Atualizado em 27 Fevereiro, 2023

Amante de chocolate e de viagens? Então vai babar com estas rotas de chocolate, inspiradas no alimento dos deuses. Eis alguns paraísos para os chocólatras

Sabia que existe um turismo do chocolate? Há pessoas que viajam para conhecerem fazendas de cacau, chocolatiers famosos, museus de chocolate, ou que fazem programas para aprender mais sobre o seu pecado favorito. E para degustar, claro.

Ainda que a sua essência resida na América Central, nas civilizações maias e astecas, o chocolate foi aperfeiçoado e sublimado na Europa, para onde os colonizadores espanhóis levaram os favos de cacau. Dali, conquistou o planeta, embora os maiores consumidores de chocolate sejam também europeus: entre os cinco maiores consumidores per capita, quatro são do velho continente.

O marketing turístico das nações produtoras de cacau, como o Equador ou São Tomé e Príncipe, é muito orientado para essa atividade. Veja-se o caso do Peru que, para além de “ChocoMuseos” em Cusco e Lima, organiza tours pelas explorações de cacau e possui chocolatiers populares, entre os quais se destaca a Roselen, uma das dez melhores chocolatarias do mundo segundo a National Geographic Travel.

O chocolate inspirou vários espaços museológicos pelo mundo, do famoso Museu de la Xocolata em Barcelona, com impressionantes esculturas de chocolate, ao inglês Cadbury World: Cadbury World, o fantástico mundo do chocolate em Birmingham. Depois há eventos específicos inspirados nesta delícia, como o Salon du Chocolat de Paris ou o Festival Internacional de Chocolate de Óbidos.

Eu nunca viajei com esse único propósito, mas não me importo nada de incluir momentos chocólatras nas minhas viagens. Alguns lugares têm tudo para atrair os amantes de chocolate, garantindo experiências gulosas: das plantações na Costa do Marfim às montanhas suíças, o chocolate é motivo mais do que suficiente para marcar uma viagem.

Feito por e para chocólatras, este artigo foi adoçado com a guloseima mais consumida do planeta. Cliquem nos links das atrações, para mais informação sobre horários e preços.

museu-chocolate-colónia

Colónia, Alemanha

O Museu do Chocolate ou Schokoladenmuseum fica nas margens do rio Reno, em Colónia, num edifício antigo recuperado que evoca a proa de um barco. O espaço nasceu graças a Hans Imhoff, um fabricante de chocolates que assumiu a fábrica Stollwerk, sediada nesta cidade alemã, na década de 1970. Sob a sua direção, a Stollwerk tornou-se uma das principais fabricantes de chocolate da Europa.

Para além de retratar milénios de história do “alimento dos deuses”, o museu interativo e multisensorial integra hoje uma mini fábrica da Lindt, que processa cerca de 400 kg de chocolate diários. Ao longo de três pisos, somos transportados para o mundo do chocolate, começando por uma floresta tropical, com a temperatura e humidade correspondentes, em homenagem aos países produtores de cacau.

Mesmo numa visita independente ficamos com uma visão geral da maquinaria, processo de fabrico e transporte (existem também visitas guiadas). Um dos pontos altos da visita é a fonte que jorra chocolate: pequenos waffers são mergulhados para nossa degustação e contentamento.

No último piso, existem jogos didáticos para as crianças e várias campanhas publicitárias antigas. Também é possível encomendar chocolate personalizado, escolhendo os ingredientes.

Para encerrar a visita, há uma loja repleta de chocolates e um café com uma linda paisagem sobre o rio. O Chocolat Grand Café serve chocolate quente, pecaminosos bolos, brownies e fondue de chocolate, mas também sopas, saladas, waffles e gelados.

Leia também Visitar Colónia | Alemanha: todas as dicas

loja Lindt
Aqui pode encomendar o seu chocolate personalizado.

Chocólatras em Bruxelas (Bélgica)

Bruxelas é o destino perfeito para os fanáticos da iguaria, com o Museu do Cacau e do Chocolate – mais conhecido como Choco-Story -, além de muitos chocolatiers famosos. Existem mais de 500 profissionais do chocolate só na capital, um para cada 2 mil habitantes, mais ou menos.

Os belgas são grandes apreciadores de chocolate. A história do chocolate belga começa em 1857, quando Jean Neuhaus abriu a sua chocolataria em Bruxelas – a loja original fica na Galerie de La Reine. A casa Neuhaus seria responsável pela invenção do famoso praliné, anos depois.

