Atualizado em 9 Abril, 2021

Duas sentinelas de granito, sob a forma de leões, impedem o mal de entrar no templo de A-má, o mais antigo de Macau. No interior, coabitam estátuas de divindades populares, imagens taoístas e Budas bonacheirões, revelando todo o sincretismo religioso chinês.

Vencidas as escadas, abre-se perante os nossos olhos um pequeno, mas gracioso templo, com vários pavilhões cobertos de telhados verdes de pontas arrebitadas, arcos com letras douradas e pátios ligados por rampas e escadas, que se estendem encosta acima. Paira no ar um cheiro forte, a incenso, e o murmúrio de orações.

Quando Macau (澳門) o construiu, durante a longínqua dinastia Ming, nada mais era do que uma insignificante aldeola de pescadores, cujos habitantes tanto se dedicavam à honesta faina do mar, como à pirataria. Apesar desta actividade pontual, ou talvez também por causa dela, ergueu-se um templo a A-má, a deusa do céu, ainda antes da chegada dos primeiros navegadores portugueses.

© wondermondo

Aliás, é possível que o nome de Macau esteja relacionado com este lugar, que se situa na Baía de A-má (A-ma-gao ou A-ma-gau). Imaginem os lusos exploradores a perguntarem o nome desta terra desconhecida e os locais a responderem-lhe em cantonês, que é ainda mais difícil que o mandarim. Amagao seria a baía, Macau ficou a cidade!

A pequena A-má espera-nos dentro de um nicho de seda vermelha, bordada a fio de ouro, perante uma mesa de oferendas. Nada de muito valioso: um pouco de fruta fresca, flores e, sobretudo, incenso. A deusa taoísta, também chamada de Tin Hau, Mazu ou Matsu, é muito venerada no Sul da China e considerada protectora dos pescadores e marinheiros.

Mas existem ali divindades tão diferentes – no Pavilhão do Pórtico, no Pavilhão das Orações, no Pavilhão da Benevolência, no Pavilhão de Guanyin ou no Pavilhão budista – que o recinto se torna um exemplo singular da cultura chinesa, inspirada na filosofia confucionista, no taoísmo e no budismo, mas também em tantas tradições populares.

Espirais de incenso queimam no templo de A-má

É de assinalar também uma árvore muito especial, dedicada ao amor matrimonial. Chamei-lhe a árvore dos casamentos felizes!

No mundo maniqueísta de hoje, em que só parece existir preto e branco, esta tolerância parece-me tão feliz! Macau é o sonho da tolerância religiosa e a casa de A-má perfeitamente ecuménica: sim, esse palavrão de origem grega que começou por ser aplicado numa perspectiva cultural, que depois assumiu uma conotação política no tempo dos romanos e que hoje se assume como um processo de aproximação (ou devia) entre todas as crenças.

Nesta quadra que se aproxima, em que se apela à bondade e à união, procuremos, no fundo dos nossos corações natalícios, vontade para superar diferenças religiosas e culturais que nos separam dos vizinhos e nos enchem de medo dos refugiados que chegam.

Localização: Colina da Barra – Macau |  Entrada grátis