atraentes da ilha em forma de lágrima.
A pequena cidade de Ella, no coração verdejante do Sri Lanka, é um destino obrigatório para os amantes da natureza e igualmente popular entre nómadas digitais e praticantes de yoga. Cercada por plantações de chá, montanhas semiescondidas pela neblina e cascatas exuberantes, Ella combina belas paisagens e uma atmosfera descontraída.
A simplicidade é o segredo do seu sucesso, enquanto destino turístico. Aqui, a herança colonial do Sri Lanka coexiste com a riqueza cultural cingalesa e tâmil. Aqui a natureza é generosa. Aqui é possível aprender a cozinhar a deliciosa cozinha local.
Da mítica Nine Arches Bridge, um ícone da engenharia colonial, ao serpentear no famoso comboio entre Kandy e Ella, do desafiador trilho até à Ella Rock, às extensas plantações de chá, sem esquecer os templos com Budas gigantes ou as impactantes cascatas, muitas das aventuras favoritas no Sri Lanka podem ser encontradas nesta região.
Em suma, Ella é um vilarejo encantador e descontraído, perfeito para relaxar, fazer caminhadas e escapar às temperaturas escaldantes da costa sul. Mas o seu encanto tem um preço: a outrora simples aldeia transformou-se numa importante paragem turística e, com maior popularidade e tamanho, surgiu alguma descaracterização no centro da povoação.
Ainda assim, a região permanece prenhe de encantos rurais e experiências incríveis, como poderá constatar ao longo do artigo.
O que fazer na região de Ella, Sri Lanka
Comboio Kandy-Ella
Esta é uma das viagens de comboio mais pitorescas do mundo, pelas suas paisagens [florestas enevoadas, plantações de chá verdejantes, cascatas e riachos, cidades coloridas e locais agitados], mas também pela experiência comunitária, sobretudo se optar pela terceira classe.
Para além de ser a opção mais barata, é a que permite sentar-se nas portas [com bom senso], vendo a paisagem como já não é possível nos comboios da Europa, e misturar-se com os amigáveis habitantes. As pessoas cumprimentam os estrangeiros invariavelmente com um sorriso, há miúdos a cantar, vendedores percorrem o comboio, oferecendo chá e snacks. Parece que toda a gente está feliz… o que é tão raro quanto até surreal, nos dias de hoje.
Devido à popularidade deste comboio entre os turistas, recomenda-se reservar o bilhete com antecedência, especialmente durante a época alta. Pode dirigir-se à bilheteira alguns dias antes, ou reservar através do site 12go.asia.
#Dica: Se não quiser fazer todo o percurso desde Kandy, que demora cerca de 8 horas, pode optar por começar a viagem na estação de Nanu Oya (aproveite para conhecer Nuwara Eliya, outra região de chá) para um percurso de 5 horas ou mesmo a partir de Demodara, a paragem imediatamente anterior à de Ella.
Nine Arches Bridge
Uma ponte que atrai uma multidão de turistas? Sim, e não estou a falar da que liga o Brooklyn a Manhattan. A impressionante ponte ferroviária construída pelos britânicos perto de Ella é um caso sério de sucesso turístico.
Cercada de floresta tropical e plantações de chá, a ponte ergue-se orgulhosamente sobre um vale a 91 metros de altura desde 1921. A Ponte dos Nove Arcos foi feita inteiramente em tijolo, rocha e cimento, sem qualquer metal na sua construção – um feito de engenharia naquela época.
Em certos dias, uma nuvem baixa paira sobre o vale, emprestando-lhe uma aura misteriosa. É especialmente encantador ver o comboio a passar pela ponte, mas isso exige alguma organização. Embora os horários dos comboios sejam pouco fiáveis no Sri Lanka, estes tendem a passar pela ponte em cinco horários: 9h30, 11h30, 15h30, 16h30 e 17h30.
Há muitos lugares com vista para a ponte, sendo o mais popular a partir da própria ponte e da plantação de chá abaixo (terreno privado, peça permissão). Nas colinas circundantes, existem também alguns miradouros, em pequenos cafés. A única dica é chegar cedo, pois a área enche rapidamente.
