Atualizado em 16 Abril, 2021

Loulé fica em pleno barrocal algarvio, entre o litoral e a serra. A Quinta do Lago, o Vale do Lobo e Vilamoura, destinos de férias internacionalmente conhecidos como “Triângulo Dourado”, fazem parte do concelho.  É também a terra de Duarte Pacheco

Sim, estou a falar do Engº Duarte Pacheco. Não me lapidem por suprimir o grau ao senhor (os portugueses são muito agarrados a rótulos académicos). Neste caso, o engenheiro acoplou-se de tal forma ao nome, que muitos ficam confusos sobre a identidade da personagem, se retirarem o título.

Aos amigos estrangeiros, esclareça-se que Duarte José Pacheco foi ministro das Obras Públicas e Comunicações no governo de Salazar. Apesar de ser uma figura da ditadura, o seu trabalho garantiu-lhe o reconhecimento popular.

O “Marquês de Pombal do século XX” modernizou os serviços de correios, revolucionou o sistema rodoviário do país. Foi também o responsável por várias obras emblemáticas como o Estádio Nacional do Jamor, o Parque de Monsanto, a Fonte Luminosa e a Avenida de Roma, em Lisboa.

Este visionário contribuiu ainda para a construção do aeroporto de Lisboa e encomendou o primeiro plano para uma ponte sobre o Tejo. Mais. Foi o responsável máximo da Exposição do Mundo Português de 1940 (acumulava funções como ministro e Presidente da Câmara da capital), mega-evento só superado pela Expo 98.

escultura nas ruas de Loulé

Breve roteiro em Loulé

Podemos encontrar ruas e avenidas com o seu nome um pouco por todo o país. Em Loulé, a sua cidade natal a cerca de 20 km de Faro, para além de uma rua e de uma escola, ergueram-lhe um monumento e criaram uma Casa Memória, no edifício onde nasceu.

Este passeio começa precisamente junto ao monumento em sua honra, onde é fácil encontrar estacionamento, ainda que pago. A melhor forma de descobrir uma cidade é a pé, certo? O dito monumento parece incompleto, simbolizando a obra inacabada do estadista que morreu novo, e está emoldurado por uma frase do ditador seu amigo.

Uma vida velozmente vivida e inteiramente consagrada ao progresso pátrio.

Descemos a avenida, rumo ao Mercado municipal. Os mercados são sempre lugares muito animados mas este. Bem, este é realmente especial. O edifício, do início do século XX e inspiração neo-árabe, é lindo de todos os ângulos. Alguém conhece outro mercado de peixe e hortaliças tão belo?

Demoramos por ali, ouvindo os pregões e o burburinho das pessoas perante bancas fartas, com o belo peixe do Algarve, os seus frutos, licores e doces. Não resistimos a uma fatia de bolo de mel e nozes, que vamos saborear num banco de jardim, em frente à tal Casa Memória de Duarte Pacheco. Dizem que ali projectou várias obras mas, infelizmente, a exposição está fechada devido a obras.

Casa Museu de Duarte Pacheco em Loulé

Um pouco adiante, espreitamos o claustro do Convento do Espírito Santo, onde funciona o Instituto Superior D. Afonso III – adoro quando aproveitam bem os edifícios históricos – e seguimos para a Rua 5 de Outubro, para explorar as lojinhas de artesanato com os seus pratos coloridos.

Neste trajecto, tropeçamos na estátua de António Aleixo junto ao histórico bar Calcinha, muito frequentado pelo poeta-cauteleiro (vendia cautelas da lotaria e era quase analfabeto). O querido poeta do povo viveu e morreu em Loulé. Aliás, o concelho foi berço de vários nomes ilustres, a saber, o anterior Presidente da República (Cavaco Silva) e a escritora Lídia Jorge, recentemente considerada uma das “10 grandes vozes da literatura estrangeira” pela francesa Le Magazine Littéraire.

castelo de Loulé

A manhã quase se fina nas nossas mãos, enquanto fotografo as muralhas do castelo. Escondemo-nos do calor no Jardim dos Amuados, tão pertinho da Igreja Matriz de Loulé! Uma placa explica que o nome do jardim tem raízes populares: o povo achou graça ao facto dos bancos estarem agrupados aos pares, costas com costas.

O jardineiro responsável pelo espaço, meia idade, muito pronto a partilhar a sua filosofia de bolso com os turistas, acha que o Jardim dos Amuados se chama assim porque os casais de namorados podem chegar zangados mas saem de mãos dadas, pazes feitas e assunto arrumado.

E com esta lição nos despedimos, porque é hora do almoço. Espetada de salmão e gambas na despretensiosa Churrasqueira Angolana. Recomendo!