Atualizado em 25 Novembro, 2024
Colombo, a capital do Sri Lanka, mostra o que de melhor e de pior o país tem para oferecer. Feita de contrastes, a cidade portuária opõe mansões coloniais, arranha-céus e largas avenidas a templos seculares, ruelas povoadas de cães vadios, estradas apinhadas de tuk-tuks e envoltas no odor característico dos tubos de escape
Colombo é a porta de entrada para a bela nação insular de seu nome Sri Lanka. Com tantos lugares incríveis para visitar no antigo Ceilão, o instinto de muitos visitantes é chegar ao aeroporto internacional Bandaranaike, a 35 km de Colombo, e rumar imediatamente para as florestas ou as praias.
Porém, se poder reservar um dia do seu roteiro para explorar Colombo, não dará o tempo por perdido. Com uma história tão rica, o Sri Lanka acabou por se tornar um caldeirão de culturas, o que se reflete na sua capital.
Situada na costa ocidental da ilha, Colombo é muito mais do que a capital comercial e política; é uma cidade onde história e modernidade se entrelaçam. Com raízes que remontam a antigos portos comerciais, Colombo transformou-se num vibrante centro urbano que, apesar da sua pequena dimensão, reflete a rica tapeçaria cultural, histórica e religiosa do Sri Lanka.
Nesta cidade se pode explorar os coloridos mercados de Pettah ou dar um passeio junto ao mar no Galle Face Green, visitar um complexo santuário hindu, seguido de um edifício histórico do governo e uma invulgar mesquita muçulmana.
Ali, elegantes restaurantes com vista para o oceano Índico proporcionam experiências gastronómicas sofisticadas, em contraste com o kottu roti e os hoppers comidos na rua. É possível jogar uma partida de golfe, tomar um chá da tarde, caminhar descalço num dos muitos templos budistas ou descansar ao final da tarde do agitado ritmo da cidade no maior parque da cidade, o Viharamahadevi park.
Este artigo explora as múltiplas facetas de Colombo, alguns tesouros e experiências que a maior cidade da ilha tem para oferecer. Venha conhecer comigo a complexa capital do Sri Lanka.
#Dica gastronómica: o kottu roti é “o” petisco nacional. Consiste em pedaços fatiados de rotti (pão achatado), habilmente misturados na chapa quente com frango ou outro tipo de carne, ovo, cebola e outros legumes. Os hoppers são tigelas de massa fina feita de farinha de arroz e leite de coco, que podem ser servidas simples, doces ou com ovos.
Um pouco de história
Colombo, à semelhança do Sri Lanka, tem uma longa história: acredita-se que comerciantes árabes, chineses e indianos visitassem a cidade há mais de 2000 anos, para negociar especiarias, especialmente a canela, que crescia abundantemente na ilha.
No século XIV, o berbere Ibn Batuta [conhecido como príncipe dos viajantes, devido à sua famosa jornada realizada entre 1325 e 1353 que percorreu cerca de 120 mil km] terá visitado a ilha e referido Colombo com a designação de Kalanpu.
Dois séculos depois chegavam os portugueses, estabelecendo um porto em Colombo, que usaram como base para controlar o comércio na região, enquanto mantinham acordos com os reinos locais, trocando apoio militar por canela. Quando a zona costeira da ilha ficou sob o domínio dos portugueses e, mais tarde, dos holandeses, Colombo foi utilizada como capital, posição que manteve quando passou para o domínio britânico, no século XVIII.
Durante o domínio britânico, a cidade modernizou-se com infraestruturas, ferrovias, escolas, edifícios administrativos, muitos dos quais permanecem como marcos históricos.
Embora o Sri Lanka tenha conquistado a independência em 1948, a arquitetura, a comida e a cultura da capital continuam influenciadas pela era colonial, razão pela qual Colombo é vista como a cidade mais desenvolvida do país e a população local é considerada menos conservadora.
Desde o fim da guerra civil (1983-2009), Colombo experimentou um renascimento económico e urbanístico. É aqui que se podem desfrutar as novidades chegadas ao país, produtos importados, hotéis e até cadeias globais de fast-food.
