Atualizado em 15 Abril, 2021

A noite do Pinheiro, a 29 de Novembro, é a mais longa do ano na cidade-berço. O ritmo dos tambores dura até de madrugada, numa tradição que se perpetua há vários séculos

Milhares de pessoas estão na rua, apesar do frio. Algumas delas vieram da outra ponta do país, para não perder esta noite intrigante. Os velhos nicolinos destacam-se entre a multidão, pelo trajar, pela segurança dos gestos, pelo barrete vermelho e verde que têm na cabeça. Cabe-lhes impor o ritmo de todos os tambores que tocarão esta noite.

E este é um ritmo forte, com bombos a ecoarem com estrondo, rasgando a escuridão. São necessárias várias pessoas para carregar estes tambores maiores, algumas delas têm as mãos ligadas, porque tocarão até se formarem bolhas de sangue.

Outros, velhos e novos, empunham tambores menores (as caixas), cujos floreados enriquecem esta música que nos entra na alma. No centro do cortejo, uma junta de bois enfeitados, animais imponentes que nada temem, carregam um pinheiro. A árvore será enterrada do outro lado da cidade.

Mas a noite começou muito antes, com as ceias nicolinas em (quase) todos os restaurantes da cidade, com rojões, grelos, papas de sarrabulho e vinho verde.

Pinheiro inaugura as Nicolinas

O Pinheiro inicia as Nicolinas, as festas dos estudantes do antigo Liceu de Guimarães, em honra de S. Nicolau de Mira. A primeira referência a estas festas remonta ao século XVII, após a construção de uma capela e o aparecimento de estatutos da Irmandade de S. Nicolau. Como em muitas outras festas, sagrado e profano misturam-se de forma inequívoca.

Alguns dizem que o cortejo do pinheiro está relacionado com a tradição minhota de anunciar festejos erguendo um mastro. Outros apontam-lhe uma conotação fálica e, de facto, a comissão de festas permanece um reduto masculino.

Certo é que poucos jovens de Guimarães ficam indiferentes a esta noite mágica, em que o rufar dos tambores afugenta males invisíveis, seguindo o toque dos velhos nicolinos e dos outros rapazes que aprenderam a tocar nos últimos meses.

Chuva intensa não impede a multidão de sair à rua. 
Participantes do Pinheiro
Durante a manhã, as crianças fazem o seu cortejo.  Mas a noite é dos estudantes e dos velhos nicolinos

Enterrado o pinheiro, as festas continuam em Guimarães até 7 de Dezembro, com o Pregão de S. Nicolau, versos satíricos lançados ao vento, ao jeito dos antigos pregões que traziam notícias em tempos medievais. Segue-se as Maçãzinhas oferecidas às raparigas, o Baile Nicolino e a Roubalheira.

*** As fotos usadas foram generosamente cedidas pelo Ricardo Ribeiro, que já colaborou antes com O Berço do Mundo. Conheçam o seu trabalho aqui