Atualizado em 23 Abril, 2021

O que é que Winston Churchill, a austríaca Sissi, o bola de ouro Cristiano Ronaldo e o aventureiro Cristóvão Colombo têm em comum? A paixão pela ilha da Madeira, claro.

A bela imperatriz austríaca escondeu-se ali do mundo durante meio ano, para recuperar da morte da filha e da indiferença do marido, sob o pretexto da sua débil saúde (ok, ok, a senhora sofria de tuberculose). Voltou à Madeira novamente, adorava ver os barcos zarparem desde o Funchal e visitar a pequena igreja dos Milagres, em Machico.

Cristóvão Colombo encontrou o amor da sua vida na ilha da Madeira. Terá ainda usufruído da rica biblioteca do sogro Bartolomeu Perestrelo, capitão da ilha de Porto Santo, repleta de mapas e textos sobre a arte de marear.

O primeiro-ministro britânico chegou de navio por volta de 1950, para recuperar de uma gripe, passeou-se num belo Rolls Royce emprestado, montou o seu cavalete em Câmara de Lobos e ali ficou vários dias, simplesmente a pintar a paisagem animada por grandes leões-marinhos, de charuto na boca. Hoje os portentosos animais refugiaram-se nas ilhas desertas, longe da azáfama humana.

recantos da ilha da Madeira
Câmara de Lobos, que inspirou Winston Churchill, e Sissi junto ao Casino Park Hotel. Aqui ficava a quinta onde a imperatriz passava férias.

Como toda a gente sabe, o atleta do Real Madrid nasceu aqui e, apesar do seu estatuto de estrela intergaláctica, não renega as suas raízes insulares. É disso prova o Museu CR7 no Funchal, que inaugurou com toda a família e onde depositou centenas de prémios e troféus. Incluindo as duas bolas e duas botas de ouro.

Também eu me rendi à pérola do Atlântico, ainda que uma ligeira tristeza me invadisse perante o grau de urbanização que encontrei.

Bem sei que é arrogância esperar que uma ilha tão bela, tão largamente promovida junto dos turistas, permanecesse intocada desde que Zarco, Vaz Teixeira e Perestrelo a descobriram, no século XV. Mas a verdade é que não a esperava tão moderna, tão amplamente rasgada por túneis e vias rápidas, com a frente marítima em permanente (re)construção, o trânsito intenso e o aeroporto roubado ao mar.

Só quando saímos do Funchal descobrimos a verdadeira beleza insular, as paisagens maravilhosas e os contrastes. E também as casinhas típicas da Madeira, que parecem feitas para bonecas, e a floresta de laurissilva classificada pela Unesco. Ah, como me consola saber que este cantinho que resta de floresta endémica está protegido, sendo proibido arrancar uma simples folha de loureiro.

Funchal de funcho

Antes de me aventurar pelas estradas sinuosas, exploremos o Funchal, a capital da Madeira. Encastrado num grande anfiteatro natural de frente para o Atlântico, mas já sem o funcho que lhe deu o nome, fica numa costa soalheira com imensas bananeiras.

Com a sua Sé austera, as esplanadas que se multiplicam, o Jardim Municipal, os táxis amarelos e azuis, inspirados nas cores da bandeira, a cidade não deixa de ser charmosa e florida.

O meu pequeno explorador ficou preso a um espectáculo de rua (despejando os trocos do meu porta-moedas), conheceu a antiga águia do Benfica, fez como habitualmente muitas perguntas e pediu gelado, feliz por deixar o continente chuvoso para trás.

Eu tomei um aromático chá, soberbamente acompanhado por um scone com doce de maracujá. E palmilhei, palmilhei, palmilhei enquanto o Pedrinho conseguiu acompanhar-me.

As deambulações levaram-nos para longe do centro, onde a estátua de Zarco olha de cima os turistas e ilhéus. Como as obras interrompem o passeio do Lido, rumamos ao Parque de Santa Catarina, parando uns minutos a olhar o porto do Funchal onde diariamente chegam os cruzeiros gigantes.

O nosso destino é o museu do CR7, após muita insistência do Pedrinho, que está numa idade em que respira futebol. Mas ainda demoramos a chegar lá, porque ele encontra parceiros de bola neste belo e cheiroso jardim!

Ah, como as crianças são descomplicadas – uma bola basta, não é preciso nomes ou qualquer outra informação para brincarem juntos. Parece que o jogo vai demorar pelo que vos deixo, prometendo mais posts sobre a encantadora ilha da Madeira.

Museu CR7: site | Bilhete:  5€ (adulto), gratuito para as crianças. Comprei ali uma bola, vazia para mais facilmente a transportar no avião, e chegando a casa foi o drama total – a bola está furada.