Atualizado em 16 Abril, 2021

Muita gente entrou em “modo templário”, se tem o Canal História em casa, por causa da recém-estreada série sobre a Ordem do Templo. Fomos explorar um dos seus lugares: o Castelo de Almourol

Confesso que sou afectada por toda a aura de mistério que envolve aquele poderoso movimento de cavalaria. Por causa da sua natureza dupla, eram religiosos mas também guerreiros, e da sua influência sobre os poderosos do seu tempo. Por causa ainda da sua sede magnífica (o Templo de Salomão, em Jerusalém) e, claro, o seu fim abrupto e sangrento.

Durante a visita relâmpago à Barquinha festejámos o Dia da Criança, comemos bolo, falámos (sem surpresas) de livros, pusemos muita conversa em dia. Mas arranjou-se o bocadinho necessário para revisitar o Castelo de Almourol, uma das “casas” dos enigmáticos guerreiros.

Viviam-se os dias turbulentos da reconquista cristã, quando D. Afonso Henriques lhes entregou as chaves de um castelo plantado numa pequena ilha no Tejo. Tantos séculos volvidos, é irónico que continue nas mãos dos militares (Escola Prática de Engenharia de Tancos)…

castelo

Como tantos outros lugares que passaram pelo domínio árabe, abundam as lendas sobre esta Al-morolan (pedra alta). Não resisto a partilhar uma das minhas preferidas.

“Nos primeiros tempos da Reconquista, D. Ramiro, um cavaleiro cristão, regressava orgulhoso de combates contra os muçulmanos quando encontrou duas mouras, mãe e filha. Trazia a jovem uma bilha de água, que, assustada, deixou cair quando lhe pediu de beber rudemente o cavaleiro. Enfurecido, acabava de tirar a vida às duas mulheres quando surgiu um jovem mouro, filho e irmão das vítimas, logo aprisionado. D. Ramiro levou o cativo para o seu castelo, onde vivia com a própria esposa e filha, as quais o prisioneiro logo planeou assassinar em represália. Entretanto, se à mãe passou a ministrar um veneno de acção lenta, acabou por se apaixonar pela filha (…)

Correspondido pela jovem, que entretanto tomara conhecimento dos planos do pai, os apaixonados deixaram o castelo e desapareceram para sempre. Reza a lenda que, nas noites de São João, o casal pode ser visto abraçado no alto da torre de menagem e, a seus pés, implorando perdão, o cruel D. Ramiro”.

O Castelo de Almourol, um dos mais belos de Portugal, está a ser restaurado. Se as ambições locais se concretizarem, as suas margens serão embelezadas e unir-se-ão ao Parque de Esculturas Contemporâneas da Barquinha, onde o pequeno explorador se divertiu num Dia da Criança memorável.

escultura junto ao rio
© barquinhaearte.pt – “Rotter”, de Cristina Ataíde

Parque de Esculturas de V. N. da Barquinha

O Parque foi inaugurado por Cavaco Silva no Verão de 2012, sob fortes medidas de segurança, por causa dos cidadãos que ali se juntaram para apupar o Presidente e a primeira dama. O espaço já era fantástico, sete hectares de tranquilidade e sombras, embalados pela canção do rio e pelo grasnar dos patos. Depois, vieram as esculturas, 11 peças no total, assinadas por alguns dos artistas portugueses mais conceituados.

Entre eles, consta a Joana Vasconcelos – sim, aquela que levou um lustre gigante feito de tampões à bienal de Veneza – com os seus Trianons inspirados nos pequenos mas luxuosos pavilhões de Verão da aristocracia francesa, recorrendo a materiais de produção maciça.

O conceito agrada-me mas o resultado… pufff… só me remete para as fitas de plástico que antigamente pendiam das portas da cozinha para afastar as moscas e que, em pouco tempo, ficavam nojentas com a gordura e o pó.

trabalho de Joana Vasconcelos
© barquinhaearte.pt – “Trianons”, de Joana Vasconcelos
escultural de Rui Chafes
© barquinhaearte.pt – “Contramundo”, de Rui Chafes

Há por lá outras mais interessantes, do meu ponto de vista. É o caso do Contramundo, de Rui Chafes (cujo trabalho, de resto, aprecio bastante), e Sobre a Floresta, as árvores de granito e bronze, de Alberto Carneiro. O que acharam das peças? Qual é a vossa escultura favorita?

Recentemente, o concelho apostou num programa de arte pública, que resultou em várias obras espalhadas pela região. Por isso, incluí V. N. da Barquinha neste Street Art em Portugal: um roteiro improvável.