Atualizado em 23 Abril, 2021

O meu primeiro contacto com a China foi muito atípico, é comum entrar-se no país através de Pequim. Por isso, tinha grandes expectativas em relação a Cantão ou Guangzhou (广州), a capital de província.

Não dizem que viagens longas e expectativas gigantes andam de mãos dadas?

Por muito bonitos que sejam os templos e as casinhas típicas chinesas, não se conhece o país sem visitar uma grande cidade. Claro que também visitei Hong Kong. Mas esta big city é um caso particular, não só por causa do legado dos britânicos, mas também por se tratar de uma zona administrativa especial, para a qual nem preciso de visto.

Cantão é a terceira maior da China, a mega-metrópole do sul, com mais de 12 milhões de habitantes, um dos maiores centros industriais, administrativos e financeiros do país, que acolhe uma das maiores feiras do mundo.

Daqui irradiou ainda o cantonês, a segunda língua mais falada na China, tão importante que a capital do país é mais conhecida no estrangeiro pelo seu nome cantonês (Pequim) do que pelo seu nome em mandarim (Beijing).

A cozinha regional também é uma das mais conhecidas: dim sums, leitão assado, carnes agridoces ou dragão em jade branco (lagosta cozida ao vapor, com abóbora, que infelizmente não provei). Os cantoneses, como de resto todos os chineses, gostam muito de comer. Acontece que em Cantão se come, literalmente, de tudo. Diz o ditado que aqui se “come tudo o que tem pernas, excepto mesas, e tudo o que voa excepto aviões“.

Cantão é uma cidade do século XXI que cresce na vertical, com museus de primeiro mundo, arranha-céus e edifícios espelhados, lojas de rua que vendem anúncios em neón como quem vende latas de coca-cola. O reverso da medalha? A poluição, que forma uma névoa permanente. Este é um problema de não somenos importância, o país é o maior emissor de dióxido de carbono do mundo, daí tantas pessoas usarem máscaras diariamente.

Fotografias bonitas só depois de uma boa chuvada e com um pouco de photoshop. Ora vejam a magnífica Torre de Cantão que, do alto dos seus 600 metros, foi a mais alta estrutura da China até ser suplantada por uma em Shangai em 2013.

Construído por altura dos 16º Jogos Asiáticos, este cartão postal da cidade é muito difícil de fotografar. Não pela sua altura, mas porque a névoa de poluição constante lhe retira muita beleza. O ideal é fotografar à noite.

A cidade tem, no entanto, alguns pontos verdes que merecem uma visita, nomeadamente o Parque Yuexiu com os seus lagos artificiais, onde restam alguns vestígios da velha muralha e a famosa estátua das cabras. Esta peça é muito interessante, pois encerra uma lenda genesíaca.

Diz-se que a região era, na Antiguidade, muito pouco fértil. O povo sofria com a fome e tinha que trabalhar duramente para colher o magro fruto da terra. Eis que cinco imortais os visitam, trazendo consigo cinco cabras que, por sua vez, carregavam sementes de arroz nas suas bocas. A bênção das divindades e a nova sementeira de arroz trouxeram prosperidade à região que hoje é Cantão. E esta é a razão pela qual esta é também conhecida como a “cidade das cinco cabras”.

Esta história ficará eternamente guardada na pasta Cantão da minha memória, já para não falar do guia turístico que nos explicou tudo em mandarim, terminando a sua longa arengada com uma canção melosa em inglês, como forma de pedir desculpa pela sua fraca capacidade linguística.

Think about me everyday in your life. We don’t say goodbye. Now, we are friends“, rematou. Desde então, não tenho feito outra coisa senão pensar no Mr. Green…

Site do Museu de Guangdong aqui. | Dica: a entrada no museu  é gratuita, mediante a apresentação  de um documento de identificação com fotografia.