#Dica: para chegar à ponte prepare-se para uma caminhada de 10 ou 15 minutos, com algumas descidas acentuadas, nada aconselhadas a chinelos. Existem tuk tuks que fazem o trajeto, a preços para turistas. Nós optámos pelo tuk tuk apenas no regresso, para evitar a extenuante subida.
Little Adam’s Peak e outros trilhos
O trilho mais fácil nos arredores de Ella é conhecido como Little Adam’s Peak e oferece vistas panorâmicas de montanhas, vales e plantações de chá. A caminhada dura cerca de 30 a 45 minutos, dependendo da forma física, sendo de evitar o final da manhã, já que o percurso não oferece sombras.
Batizada em homenagem ao seu irmão mais velho (Adam’s Peak), de formato semelhante, mas muito mais alto, o início do trilho fica a cerca de 15 minutos do centro da vila de Ella. O começo da caminhada corresponde a terreno mais ou menos plano, para depois serpentear lenta e penosamente até ao topo.
Depois do esforço, pode contar com vistas de 360 graus para a gigante Ella Rock e Ella Gap, em direção ao Parque Nacional Udawalawe. No percurso, encontra o Flying Ravana Zipline e um clube com piscina que pareceu bastante agradável.
Ella Rock: o trilho que conduz à Ella Rock, com início junto da estação de comboios, é bem mais desafiador. Certifique-se que leva água e snacks, pois pode demorar 3-4 horas no total, mas as vistas espetaculares compensam o esforço.
Ravana e Diyaluma Falls
Uma das mais famosas quedas de água do Sri Lanka fica a uma curta viagem de Ella: as cascatas de Ravana ficam particularmente impressionantes durante a estação das chuvas. A sua popularidade está também ligada à facilidade de acesso, já que é visível na estrada que segue para sul em direção a Wellawaya.
O seu nome está ligado a uma lenda que diz que o rei Ravana raptou a princesa Sita e a escondeu no segredo das grutas atrás da cascata, para se vingar do marido dela. Hoje a cascata de 25 metros está bem visível para qualquer transeunte incauto.
Um trilho à direita da cascata permite chegar ao topo, mas exige muita precaução e só deve ser percorrido durante os meses de seca, de preferência com a ajuda de um guia local. O caudal das águas desaconselha a aventura durante os meses chuvosos.
Recomenda-se visitar de manhã cedo ou ao final da tarde, para evitar os horários mais movimentados, e experimentar um king coconut (um clássico) ou milho cozido, oferecidos pelos vários vendedores ambulantes, ao preço da chuva. Tenha atenção aos macacos, que podem ser bem atrevidos e (caso não saiba) podem ser portadores de raiva.
Diyaluma Falls: esta cascata (segunda mais alta do país) está um pouco fora dos roteiros porque fica a cerca de 40 km de Ella e exige uma caminhada, mas oferece vistas épicas e piscinas naturais. Para lá chegar, apanhe um tuk-tuk até à pequena aldeia de Poonagala e depois caminhe cerca de 30 minutos, até ter o primeiro vislumbre das cataratas superiores de Diyaluma.
Plantações de chá
Sabia que o chá do Sri Lanka é um dos melhores do mundo devido à altitude a que é cultivado? Ou que os arbustos de chá cobrem 25% da superfície do Sri Lanka? Pois é, os ingleses trouxeram a planta e hoje o país é o quarto maior produtor mundial.
Na região de Ella é possível visitar uma das muitas plantações e fábricas de chá, aprendendo sobre o processo de produção e degustando chás locais famosos à escala planetária. Nós visitámos a Halpé Tea, uma plantação que nasceu em 1971, quando o fundador adquiriu a propriedade a um cidadão britânico.
A empresa familiar é responsável por um dos melhores chás do Ceilão, para além de abrir as suas portas aos turistas curiosos. Para além do tour ser muito divertido e didático – a D. Maria e o Sr. Salay, a dupla de septuagenários que nos acompanhou, foi muito amável – ficámos a saber que eles só usam folhas de chá de plantações próprias e dispensam intermediários, para que o chá chegue sempre fresco e com a melhor qualidade.
