Atualizado em 6 Janeiro, 2021

A maternidade foi a melhor experiência da minha vida. Não é uma epifania por aí além, aposto que aconteceu a muitas das minhas leitoras. Está quase a fazer seis anos que conheci o meu pequeno parceiro de aventuras.

O Pedro chegou uns dias depois do previsto, como dizem que acontece quando a mãe já está preparada para receber o bebé. Falava-lhe frequentemente, estava muito ansiosa por o conhecer e fartíssima de estar grávida. Mas nada o convencia. Estaria muito confortável no seu casulo ou seria um Inverno particularmente frio: apesar de não ter sido concebido nos trópicos, como a mãe, deve ter herdado umas partículas de sol no ADN.

Ele foi o bebé mais doce que se pode imaginar. Sossegado, sorridente, curioso, com os maiores olhos do mundo. Lembro-me de ele abrir desmesuradamente aqueles olhos doces e eu só ver o gato do Shrek, sendo incapaz de lhe ralhar por alguma travessura.

Alicante, Espanha (2006).

Serra da Estrela, Portugal (2012).

Desde cedo que o incluí nas minhas deambulações, primeiro de carro, depois de avião, porque acredito que viajar lhe abre horizontes para um futuro risonho, que o vai transformar numa pessoa mais tolerante e sensível à diversidade. Porque é tão importante ensinar-lhe que vivemos num planeta maravilhoso, como incutir-lhe hábitos de higiene. Porque é fundamental mostrar-lhe que há meninos que vivem com um décimo do que ele tem, e são igualmente felizes.

Hoje, o passaporte do Pedrocas conta já com meia dúzia de viagens intercontinentais, para além de outras tantas mais pequenas, trata os aeroportos por tu, carrega o seu pequeno troley do Faísca McQueen, adora mapas, visitou dezenas de castelos e museus (e os seus desenhos revelam bem estas aventuras), fez amigos em várias línguas. O sorriso é mesmo a mais universal das línguas.

Salamanca, Espanha (2012)

Brodowski, SP, Brasil (2010).

Sabe apontar, no mapa-mundo, onde fica Portugal, Itália, Brasil, Estados Unidos, Madagáscar, Austrália (que exerce sobre ele um fascínio enorme, vá-se lá saber porquê) e Angola, para onde o pai vai trabalhar em breve. Faz perguntas sobre o que se come, que língua se fala, se faz frio ou calor, e quando vamos conhecer cada novo país de que ouve falar. Em suma, acho que já foi mordido pelo bichinho da vagabundagem, como eu.

Cada viagem em família é mais do que um carimbo no passaporte: são recordações que construímos juntos, que aquecem o coração quando a família se separa temporariamente, por razões profissionais. Apesar de necessárias, essas separações deixam marcas, inevitavelmente. O pai está a perder momentos que nunca mais se repetirão. Mas esta é uma das características deste mundo global: já ninguém cresce, trabalha e envelhece no lugar onde nasceu.

Roma, Itália (2013).

A única certeza que podemos dar ao Pedro é que ele é amado incondicionalmente. Que onde a mamã estiver, ele estará também. E que o pai se juntará a nós sempre que possível. Mas a próxima aventura será vivida a dois e, por isso, será incompleta.

P.S. Perdoem o exagero assumido de uma mãe muito galinha