Atualizado em 7 Abril, 2021

Perdidos no meio da meseta de Castilla y Léon, encontramos um pequeno povoado de pedra, que cresceu ao abrigo do castelo-forte do século XV. Chegamos a Puebla de Sanabria

Festejamos o fim-de-semana da mamã em Espanha. Estamos a criar uma espécie de tradição familiar, digo eu! (recordem o Dia da Mãe de 2014, em Ciudad Rodrigo). Desta vez rumámos à província de Zamora (na comunidade autónoma de Castilla y Léon), para um roteiro que incluiu Puebla de Sanabria, o lago homónimo e Astorga.

Falemos deste povoado medieval. Os condes de Benavente alcandoraram as suas muralhas defensivas num lugar inteligente, delimitado por três cursos de água: os rios Castro e Tera e um pequeno ribeiro, de seu nome Ferrera.

Estas águas abundantes fecundam extensos pomares de macieiras, cujo fruto é transformado na famosa cidra sanabrense, pouco alcoólica e 100% natural, que encontramos em todos os bares, taperias e lojinhas de produtos regionais. Fresca deve ser óptima, mas não hoje que os céus nos presentearam com uma chuva miudinha.

No cume deste monte, concentra-se um conjunto monumental que merece uma visita. Começamos pelo castelo de Puebla de Sanabria, onde nos disfarçamos de cavaleiros. O pequeno explorador ensaia uma pose combativa para a foto, mas a couraça é muito pesada!

panorâmica de Puebla de Sanabria
Castelo de Puebla de Sanabria
O castelo tem a lenda de uma moura que fugia durante a noite dos calabouços para cantar uma bela melodia estrangeira e pentear os seus longos cabelos.

O centro histórico da vila

O interior do recinto muralhado foi reconvertido e hoje acolhe uma Casa de Cultura, a Biblioteca, um ecomuseu e, no centro deste gigante de granito, a torre de menagem, popularmente conhecida como “El Macho“, de onde se tem uma vista magnífica para o rio e para o pináculo da igreja paroquial, do século XII, em honra da Virgem do Azougue.

É para lá que nos dirigimos, não sem antes lermos a mensagem destinada a todos os peregrinos que por aqui passam, rumo a Santiago (Puebla de Sanabria faz parte da rota francesa do Caminho):

Todas las olas de la Historia han dejado aqui su paso. Los celtas el nombre. Los suevos la primera organización. El monacato y los mozarábes su huella y los condes su empaque. Caminante, que tu también, en cada ola de tu historia dejes, con tus buenas obras, memoria de tu paso. el amor es el camino.”

O templo está fechado mas o que realmente aqui me trouxe foi simplesmente a porta, com o seu Adão e Eva e uma serpente que lhes sussurra ao ouvido. Uma cena típica do Génesis, dirão. Pois. Só que os restantes capitéis também estão repletos de serpentes que, para alguns, simbolizam a Grande Obra da alquimia (teoria aqui). Aliás, o azougue é o nome comum do símbolo químico do mercúrio, também muito popular entre os alquimistas.

Será que a Senhora do Azougue esconde um passado pagão? Não chego a nenhuma conclusão e o Pedrinho acaba por interromper os meus devaneios metafísicos. A mãe tem assim momentos estranhos: como congelar em frente a uma porta fechada!? E lá seguimos alegremente para o Salón de los Obreros.

Porta da Igreja da Senhora del Azogue
Porta da Igreja da Senhora del Azogue, com as suas enigmáticas serpentes.
vista sobre o rio Tera

Gigantones seculares

Os cabeçudos e os gigantones povoam o imaginário de todos os minhotos, graças à sua presença assídua em várias romarias. Para ser sincera, nunca parei para pensar na diferença entre um cabeçudo e um gigantone… Mas afinal é muito simples, todos têm cabeças grandes mas alguns, para além disso, são gigantes – explica o técnico do Museo dos Gigantes y Cabezudos de Sanabria.

A povoação tem uma longa tradição destas personagens. Tudo começou em 1848, com dois gigantones exóticos: uma negra caribenha e um chinês. Depois, outros se juntaram à trupe, para abrilhantarem as Festas de las Victorias, que acontecem anualmente a 7 e 8 de Setembro.

O pequeno museu conta hoje com 10 gigantones e 33 cabeçudos que representam seres mitológicos – diabos, bruxas, duendes e magos – personagens literárias como D. Quixote e Sancho Pança, Dumbo ou o Pinóquio, e mesmo figuras históricas, como Napoleão Bonaparte. Os cabeçudos e gigantones de Sanabria não só são antigos como também viajados, participando em vários encontros da Península Ibérica.

Puebla de Sanabria é tão pequena como surpreendente. E os seus tesouros não se esgotam neste post. Em breve falarei sobre um dos mais belos locais da região: o Lago de Sanabria.

Entrada no Castelo: 3€ adulto /2€ criança. O bilhete dá ainda acesso ao Museo de Gigantes y Cabezudos (valores de 2017)