Para além de certificada como produtora de agricultura biológica, a Halpé Tea tem várias distinções como o de fair trade e ethical tea partnership, bem como o logótipo do Leão, símbolo de qualidade atribuído pelo Ceylon Tea Board, o organismo máximo que regula a indústria do chá no país.
Lipton Seat: o nome Lipton é sinónimo de chá. Perto de Ella fica o famoso miradouro Lipton Seat, onde o empresário e magnata do chá, Sir Thomas Lipton, costumava contemplar a sua vasta plantação, com uma chávena de chá na mão. Também é possível visitar esta plantação.
Ravana Cave e Templo
A cerca de dois quilómetros da cidade de Ella, esta gruta histórica ligada à lenda de Ravana, uma figura da mitologia hindu, é pequena, mas interessante. Aparentemente, a caverna fazia parte de uma rede de túneis com ligação à cascata de Ravana, onde se diz que o rei Ravana escondeu Sita, a bela princesa indiana. O fulano tem cá uma fama…
Já o caminho até lá é íngreme e sofrido, com centenas e centenas de degraus (li algures que são 650, mas não os contei pois estava demasiado ocupada a respirar) e, em alguns trechos, com meros pedregulhos e pouco ou nenhum apoio.
Os últimos metros são os mais difíceis: não recomendo a subida a idosos, crianças pequenas ou pessoas com limitações de locomoção. A entrada fica junto de um templo, que gere o acesso e cobra os bilhetes. Também é possível visitar o singelo templo, com o seu grande Buda deitado, mas infelizmente estava fechado aquando da nossa visita.
Templos budistas: há vários templos nos arredores de Ella, sendo o sereno Dhowa Rock Temple um dos mais significativos. O mais recente templo budista da região fica em Bandarawela e dediquei-lhe um artigo específico. Leia Mahamevnawa, o reluzente templo budista
Dicas úteis para visitar Ella
Quando visitar
Devido à altitude de Ella Sri Lanka (superior a 1000 metros), e à sua posição no extremo sudeste da província de Uva, a temperatura média varia pouco ao longo do ano, mantendo-se bastante fresca durante a noite.
A estação das chuvas ocorre entre setembro e dezembro, embora haja uma grande probabilidade de ocorrência de chuvas a partir de abril. A época seca vai de janeiro a maio, quando as temperaturas são também um pouco mais altas, mas isso significa também mais turistas. Visitámos a região no início de novembro e tivemos tempo húmido, com chuvadas quase diárias, da parte da tarde.
Como chegar
Apesar de parecer um mundo distante da costa sul do Sri Lanka, Ella fica apenas a 200 km de Colombo, o que se traduz numa viagem de 10 horas de comboio (a mundialmente famosa viagem de comboio de Kandy a Ella) ou 7-8 árduas horas de autocarro desde a estação rodoviária de Pettah, em Colombo. O autocarro segue para Bandarawela, onde deve trocar para outro ou fazer a parte final de tuk tuk.
#Curiosidade: o nome de Ella em cingalês significa, literalmente, “queda de água”. Bem apropriado.
Onde comer em Ella
Restaurantes como o Cafe Chill, mesmo no centro da vila, são populares pela comida local e internacional e pela vibe, que lembra a de Bali. O Matey Hut também é apreciado e serve uma deliciosa variedade de arroz e caril autênticos.
Depois de muitos dias a arroz, dahl e caril, decidimos lançarmo-nos numa pizza no restaurante The Barn, onde comemos muito bem. O lugar tem música ao vivo, em várias noites da semana e o ambiente é muito cool.
Alojamento em Ella
Há uma infinidade de opções de alojamento em Ella, incluindo hotéis ecológicos luxuosos na floresta, hostels e uma série de hotéis e pousadas económicos e de gama média adequados a qualquer orçamento e tipo de viajante.
Um hotel que recomendo na região é o EKHO Ella (****), pela linda paisagem do jardim, pela localização e serviço primoroso, ou em alternativa o BBQ HUB Ella (****), com opções de quartos familiares.
Nota: esta viagem foi realizada a convite do Sri Lanka Tourism Board, no âmbito da sua campanha de bloggers e influencers globais. Como sempre, as opiniões são pessoais e completamente honestas.