Veja-se, neste contexto, o projeto de remodelação de um monumental edifício colonial, criando um complexo de lojas e restaurantes chamado Arcade Independence Square. Embora se verifique uma mudança gradual, Colombo continua a ser a cidade das oportunidades no Sri Lanka.
#Curiosidade: muitas áreas de Colombo ainda pertencem ao passado, com ruas e edifícios que evocam a memória histórica do país. A maioria dos nomes de edifícios e ruas datam da época em que o Sri Lanka era uma colónia de portugueses, holandeses e britânicos. Lentamente, os nomes estão a ser substituídos por toponímia mais cingalesa, mas a população da cidade continua a usar os nomes mais familiares.
Gangaramaya Temple
Com 120 anos, Gangaramaya não é o típico templo do Sri Lanka. Situado no movimentado centro de Colombo, perto do pitoresco Lago Beira, este intrigante complexo de templos é simultaneamente uma atração turística popular, um local de culto e um centro de aprendizagem.
Em vez de enormes espaços abertos e tranquilidade, espere multidões e enormes coleções de artefactos. O templo é famoso pela arquitetura luxuosa e estátuas de vários estilos artísticos (cingalês, chinês, tailandês, birmanês e muitos outros).
Duas sentinelas guardam o santuário principal do templo, decorado em tons suaves e que alberga uma enorme estátua de Buda em pose de meditação, ladeada por estatuetas de criaturas celestiais. A porta em si é um impressionante trabalho artesanal, com intrincadas esculturas em madeira de elefantes e cisnes. Os tetos estão decorados com pinturas em tons pastel que retratam histórias budistas.
Para mim, o recanto mais sereno e bonito do complexo de Gangaramaya fica junto da árvore Bodhi. Muitos devotos passam ali, regando esta árvore associada ao Buda, oferecendo lótus coloridos e rezando, numa comunhão bonita e singela.
#Dica: o dress code dita que os visitantes cubram os ombros e joelhos, retirem bonés, chapéus e quaisquer outros acessórios que cubram a cabeça, em sinal de respeito. Os sapatos ficam à porta, claro. O bilhete (um preço simbólico) inclui a entrada noutro pequeno templo sobre o lago vizinho.
Fiz um reels muito bonito do templo de Gangaramaya no meu instagram.
#Dica: se o budismo é importante para si, saiba que a 10 km de Colombo encontra um importante lugar de peregrinação, o Kelaniya Rajamaha Viharaya. Acredita-se que Buda o terá visitado no oitavo ano após a iluminação e, no local onde pregou, foi erguida uma stupa.
Galle Face Green, frente marítima de Colombo
Sendo uma ilha, o Sri Lanka é conhecido pelas suas praias. No entanto, não é fácil encontrar um local em Colombo onde se possa desfrutar do mar e assistir ao pôr-do-sol. O Galle Face Green atrai assim um grande número de pessoas, principalmente à noite, embora raramente esteja vazio, mesmo quando há muito pouco resguardo do sol escaldante.
Este passeio marítimo de meio quilómetro foi planeado por Sir Henry Ward, governador do Ceilão britânico, em 1859. Inicialmente utilizado para corridas de cavalos e golfe, hoje é um local procurado por famílias, que ali realizam piqueniques, enquanto as crianças lançam os seus papagaios.
Existem muitas bancas ao longo do paredão que oferecem comida e bebida, papagaios, brinquedos e bugigangas variadas. Ali encontra wadey, um petisco frito popular, nomeadamente de camarão (isso wadey) e achcharu (pickles) a preços baixos.
#Atenção: se decidir fazer um piquenique ali, fique atento aos incómodos corvos.
Se ficar preocupado com as condições sanitárias destas bancas, existem muitos restaurantes nas proximidades. De resto, hotéis luxuosos como o Galle Face Hotel, The Shangi-La Colombo, The Kingsbury, Galadari Hotel, Taj Samudra Colombo e o Hilton Colombo estão todos a uma curta distância a pé e alguns deles possuem centros comerciais nos pisos mais baixos.
Hospital holandês
Perto dali fica o antigo Hospital Holandês, convertido num recinto de restaurantes. Destaque para o Ministério do Caranguejo, restaurante de marisco de dois antigos jogadores de críquete internacionais do Sri Lanka. Pelo que li, o espaço é bastante animado aos fins de semana, principalmente nas noites de sexta-feira e sábado, quando há música ao vivo.