O roteiro chocólatra na capital belga inclui as galerias Saint Hubert, a Place du Sablon e a Grand Place. Ali ficam as principais e mais recomendadas casas: Mary (que se diz ser a preferida da família real), La Belgique Gourmand, Leonidas, Godiva, Neuhaus, Wittamer, Corné Port-Royal ou La Maison des Maîtres Chocolatiers… 

O chocolate belga contém, de uma maneira geral, 100% de manteiga de cacau e, graças a um processo de torrefação do cacau mais longo, ativa ainda mais as papilas gustativas. Sentir o chocolate a derreter na boca é uma espécie de epifania!

Das marcas que conheço, gosto particularmente da Neuhaus e da Leonidas; esta última um pouco mais em conta (julgo que não é artesanal) e, por isso, ideal como souvenir. Existem também lojas multimarcas que vendem chocolates a peso.

O chocolate belga é um dos nossos Bruxelas: 10 motivos para visitar a capital belga

Belgica nas rotas de chocolate

Mestria chocolateira em Suíça

A Suíça é um destino óbvio para chocólatras, mundialmente conhecido pela produção de chocolates e por ser o país que mais consome a iguaria no mundo (11,6kg per capita, em 2021). Muitas das suas famosas marcas organizam visitas às fábricas; alguns dos tours mais populares são na Maison Cailler em Broc, na parte francesa do país, Läderach e Camille Bloch na cidade de Courtelary, a cerca de uma hora de Berna.

A Läderach oferece também workshops em várias localidades suíças. E dizem que os workshops de pralinés da Lindt em Zurique são superconcorridos, apesar de não serem propriamente baratos.

Numa nota mais simples, recomendo uma visita à Sprüngli, incluída na lista de 10 melhores chocolatarias do mundo. Para além do chocolate, esta luxuosa marca é famosa pelos seus Luxemburgerli, que dizem ser melhores do que os macaroons franceses. Na dúvida, é provar os dois.

Aliás, basta entrar numa das muitas chocolatarias do país para ouvir um coro celestial. O olfato é logo ativado: somos inundados pelo irresistível aroma do mais puro chocolate. Depois, as papilas gustativas começam a trabalhar, face à abundância de bombons, barras, cascatas e esculturas de chocolate. Aproveitem para pedir uma amostra do sabor que querem comprar.

Eu tive o meu momento chocólatra em Lucerna, onde me deparei com uma parede a escorrer (literalmente) chocolate, em frente à qual, Ferreros Rocher voadores agitavam as suas asas!

Leia aqui o conjunto de posts que resultaram da última viagem à Suíça.

chocolataria na Suíça
Uma parede a escorrer chocolate… parece saída dos meus sonhos.

Home of Chocolate em Zurique (Suíça)

Perto de Zurique fica a fábrica da conceituada Lindt, que produz chocolate desde 1899, que não tinha visitas às instalações, apenas uma loja outlet. Mas em 2020, a marca abriu o Home of Chocolate que enaltece a Suíça como pioneira na produção de chocolates.

O edifício ultramoderno, assinado por um conceituado gabinete de arquitetura, é impressionante, mas nada nos prepara para a fonte de chocolate de 9,3 metros que recebe os visitantes e que debita 1kg de chocolate por segundo. Uau.

Da visita, destaca-se a sala dedicada às inovações dos mestres suíços: sabiam que foi na Suíça que se “inventou” o chocolate de leite? Porém, achei que as primeiras salas são pequenas para a quantidade de pontos informativos, o que leva a alguma concentração de visitantes com o áudio-guia ao ouvido no mesmo local.

© Lindt

Outro dos pontos altos da visita é a sala de degustação que, numa ponta, tem fontes de chocolate líquido (branco, de leite e preto): ai gente, confesso que abusei da permanência neste espaço!! Na outra ponta, há degustação às cegas, ou seja, tentamos adivinhar o ingrediente distintivo de cada quadradrinho de chocolate que cai de vários dispensadores.

Como se não fosse suficiente, na última sala é possível provar os magníficos bombons Lindor: alguns dos sabores ainda não conhecia. Depois de espreitar um pouco da fábrica, ainda há um leitor de bilhetes que entrega mais um mini chocolate.  

A fábrica da Lindt e o seu museu Home of Chocolate ficam em Kilchberg, na área metropolitana de Zurique, sendo possível chegar lá de comboio, autocarro ou barco, já que a sede fica próxima de uma das margens do Lago. Neste último caso, procure os barcos na estação Burkliplatz;  é um programa charmoso. Existe também estacionamento pago, por baixo do museu.

Refira-se que os áudio-guias são gratuitos e, para além disso, é possível reservar workshops e outras experiências chocolateiras exclusivas, algumas exclusivas a adultos, em alemão e inglês. O espaço conta ainda com a maior loja Lindt do mundo (500 m2 de muito amor) e uma cafetaria.

Home of Chocolate em Zurique

Astorga, Espanha

Por incrível que pareça, o chocolate é um dos produtos mais tradicionais da cidade de Astorga, cuja produção é secular. Existe mesmo um Museu do Chocolate, instalado no palacete de um dos empresários do ramo: um dos muitos edifícios modernistas da cidade leonesa, por influência de Gaudí.  

