Atualizado em 10 Maio, 2022
No sul do Egipto, próximo à fronteira com o Sudão — antiga Núbia — e junto ao Nilo, fica um dos mais belos templos de sempre. O de Abu Simbel
O Egipto foi um dos destinos que me alimentou sonhos desde que me lembro como gente. Tudo nele fascina: a história milenar, a riqueza da sua cultura, da arquitectura, as paisagens, o mistério que cobre tudo como uma fina camada de areia…
Quando finalmente viajei até lá, numa doce lua-de-mel em 2006, não me decepcionou como muitas vezes acontece quando os sonhos são longos e as expectativas altas.
Vivi muitos momentos mágicos. Na floresta de colunas do templo de Luxor que ficou sem cores graças a um italiano louco; sentindo os cheiros das especiarias vendidas na rua e deambulando pelos labirintos do famoso bazar de Khan el Khalili. Entre eles, há um lugar que nunca esquecerei. Abu Simbel.
Confesso que a viagem de autocarro desde Assuão até àquele sítio arqueológico classificado pela UNESCO como património da humanidade me venceu. Dormi durante os quase 100 quilómetros, em linha recta, que atravessam o deserto. O que vi, quando despertei em pleno território núbio, apanhou-me desprevenida.
Desprevenida sim. O Egipto é tão rico em património, que este se amontoa nos cantos do Museu do Cairo, os visitantes tocam nas peças, sentam-se nelas, tratam-nas por “tu”. Mas Abu Simbel inspira uma reverência muda, este é um lugar sagrado e esmagador. E não uso os adjectivos em vão. Aos pés dos colossos sentados de Ramsés II (com 21 metros de altura), sentimo-nos ínfimos. Percebemos por que os templos foram colocados ali na fronteira. É como se os deuses estivessem a guardar as portas do Egipto.
Um terremoto fez ruir uma das sentinelas do templo maior. Ao lado, existe um mais pequeno e delicado (as esculturas medem “apenas” 10 metros), igualmente escavado na rocha, que o faraó construiu para a esposa favorita, Nefertari. A ela e à deusa Hathor foi consagrado o templo, um gesto de amor de um marido não muito dedicado e não muito fiel. Ao seu lado, o imponente edifício dedicado ao próprio Ramsés II e aos deuses Amon-Rá e Ré-Horakhti.
A habilidade de construção dos antigos é, neste caso particular, desafiada pela arte da engenharia moderna. Na década de sessenta, para fazer face à subida das águas provocada pela barragem de Assuão, os templos foram cortados da montanha e transportados 60 metros acima da sua posição original.
Alheios a esta temerária operação, os colossos mantêm o olhar no horizonte, procurando intrusos que ameacem a grandeza desta terra mítica onde, um dia, os deuses caminharam entre os homens.
11 Comentários
Consegui viajar até lá com este post! Obrigada!:)
Bjs!
http://hiimab.blogspot.com
Obrigada minha querida. Sê muito bem-vinda!
Adorei o texto. Faz-nos viajar nas tuas palavras e quase ouvimos o vento a passar pelos grãos de areia do deserto.
Parabéns!
Estou a redescobrir o prazer da escrita… e A Árvore dos Livros foi uma inspiração. Sou fã incondicional
Lindo, maravilhoso… Parabéns Ruthia, ficou muito lindo o blog. Estou morrendo de saudades!!! Um grande beijo a todos :):):)
Oi galerinha do Brasil e obrigada. O meu blog é muito chique, ainda agora nasceu e já se tornou internacional 🙂 Mil beijos para todos vocês
Fazes falta ao Jornalismo, é só isso que tenho para te dizer! 🙂
Não sabes como me deixas emocionada. Quem sabe me decido um dia a mudar para a grande cidade, e aí vou bater-te à porta a pedir trabalho na tua redação… Beijo
Acabei de descobrir este fantástico blog. Adoro viajar e revi-me tanto, mas tanto, nestas suas palavras que não imagina! Desde adolescente que sonhava conhecer o Egipto (ainda escrevo com p) e não me defraudou em nada. Adorei o museu do Cairo (onde confesso me fez imensa impressão o facto de toda a gente mexer nos sarcófagos, nas estátuas – quando no museu britânico toquei ao de leve num sarcófrago na ala egipcia e um polícia veio imediatamente ralhar-me. Abul Simbel é de cortar a respiração, ao chegar com o nascer do sol, depois da viagem de madrugada.Senti-me mínima junto daquela grandiosidade! E os vendedores junto dos barcos de cruzeiro, quando esperamos a passagem pela barragem, tão fantástico.As pirãmides – como foi possivel construí-las! Desculpe-me este post mas o entusiamso é enorme. Enfim costumo dizer que é um país onde se dá um pontapé na terra e se descobre um achaco arqueológico! marília
Marília,
Não peça desculpa por um comentário bem recheado. Adoro gente faladora, que sabe saborear um bom texto em vez de "ler na diagonal", que termina cada viagem mais rico e mais sábio.
Boa lembrança a dos vendedores tipo enxame a rodearem os cruzeiros perto da comporta. Fui apanhada desprevenida e levei com um saco de plástico na cabeça… 🙂 Trouxe-me boas recordações, acho que ainda faço um outro post sobre o Egito.
Agradeço, do fundo do coração, o seu comentário tão amável e entusiástico e espero "vê-la" sempre neste meu cantinho.
Abraço
[…] pedra, com auxílio da UNESCO, para não ficar submerso com a construção da barragem de Assuão. [Abu Simbel – deuses caminham entre os homens]. Acho que este foi o meu lugar preferido em todo o […]