Próximo do porto, o recinto foi construído pelos holandeses; ali instalaram um sanatório para cuidar da saúde dos funcionários das Índias Orientais, e assumiu diversas várias funções ao longo dos anos. Com várias alas que formam pátios, o edifício colonial foi concebido para manter o calor e a humidade do lado de fora, e o novo projeto de restauração manteve a estrutura original.
Mercado ou mercados de Pettah
Pode ser confuso ler sobre “mercados Pettah”, “mercados flutuantes Pettah” e uma série de outras variações. Na verdade, Pettah é o nome do bairro que contém um mercado de rua caótico com secções diferentes, que alguns identificam como uma sucessão de mercados diferentes.
Existe um mercado de frutas e legumes, explodindo num mar de cores e odores, com enormes pilhas de ananases no chão. Não muito longe, surge o peixe, sobretudo seco, ideal para fazer os caris diários ou fritar. Uma parte é dedicada a roupas e bugigangas, incluindo bancas com as populares raspadinhas, que rendem 30 segundos de diversão, mas terminam invariavelmente em fracasso. Há por ali também eletrónicos e inusitada street food, barulho e muitos cães vadios.
Acabei por não explorar a parte do mercado flutuante, junto ao lago, porque escurecia e eu estava sozinha numa cidade onde aterrara há poucas horas, sem grandes informações sobre segurança e um jet lag brutal.
Lotus Tower
Da Colombo Lotus Tower se diz ser a mais alta estrutura autossustentada do sul da Ásia e o arranha-céus mais alto do Sri Lanka. Fundada em 2012, a torre com cerca de 350 metros de altura em forma de flor transformou a paisagem da cidade, crescendo de um mero tronco para uma estrutura monumental que pretende evocar o desenvolvimento do país.
O marketing turístico chama-lhe “o símbolo nacional da pérola do sul da Ásia”, mas trata-se somente de uma torre alta, com um observatório circular, aberta ao público desde setembro de 2022. O espaço conta com uma sala de banquetes no quarto andar e um restaurante no piso imediatamente acima. O bilhete custava 20 dólares para estrangeiros, em novembro de 2024.
#Nota: boa sorte se quiser usar o drone perto da Lotus Tower. Para além da licença nacional ser demasiado burocrática, certos lugares (como esta torre) exigem autorizações especiais e um aviso prévio à Força Aérea cingalesa.
Templo hindu Sri Kailawasanathan
Não muito longe dos mercados de Pettah, numa movimentada rua estreita encontra o templo Sri Kailawasanathan Swami Devasthanam, também chamado Captain’s Garden Kovil. De fachada exuberante e dedicado aos deuses Ganesha e Shiva, trata-se do templo hindu mais antigo da cidade de Colombo, com mais de dois séculos.
O templo foi criado por arquitetos e escultores vindos diretamente da Índia e mantém o aspeto clássico de templo hindu que raramente se vê no Sri Lanka. Em frente, várias bancas vendem colares de flores.
Se continuar sempre nesta rua, acabará por encontrar o Santuário de Santo António, uma igreja católica que mantém uma devoção interessante, atraindo devotos de diferentes credos, que ali oferecem puja (flores, oferendas, orações) tal como acontece nos templos hindus ou budistas. Infelizmente, não tive tempo de visitar.
#Nota: não é permitido fotografar o interior do templo, sem autorização prévia. Os sapatos devem ficar à porta e os visitantes devem lavar os pés antes de entrarem.
Mesquita Jami Ul-Alfar, mesquita vermelha
A mesquita vermelha é distinta de qualquer outra mesquita que eu já conheci, apesar da maioria das mesquitas no Sri Lanka serem bastante diferentes das tradicionais. Entalada entre alguns edifícios desinteressantes, a mesquita é alta e estreita, com muros a delimitar um pátio frontal.
