Atualizado em 11 Março, 2021

O Templo de Karnak é o maior santuário dedicado a Amon-Rá do Egipto. Vamos conhecê-lo?

As areias do deserto ardem ali perto, mas o Nilo apazigua a paisagem da antiga Tebas, junto ao magnífico Templo de Karnak. Vamos descer o maior rio do mundo, para descobrir uma das civilizações mais fascinantes que alguma vez existiu.

A poucos dias de comemorar o meu aniversário de casamento, recordo com saudade a viagem de núpcias ao Egipto. Estas datas deixam-me nostálgica! Foi num clima de absoluta e patética felicidade que voámos até Luxor, que um dia foi capital do país, sob um outro nome: Tebas.

À nossa espera está Farouk, o guia que arranha português, para nos conduzir ao Cruzeiro Nilo Carnival. Manda a tradição, ou pelo menos o romantismo, que se desça o Nilo de barco, seguindo as pegadas de Agatha Christie. Mas o cruzeiro fluvial permanece ainda uns dias ancorado em Luxor, para visitarmos todas as suas riquezas.

O Templo de Karnak é o nosso primeiro destino. Há muito que ansiava por este momento. Na verdade, trata-se de um complexo com vários monumentos grandiosos (o mais importante o santuário dedicado a Amon-Rá). Integra o sítio Tebas Antiga, que a UNESCO honrou com o título de Património Mundial. Demorou quase 2000 anos a ser concluído, porque cada faraó quis fazer alterações, acrescentos e novas construções.

Farouk e a sua t-shirt com as cores da bandeira portuguesa.

O complexo é tão gigantesco, que parece impossível ter estado enterrado na areia durante mais de mil anos. E os soldados de Napoleão pisaram este chão, sem imaginar a riqueza que jazia debaixo dos seus pés…

O tempo suavizou a minha recordação do Templo de Karnak mas nada, mesmo nada, me faria olvidar da célebre Sala Hipóstila (significa “sustentada por colunas”) que inspirou a construção da Catedral Notre Dame em Paris.

O guia usou a metáfora perfeita ao chamar-lhe “floresta”. As 134 colunas gigantes, dispostas em 16 filas, parecem uma floresta de sequóias de pedra, com mais de 21 metros de altura, perfeitamente alinhadas.

Seriam precisos 11 homens altos para chegar ao topo das colunas, e outros 5 ou 6 homens, igualmente grandes e de braços estendidos, para rodear cada uma.

Absorvida toda aquela majestade, os olhos prendem-se aos pormenores: cada centímetro está ornamentado com gravuras e inscrições. As cores já estão bastante esbatidas, graças ao italiano louco que, no século XVI, inundou a sala para a limpar. Mas no tecto, onde as colunas se unem, ainda se pode apreciar a arte dos antigos da antiga Tebas.

A bênção de Amon-Rá

Bem no interior do Templo de Karnak, fica o lago sagrado, onde um dia os sacerdotes se banharam nos seus rituais. Numa das margens, salta à vista um enorme escaravelho de granito, símbolo do renascimento do deus-sol, em cada manhã.

Pergunto a Farouk o que fazem várias mulheres junto do insecto. Parece que algumas murmuram qualquer coisa. “Quem fizer um pedido e der sete voltas ao escaravelho, recebe a bênção do deus Rá que ainda realiza o seu desejo”, foi a resposta do guia, que interpelou uma das mulheres, ficando a saber que esta pedia um filho.

Isto só prova que há superstições em todos os cantos do mundo, mesmo num país convertido ao islamismo há 12 séculos e que condena estas crendices. Por via das dúvidas, eu e outras portuguesas juntámo-nos à comitiva e, posso acrescentar, o meu desejo concretizou-se!

O escaravelho das superstições egípcias.

Um obelisco esguio em granito rosa, esculpido nas pedreiras de Assuão, domina outro pátio. Trata-se de um memorial à rainha Hatshepsut, uma das poucas mulheres-faraó da história do Egipto.

Mais tarde, Thotmus III mandaria construir um muro alto para esconder o monumento da “usurpadora” do trono. Resultado: o muro protegeu o obelisco, mantendo-o intacto até hoje. Revolve-te no túmulo, faraó idiota!

Resta-nos uma paragem no imponente Templo de Luxor, antes de regressarmos ao suave balançar do cruzeiro para uma boa noite de sono. Destino de amanhã: Vale dos Reis. Aguardem mais uma evocação agridoce.

Nota para a foto de entrada: Resta apenas um obelisco junto às estátuas de Ramsés II, no Templo de Luxor. O par viajou até à Praça da Concórdia, em Paris.