Atualizado em 12 Abril, 2021
A Suíça não foi construída sobre uma identidade étnica, religiosa, cultural ou linguística. Ainda assim, é uma nação forte e admirável. Democracia directa, federalismo e neutralidade são a argamassa que une os estados autónomos (cantões) da federação Helvética.
A democracia directa suíça fascina-me desde sempre. Que dizer de um povo que não só elege os seus representantes mas que é capaz de realmente influenciar as leis que são aprovadas, através de referendos frequentes?
Aproveitando a visita a Berna, capital do país desde 1848, fomos conhecer o Bundeshaus, o belo, imponente e absolutamente simétrico Palácio Federal. Diga-se que o edifício é grande demais para esta minúscula capital de apenas 140 mil habitantes, tão singular para os padrões europeus (recordem a visita a Berna, a cidade dos ursos).
As visitas guiadas ao palácio, gratuitas, acontecem todos os dias úteis, mas convém reservar com antecedência para garantir vaga. Apesar da falta de planeamento, a sorte esteve do nosso lado e conseguimos integrar uma visita em francês. Obviamente preferíamos inglês ou espanhol, mas os portugueses arranham sempre meia dúzia de línguas, portanto foi em francês mesmo e não demos o tempo por perdido.
Procedimentos de segurança concluídos – inscrição, crachá, raio-x – começamos a visita no hall principal, sob a linda cúpula de vidro com a cruz suíça e o mote da nação em latim “Unus pro omnibus – Omnes pro uno“, um por todos, todos por um.
Estes todos não são os mosqueteiros de Dumas, são os 26 cantões da Suíça, com as suas próprias leis e idiossincrasias, mas também com um sentimento de pertença a algo maior. Os seus brasões completam a cúpula, com excepção das armas de Jura, que se encontram um pouco mais abaixo, sozinhas, porque o cantão foi fundado em 1978, quando o tecto já estava pronto.
Baixando o olhar, somos esmagados pelos três confederados (Walther Fürst do cantão de Uri, Werner Stauffacher de Schwyz e Arnold von Melchtal de Unterwalden), uma escultura de 24 toneladas que nos remete para o Juramento do Rütli (1291), mito importantíssimo da fundação do país.
De resto, o hall é rico em detalhes e referências simbólicas. Por exemplo, os quatros pilares da escadaria são orgulhosamente defendidos por guardiões que representam as regiões linguísticas do país: Suíça alemã (63% do território), Suíça francesa (20%), Suíça romanche (0.5%) e Suíça italiana (6.5%).
O Palácio acolhe duas instituições importantes: o Conselho de Estado, composto por 46 conselheiros que representam os cantões e devem ser fluentes nas três línguas maioritárias, e o Conselho Nacional (equivalente ao nosso Parlamento), com 200 deputados que representam o povo suíço.
A sala do Conselho de Estado é bem pequenina, de uma sobriedade conservadora, enquanto a do Conselho Nacional é ampla e dominada por uma grande pintura de Charles Giron, do lago onde terá nascido a confederação, isto é, onde terá acontecido o juramento que uniu várias regiões contra o domínio dos Habsburgos.
A obra é ladeada por duas esculturas muito significativas. De um lado, o lendário herói Guilherme Tell, símbolo de liberdade e resistência, e do outro, Gertrud Stauffacher, esposa de um dos três confederados que terá persuadido o marido a formar a aliança (lá diz o ditado que um grande homem conta sempre com uma grande mulher).
Saindo para o Wandelhalle, o comprido corredor de 44 metros conhecido como a Sala dos Passos Perdidos, somos ainda presenteados com um tecto exuberante e uma vista privilegiada para o rio Aare. Os membros dos Conselhos juntam-se ali nos intervalos das sessões e ali recebem também visitas oficiais de outros países.
Talvez a política aconteça, de facto, nesta sala. Ou pelo menos será ali que mostram as fotos dos seus filhos uns aos outros, como os restantes mortais.
Visitas guiadas ao Palácio Federal: aqui
Visita virtual: aqui
26 Comentários
Querida Ruthia
Que maravilha de post!
Tanta informação prestada é uma verdadeira lição de… História (?)
Seja lá do que for, o certo é que, ao ler-te, se adquirem enormes conhecimentos.
Confesso que comigo isso aconteceu (o que é normal, vindo aqui…)
Obrigada pela excelente partilha.
