Atualizado em 24 Dezembro, 2024

Na costa sul do Sri Lanka, Galle testemunha o legado colonial deixado por portugueses, holandeses e britânicos.

O dia nasce, desenrola-se e fina-se tranquilo em Galle, ao som do vento nas palmeiras e do marulhar das ondas, numa vibe que lembra bastante algumas cidadezinhas coloniais brasileiras e nos antípodas da confusão de outras cidades do Sri Lanka.

Galle difere das restantes cidades da ilha graças às suas casas coloniais, às suas ruelas empedradas, ao seu ambiente pacato de vila do interior. E, no entanto, o azul do Índico espreita em cada bastião do famoso forte.

Amplamente caiada de branco – das mesquitas, às igrejas e aos templos budistas – a castiça cidade histórica e as suas fortificações são Património Mundial da Humanidade da UNESCO desde 1988, por revelarem “a interação entre os princípios de planeamento europeus e as tradições arquitetónicas do sul da Ásia”. Entre as fortalezas construídas pelos europeus na Ásia que ainda sobrevivem, esta será a maior.

Galle preserva ainda ares dos séculos XVI-XVIII, o seu período áureo, quando do porto partiam caravelas carregadas de canela, pedras preciosas e elefantes. O património histórico da cidadezinha data sobretudo desse período de domínio holandês.

É o caso do antigo hospital holandês, que acolhe hoje uma série de lojas modernas sob arcadas brancas; do portão velho da cidade, onde um brasão ostenta um galo, e também dos bastiões da muralha. Vale a pena deambular por este mundo intramuros, espreitar as lojinhas e as igrejas (holandesa e anglicana), visitar o Museu Nacional de Arqueologia Marítima, terminando o dia com um belo pôr-do-sol.

Conhecido pelo seu icónico forte, este é um destino que combina história, cultura e paisagens tropicais. É fácil sentirmo-nos transportados no tempo, à medida que exploramos a Main Street e outras ruelas estreitas, ladeadas por edifícios históricos, lojas de artesanato e cafés acolhedores.

Neste artigo, convidamo-lo a explorar os encantos de Galle e a descobrir porque este destino é uma paragem popular no Sri Lanka.

torre do relógio de Galle Sri Lanka

Um pouco de história de Galle

Galle já era um porto conhecido antes da chegada dos europeus, conhecido como Tarshish. Diz a lenda que o rei Salomão importava marfim, pedras preciosas, especiarias e outros bens dali. Lendas à parte, é facto que a cidade já era usada como entreposto comercial pelos persas, árabes, chineses, indianos e até mesmo por gregos e romanos antes da idade moderna.

Os portugueses (e, mais tarde, holandeses e britânicos) andaram por esta região ainda antes de levarem a sério o Brasil. De facto, os exploradores lusitanos aportaram pela primeira vez no Sri Lanka em 1505, após o histórico desembarque em Porto Seguro. Contudo, o Brasil foi inicialmente visto como terra selvagem; a ideia de plantar cana de açúcar e ocupar o território surgiu bem depois.

O cerne do interesse português no mundo residia no sudeste asiático: terras e mares de especiarias, comércio e riquezas. Em Galle, os portugueses edificaram um pequeno forte no final do século XVI, que dedicaram à Imaculada Conceição, do qual já pouco resta.

A Companhia Holandesa das Índias Orientais assenhorou-se do Forte da Imaculada Conceição, tornando-o no seu centro de operações no Ceilão (como então se chamava o Sri Lanka) até 1658, quando foram substituídos pelos ingleses. Os holandeses ampliaram bastante as fortificações, de modo que ainda hoje lhe chamam “forte holandês”.  

forte de Galle Sri Lanka

#Curiosidade: o galo é o símbolo desta cidade, cujo nome pode derivar etimologicamente do latim gallus ou de uma corruptela da palavra portuguesa galo. Outros autores rejeitam esta teoria, afirmando que advém da palavra cingalesa galaa, que significa “manada” ou “cortelho de gado”.

O que visitar em Galle, Sri Lanka

Forte de Galle e cidade intramuros

O forte de Galle cobre uma área de 36 hectares e inclui vários museus, uma torre do relógio inglesa (erigida para comemorar o jubileu da rainha Vitória em 1883), uma igreja holandesa e outra anglicana, uma mesquita caiada de branco com duas torres em vez do esperado minarete (mesquita Meeran Jumma, de 1904), um farol de 26 metros e centenas de outras construções coloniais.

Como já referido, após os holandeses tomarem conta do território, fizeram assinaláveis alterações na cidade muralhada, o forte deixou de se chamar Forte de Santa Cruz ou da Imaculada Conceição para ser designado Forte Negro.

Não contentes com isso, rebatizaram cada um dos bastiões ou baluartes: o antigo bastião de Santiago passou a bastião do Sol; o de Santo António passou a bastião da Estrela e o central perdeu o nome de bastião da Imaculada Conceição, para se passar a chamar bastião da Lua.

No interior da muralha fica a Old Galle, despretensiosa e lenta, ao ritmo do calor húmido que aqui se sente. Vale a pena percorrer as muralhas, deambular pelas pitorescas Pedlar Street e Church Street. Se gosta de alguma contextualização dos destinos, poderá fazer um walking tour no forte.

mesquita caiada de branco em Galle

#Nota: apesar da cidade ser simpática, vê-se algum lixo. E um calafrio percorreu-me a espinha, ao ver uma elegante serpente entre os detritos.

