Atualizado em 12 Abril, 2021
Discreta, pequena, serena. Os dias primaveris alongam-se em Berna, a capital suíça, entre intermináveis jogos de xadrez e as brincadeiras de Finn, Björk e Ursina, a família de ursos que acaba de acordar após um longo Inverno
Do alto do Rosengarten, o grande e perfumado jardim com 220 tipos de rosas, avistamos toda a península medieval de Berna, envolvida nas generosas curvas do Aare. Entre as casas antigas de arenito, destaca-se a torre da catedral, a mais alta em território helvético.
Outros pináculos seculares rasgam o horizonte, sendo o mais famoso o da antiga torre de defesa construída pelo duque Berchtold V, fundador da cidade no século XII. Transformada depois do grande incêndio de 1405, a Zytglogge ostenta hoje um belo relógio astronómico que atrai multidões para verem um galo, um urso ou um bobo da corte anunciarem o fim de cada hora.
O relógio astronómico indica data e semana, as estações e as fases da lua, a posição da Terra na sua órbita e os signos.
Começa aqui o centro histórico, uma jóia do urbanismo medieval reconhecida pela UNESCO como Património da Humanidade em 1983. A charmosa avenida que parte da Zytglogge é ladeada por arcadas que se prolongam numa extensão de 6 km, transformando-a na maior avenida comercial coberta da Europa.
As lojinhas sucedem-se, cada uma mais pitoresca que a outra, somadas aos cafés, bares e barbeiros subterrâneos que vão abrindo as portas de madeira a meio da manhã (recordem outro relógio, em Praga, aqui).
É precisamente debaixo da arcada, no número 49 da Kamgrasse, que paramos para visitar um lugar muito especial: a casa do Einstein. Toda a gente sabe que ele era alemão, mas viveu muito tempo na Suíça, país que lhe deu cidadania. Foi neste pequeno apartamento em Berna que Einstein viu nascer o primeiro filho legítimo e revolucionou a percepção do tempo e do espaço, com a sua teoria da relatividade.
Aposto que a equação E=mc2 ainda provoca pesadelos a muitos alunos.
O Museu Histórico de Berna, frequentemente chamado de Museu do Einstein, tem uma exposição permanente muito mais completa, mas a casa oferece-nos uma imagem mais pessoal do cientista, do cachimbo à sua paixão pela música.
Pai finlandês, mãe dinamarquesa, filha suíça
Regressamos às ruas, matando a sede numa das 200 fontes coloridas da Renascença espalhadas pela cidade, caminhando para a ponta da península até chegar à atracção mais inusitada de Berna: o BärenPark, Parque dos Ursos.
As mascotes da cidade são três ursos-pardos (Berna poderá derivar de bär, urso em alemão) e passam o dia a comer, a nadar e a brincar ali nas margens do límpido rio Aare, num parque com seis mil metros quadrados inaugurado em 2009. Uma margem de segurança separa o casal e a sua cria, Ursina, dos visitantes que ficam, ainda assim, surpreendentemente perto.
Porquê o urso?
Diz a lenda que quando a cidade estava em construção foi lançado um desafio – o primeiro animal caçado nas redondezas baptizaria a nova urbe. Logo o duque se lançou numa caçada na enorme floresta da região, regressando com um urso, que se tornou símbolo da cidade, hoje presente na bandeira e brasão. As duas personagens, urso e caçador, enfeitam uma das fontes de Berna, em frente à Torre do Relógio.
No século XIX, existia pelo menos um destes animais no fosso da cidade, que os habitantes iam visitar e alimentar com frequência (o fosso ainda pode ser visto, ao lado do novo parque). A crescente consciência ecológica pressionou as autoridades a criarem melhores condições para a mascote.
O carinho por estes ursos é notório, os bernenses acompanham a sua vida mesmo à noite, já que o parque tem câmaras de infravermelhos e, quando a família ursina foi de férias de Verão entre Abril e Outubro de 2015, por causa da construção de um elevador no parque, todos sofreram com saudades.
Os tratadores também os mimam ocasionalmente, com iogurte e nutela (!???), o que me causa muita estranheza, já que os ursos comem sobretudo frutas e verduras, algum mel e peixe.
Entretanto, outros ursos multiplicam-se pela cidade. A caminho do Parlamento Suíço, por exemplo, existe um “urso da sorte”, em pedra. Diz-se que, quem lhe toca tem sorte pelo menos até ao fim do dia. Os suíços são bons a controlar expectativas, não acham? Nada de grandezas.