Continuação de boa semana.
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS
E evidente que, para eles, o sistema federativo funciona muito bem. Já não se pode dizer o mesmo para outros lugares do mundo…
Voltei: é que estive na página d'O Berço do Mundo no Twitter. Ótima para lembrar quando há posts novinhos em folha!
Pois é Marta, vc não funciona muito com o FB mas o Twitter também é uma óptima ferramenta.
minha adorável professora de história e cultura geral!
muito obrigada por mais esta aula extraordinária
bjs desejando excelente final de semana
aqui, ainda em clima de festa… veja vídeo no link com Ali dançando https://www.facebook.com/mrs.adrianalara/videos/1541514902533374/?pnref=story
e
https://www.facebook.com/mrs.adrianalara/videos/1540532835964914/?pnref=story
e a mãe aqui baba… baba…
bjs
Babar de orgulho pelos filhos está escrito geneticamente nos nossos cromossomas, haha. Beijinho
com certeza, querida!! e qto ao magra… continuas linda de viver!!! cinturinha de pilão? como dissestes…. melhor é ter saúde!!! bjs e obrigada por reveres o vídeo do Ali!!
Ruthia,
que passeio interessante. Amei saber um pouco mais da história da Suiça com sua visita a esse palácio lindo! Amei.
Beijos
Adriana
Acabei de descobrir, preciso conhecer mais sobre a Suíça! :O Correndo para seu post sobre Berna agoraaa….. Belo post!
Lindo o palácio. Adoro estas visitas a palácios da Europa. E adoro a Suíça, então, perfeito! Amei o post.
OLa.
Essa Palacio é lindíssimo. Eu só o conheci por fora. Viajei nas suas fotos.
É incrível como a história nos proporciona conhecimento e prazer! E o mais legal é presenciá-la ao vivo! Suíça está na minha lista.
Achei o post muito interessante, pois não conhecia nada do que você contou sobre a Suíça! Vivendo e aprendendo!!! 🙂
Pois aqui precisamos mandar "nossos" governantes corruptos urgentemente à Suíça para aprender o que é a verdadeira democracia feita para o bem de todos!!!
Além disso, é um lugar fantástico e abençoado pela natureza e sua cultura!
Grande beijinho Ruthia!
Bia <º(((<
Não são só os políticos brasileiros que precisam de um "estágio" num país de primeiro mundo, Bia.
Beijinho querida exploradora
Fantástica visita, Ruthia, em um edifício que além de representar o simbolismo da democracia suíça, traz elementos arquitetônicos tão belos e singulares. Adorei, muito bonito!!
Muito inspirador seu post. Da Suíça eu conheci só aquele cantinho do Lago Leman. Tenho vontade de conhecer Berna, mas ainda não deu.Uma viagem para a Europa, partindo do Brasil dá em torno de 24 horas ou mais em aeroportos para quem não reside nas cidades de onde saem os voos internacionais. Gostei de sua forma de escrever e de conhecer o seu blog. Vou visitá-lo mais vezes.
Agradeço a sua visita e espero que passe um tempo maravilhoso aqui n'O Berço.
Eu também não moro perto de Lisboa, felizmente cada vez há mais voos a saírem do Porto, o que me facilita a vida.
Abraço
Que linda partilha e aula amiga.
Sei pouco sobre eles e encanta conhecer um Palácio como este.
Uma cultura bem diferente do que conhecemos amiga.
Um bom fim de semana para voces.
Bjs de paz.
Precisamos cada vez mais nos espelhar na Suiça e na maneira com que tudo parece funcionar bem por lá! Além de ser um país lindo!
Essa visita foi a que mais me encantou em Berna! Adorei conhecer os corredores da política suíça, além de a estrutura ser bela. Também fizemos a visita em francês para não perder a oportunidade! 🙂 Mais um texto delicioso de se ler!
Que passeio interessante. Há tantos lugares para se conhecer na Suiça.
Lindo palácio! A arquitetura é muito rica em detalhes!
Obrigada Amiga por este belo passeio.
Para quem nunca foi à Suíça é uma boa oportunidade de aprender um pouco mais.
Um abraço
E cá estou eu a aprender ao vir aqui, obrigada! O palácio é… colossal 🙂
Beijinhos
Colossal é um bom adjectivo. Beijinhos
Que coisa mais fofaaaa! Amei demais essa trip! As fotos tb estão ótimas! Adorei!