De estilo híbrido, a estrutura concebida por um arquiteto analfabeto extrai elementos da arquitetura nativa indo-islâmica e indiana, combinando com elementos típicos do renascimento gótico e neoclássico. Criativa, inesperada, surpreendente, a mesquita Jami Ul-Alfar foi concluída em 1909 e, após obras de extensão, recebe cerca de três mil fiéis por dia, podendo chegar aos 10 mil para as orações de sexta-feira.
Museu Nacional de Colombo
Um pouco distante do centro histórico da capital encontra-se o Museu Nacional Colombo, o maior museu da ilha. Inaugurado em 1877, está instalado num edifício italiano de dois andares, com um vasto relvado e lindas figueiras-da-índia.
Uma serena estátua de Buda em pose de meditação (séc. IV-V) dá as boas-vindas aos visitantes. Com dois pisos e um acervo com cerca de 100 mil peças, a coleção evoca as primeiras civilizações agrícolas da ilha até ao período colonial moderno e inclui inscrições rupestres, espadas, joias, moedas, frescos e lâmpadas, armas e aguarelas do período colonial, marionetas antigas e máscaras demoníacas.
Com apenas uma sala climatizada, não consegui apreciar devidamente o museu, pois estava um calor opressivo (e olhem que eu moro em África), pelo que, se decidir visitar o espaço, recomendo que o faça bem cedo.
Praia Mount Lavinia
A sul de Colombo, num percurso que demora cerca de 30 minutos (sem trânsito), encontra a praia Mount Lavinia, um dos subúrbios mais descontraídos perto da capital, repleto de excelentes restaurantes de marisco. A praia doirada carrega o nome de Lovinia, a dançarina cigana que teve um romance secreto com Sir Thomas Maitland, então governador do Ceilão.
A antiga residência do governador – que tem um túnel por onde o senhor faria as suas escapadelas noturnas – foi convertido no conceituado hotel Mount Lavinia, batizado igualmente em homenagem daquele amor trágico.
A praia não é tão pitoresca como Unawatuna, mas é um ótimo refúgio para quem procura sol e mar. Num dos seus extremos encontrará um pequeno projeto de conservação de tartarugas marinhas. Para além disso, a região é popular pela vida noturna, festas na praia e um festival de jazz organizado pelo hotel.
Conclusão, Colombo pode não ser o destino mais interessante do país [à semelhança de outras. Recorde-se por exemplo Podgorica, a desinteressante capital do Montenegro], mas permite compreender um pouco melhor esta ilha em forma de lágrima e conhecer outra face do país. Se não tiver muito tempo disponível, pode sempre fazer um city tour com a empresa Ebert Silva Holidays (500 anos depois da presença portuguesa na ilha, os sobrenomes lusitanos são muito comuns).
Em breve saem artigos sobre outros locais do Sri Lanka.
Dicas úteis para visitar Colombo no Sri Lanka
Como chegar
A maioria das grandes companhias aéreas da Europa e Médio Oriente voa para o Sri Lanka; incluindo Lufthansa, Turkish Airlines, Emirates ou Qatar Airways. Desde Lisboa ou Porto, a ligação mais curta tendo a ser a da Emirates, com escala no Dubai. Como eu voei desde África, voei com a Turkish, fazendo escala em Istambul.
Alojamento em Colombo Sri Lanka
Não faltam opções de alojamento na capital do Sri Lanka. Nós ficámos num hotel muito recente da cadeia local Cinnamon, com cinco estrelas: o Cinnamon Life City of Dreams.
Bem próximo do centro da cidade, com a lotus tower a espreitar em inúmeros dos seus recantos, o empreendimento contará com 15 restaurantes, duas piscinas, wine bar, ginásio e um restaurante com tanta oferta de comida (buffet), que não é nada amigo dos indecisos. Apesar de ainda não estar completamente terminado, já recebe turistas.
Opções mais simples e económicas, mantendo a proximidade do centro histórico, são o City Hotel Colombo 02 (***) com parque de estacionamento gratuito, o C 1 Colombo Fort (***) com cozinha partilhada e várias tipologias de quartos, incluindo dormitórios, ou o Hotel Nippon Colombo (***).
Nota: esta viagem foi realizada a convite do Sri Lanka Tourism Board, no âmbito da sua campanha internacional de bloggers e influencers. Como sempre, as opiniões que constam neste artigo são pessoais e completamente honestas.