Casa de Einstein (site) | todos os dias 10h-17h | bilhete: 6 CHF (adulto), 4.5 CHF (criança)
Museu Einstein (site) | terça a domingo 10h-17h | bilhete: 18 CHF / 8 CHF (crianças a partir dos 6 anos)
Parque dos Ursos (site) | todos os dias, mas no Inverno os ursos hibernam | entrada livre
22 Comentários
Tenho inveja dos ursos: deve ser ótimo hibernar…
Tem alturas que também precisava hibernar durante uma semana inteira. Mas, um Inverno inteiro já é demais… tanto que ficava por viver.
Beijinho Marta
Que lindas fotos e adorei saber mais sobre lá.Não conhecia! bjs, linda nova semana! chica
tenho uma amiga que morou um bom tempo em Berna… e já havia me contado algumas curiosidades… mas amei saber com este teu jeito tão lindo de escrever e retratar… como sempre, uma aula de história e cultura! bjs
Que saudade de Berna! É uma cidade linda! Pena que quando estive lá os ursos não estavam. Mas eu amei mesmo assim.
Bem Viviane, é um misto de emoções. Não é todos os dias que conseguimos ver um urso mas… senti tanta pena por eles não estarem no lugar onde pertencem (na floresta)!
Fiquei apaixonada por Bern quando estive la a primeira vez! Esse ano volto à Suíca e quero muito voltar lá. É apaixonante né?
É realmente uma cidade muito simpática, Adriana. Bom regresso
Ai, que saudade que deu. Fomos para Berna em 2015 e adorei. Só que fomos no inverno e os ursos estavam escondidos, não vi nenhum, hahahahaah. Adorei o post, parabéns!
Berna é uma cidade lindíssima. Estive por lá ano passado e amei!!!
Pena que não consegui ver os urso. Mas fica para a próxima viagem…. tenho que voltar né!!!
Adorei o post
Bjos
Thais
Sempre um prazer seus belos textos, Ruthia. Tenho muita vontade de conhecer Berna, e outras cidades da Suíça. Parabéns pelo relato!!
Olá Francisco, seja bem-vindo aO Berço. A Suíça é um destino lindo, pena ser tão caro. É preciso um bom planeamento prévio (leia-se poupança).
Abraço
Com nutela?!?! Como assim? hahaha Só podia ser na suíça mesmo.
Adorei a hitória da família de ursos, principalmente porque eles ficam soltos e não em um zoologico. As fotos e o relato estão maravilhosos, como sempre. Parabéns!
Exacto. A minha vontade foi perguntar ao tratador "nutella? What the hell?" Mas fui educada e contive-me
Oi Ruthia! Não sabia que Berna tinha essa relação intensa com os ursos (inclusive no nome). Muito legal! Parabéns pelo post!
Beijos
Carolina
O centro histórico é incrivelmente lindo! Que passeio maravilhoso!
Ahh, Berna! Quanta vontade eu tenho de conhecer a Suíça e essa cidade! Não sabia que era a cidade dos ursos, rs, adorei o post!
A Suiça, pelos argumentos que possui, tem conseguido, ao longo dos tempos, conseguir preservar-se de muitos inconvenientes que povoam outras geografias do mundo, nem que tenham que reinventar-se. Até quando, não sei, mas que eles fazem muito por isso, não há a mínima dúvida.
Boa crónica, Ruthia!
Abraço
Que interessante e linda cidade. Gostei muito da forma que você começou o texto, deu pra criar uma ótima imagem na cabeça que depois foi preenchida com as fotos.
Ai iogurte e nutella! Ainda vou para lá fazer figuras de ursa 😉
Beijinhos, bom domingo 🙂
Que lindo Ruthia.
Umas curiosidades da cidade e concordo que havia de terminar este fosso mesmo. Estranhei esta alimentação deles com Nutella.Belas imagens e o pequeno descobridor deve ter adorado a viagem.
Valeu mais esta partilha, esta viagem com voce.
Bjs amiga.
[…] A Suíça é um destino óbvio para chocólatras, mundialmente conhecido pela produção de chocolates e por ser o país que mais consome a iguaria no mundo (11,6kg per capita, em 2021). Muitas das suas famosas marcas organizam visitas às fábricas; alguns dos tours mais populares são na Maison Cailler em Broc, na parte francesa do país, Läderach e Camille Bloch na cidade de Courtelary, a cerca de uma hora de Berna. […]