O cacau chegou a Espanha no século XVI, vindo das colónias sul-americanas, e depressa se reconheceu o seu potencial económico. Sabiam que o chocolate era tomado amargo no México, e só com a chegada dos espanhóis foi adicionado o açúcar? Que este passou a ser tomado quente e rapidamente se transformou num artigo de luxo?

Para além da evolução histórica, no museu podemos ver a maquinaria tradicional e os utensílios usados para misturar a pasta de cacau com açúcar, artesanalmente. O espaço possui também material publicitário de diversas fábricas históricas da região.

Nós visitámos este museu acolhedor há alguns anos e escrevemos sobre a experiência em Astorga do Chocolate. Se vai visitar esta cidade da comunidade de Castilla e León, inclua no roteiro este pequeno museu, que parece uma casinha de chocolate. A visita termina com uma pequena degustação.

Museu do Chocolate de Astorga

Destinos chocolateiros em Portugal

O projeto Fábrica do Chocolate fica num edifício centenário em Viana do Castelo, onde já se fabricou muito chocolate, e une hotel, restaurante e um museu dedicados à temática. O Museu da Fábrica do Chocolate é divertido, apesar de pequeno. Ali se pode explorar um pouco das origens, história e curiosidades do chocolate, num circuito com cinco áreas, e simular a produção da nossa própria tablete, que é entregue à saída.

O pequeno hotel possui 18 quartos únicos, inspirados em marcas de chocolate, no imaginário de Charlie e a Fábrica de Chocolate ou do clássico Hansel e Gretel, e um SPA com tratamentos de chocoterapia. Existe também um restaurante que, confesso, não fiquei fã porque não tinha mousse de chocolate (para desgosto do pequeno explorador) e os pratos que deviam apresentar grué de cacau, chegaram sem esse ingrediente.

Mais recentemente, fomos explorar o conjunto de museus do WOW – World of Wine, em Vila Nova de Gaia, e descobrimos que também tem um pequeno espaço “chocolateiro”. Este Museu do Chocolate também destaca a história e processo de produção que transforma as humildes favas de cacau no mais sublime “alimento dos deuses”.

Gostei bastante do espaço com anúncios publicitários do século passado, em televisões muito antigas, incluindo as “Fantasias de Natal” do chocolate Imperial. No final, é possível obter chocolates personalizados da marca própria do WOW, a Vinte Vinte, produzidos na fábrica interna (as embalagens são lindas).

Fábrica do Chocolate em Viana do Castelo
A produzir a sua tablete na Fábrica do Chocolate, em Viana do Castelo.

Costa do Marfim, África

Sabia que a Costa do Marfim é o maior produtor de cacau do mundo? Uma vez que moro neste país da África Ocidental há mais de um ano, seria imperdoável não mencionar este facto. Ainda que não seja um destino turístico óbvio ou fácil, a Costa do Marfim merece ser mencionada nestas rotas de chocolate.

É possível visitar plantações em cacau em várias regiões do país, sendo o projeto de ecoturismo Domaine Bini uma das opções mais simpáticas, pelo fácil acesso e proximidade a Abidjan, a capital económica. Após a primeira visita (entretanto já voltei mais vezes) escrevi um artigo detalhado sobre a experiência: Domaine Bini, ecoturismo na Costa do Marfim.

O país ainda é muito produtor e pouco transformador, mas existem honrosas exceções. Eu conheci uma pequena unidade fabril de chocolate perto de Azaguié, num dos trilhos que fiz aqui, que produz a marca Ivory Blue.

cacau da Costa do Marfim
O cacau fresco das plantações Bini Forêt

Hershey, Pennsylvania (EUA) e Brasil

A cidade americana, também conhecida como Chocolatetown, foi batizada em homenagem a Milton S. Hershey, fundador da marca de chocolates Hershey’s. Para além da fábrica da empresa, este destino oferece programas ideais para quem ama chocolate, nomeadamente o Spa Hershey Hotel, com tratamentos de chocoterapia.

No Brasil, destinos como Gramado e Monte Verde são bem conhecidos entre os amantes de chocolate. Para além do clima perfeito para apreciar um chocolate quente ou um fondue de chocolate, Gramado possui várias fábricas artesanais, o Reino do Chocolate (museu) e o Mundo do Chocolate (parque temático com pontos turísticos esculpidos em chocolate). Em Monte Verde, Minas Gerais, também encontra uma série de chocolatarias tradicionais, sendo a mais antiga a Gressoney (1978).

Conhecem outros destinos ideais para chocólatras? Acrescentem nos comentários que lugares deviam estar nestas rotas de chocolate.