Museu Nacional de Arqueologia Marítima

Localizado no antigo armazém do exército holandês, o Museu Nacional de Arqueologia Marítima teve boa parte de sua coleção destruída durante o tsunami de 2004, que atingiu duramente o Sri Lanka e matou aproximadamente 50 mil pessoas no país.

Contudo, o governo da Holanda apoio o restauro do espaço e hoje o museu abriga uma coleção de mapas, equipamentos, roupas e artefactos navais da época colonial: algumas peças têm mais de 800 anos.

Não tivemos tempo para visitar este museu, mas li que o dito não faz qualquer alusão à chegada dos portugueses, anterior à holandesa. Às vezes a cultura distorce a perceção da história…

portão de Galle Sri Lanka
O museu fica junto ao antigo portão da cidade.

Catedral de Santa Maria, na cidade extramuros

Galle tem outra face, extramuros, a norte da estrada Colombo-Matara. É como se existissem duas cidades, separadas por um estádio internacional onde a seleção cingalesa de críquete cresce em reputação. A sul do estádio começa a cidade velha, com três enormes bastiões a isolarem a península fortificada da agitação do século XXI.

Na segunda cidade, extramuros, caracterizada pelo bulício comercial, pelo fluxo de passageiros das estações ferroviária e rodoviária e pelo vaivém de compradores no principal bazar da cidade, fica a Catedral de Santa Maria, de construção jesuíta.

Atualmente em renovação, a igreja é um marco importante na cidade, sede da diocese católica romana de Galle e um lugar de reflexão, com os vitrais a dosearem o sol tropical numa luz suave. Não muito longe da catedral, o pacífico templo hindu Sri Meenachi Sundareshwarar e outro budista confirmam o sincretismo religioso do país.

Praias da região de Galle

O horizonte de Galle é monopolizado pelo Índico, cujas águas mornas trouxeram os ambiciosos europeus há vários séculos e atraem um visitante especial: a baleia azul. Integrando uma das principais rotas migratórias de baleias, a costa sul do Sri Lanka é considerada um dos melhores locais para observação do maior mamífero do planeta.

O litoral mais próximo da cidade de Galle é feito de praias simples de pescadores, existindo outras praias na região mais adequadas para mergulhos e banhos de sol. Em algumas delas é possível ver os fotogénicos pescadores sobre estacas, que já posam mais para os turistas do que pescam (tornou-se, portanto, uma encenação pouco genuína). As praias mais famosas são:

  • Praia de Unawatuna, com a sua bela baía resguardada de águas calmas e popular vida noturna.
  • Praia de Weligama (menos de 30 km de Galle), popular entre os praticantes de surf.
  • A famosa Mirissa Beach (cerca de 40 km de Galle), uma das grandes atrações da costa sul da ilha. Daqui partem muitos passeios para observação de baleias e outros cetáceos.
  • Praia de Hiriketiya (cerca de 65 km de Galle), igualmente indicada para a prática de surf.

#Dica: a melhor época para observação de cetáceos é entre novembro e abril na costa sul do Sri Lanka, enquanto na costa norte (Trincomalee, por exemplo) a melhor época vai de maio a setembro. 

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Dicas úteis para visitar Galle

Como chegar a Galle

É possível chegar a Galle de comboio, num percurso que demora cerca de 3 horas desde Colombo. A viagem é muito segura e barata, para além de beneficiar de vista para o mar em parte do caminho.  Se preferir, é também possível ir de autocarro ou contratar um táxi particular na capital.

Alojamento em Galle, Sri Lanka   

Sendo um destino bastante turístico, Galle possui ampla oferta hoteleira. Se o orçamento não é problema, os super centrais The Fort Printers (******) ou The Merchant (******) são sugestões muito charmosas.

Se ainda quer ficar no centro da cidade, a preços mais comedidos, a Mango House possui boas avaliações no booking e disponibiliza quartos familiares. Se ficar um pouco mais longe do forte consegue encontrar preços simpáticos. É o caso da Windy Garden (***), com piscina.

Nós ficámos alojados no Jetwing Lighthouse hotel (*****), uma cortesia dirigida aos bloggers de visita. O hotel possui um restaurante requintado, duas piscinas e praia privativa. As escadarias na entrada possuem uma exuberante escultura alusiva à chegada dos portugueses ao Sri Lanka.

© Jetwing Lighthouse

Onde comer

O restaurante Elita (34 Middle St) é bastante popular pelo marisco. Se já está no Sri Lanka há algum tempo e comeu caril suficiente para uma vida, o Aqua Pizza (56 Leyn Baan St) pode ser uma alternativa simpática.

Vários restaurantes no perímetro do forte possuem serviço de almoço com buffet a preços fixos, ainda que mais altos do que encontra em Colombo. É o caso do restaurante Rampart (31 Rampart St.) ou do Lucky Fort (07 Parawa St.); neste último também se organizam aulas de culinária local. Alguns resturantes cobram 10% de taxa de serviço na conta final.

#Curiosidade: junto às escadas do restaurante Rampart, em Galle, encontra-se habitualmente uma pequena senhora que faz renda de bilros. De seu nome Kussuma, há 17 anos que a rendilheira se apresenta diariamente aí produzindo as delicadas rendas artesanais que são uma herança dos portugueses.

Nota: esta viagem foi realizada a convite do Sri Lanka Tourism Board, no âmbito da sua campanha de bloggers e influencers globais. Como sempre, as opiniões são pessoais e completamente honestas.