Atualizado em 16 Abril, 2021

Continuamos no coração do território templário, desta vez em Tomar, para visitar a januela manuelina dos nossos livros de história

Tomar foi fundada pelo grande Gualdim Pais (se forem a Tomar, saibam que a sua estátua guarda um “segredo”). Digo grande porque era minhoto (tendenciosa), um valente guerreiro, que se tornou o 4º Mestre da Ordem dos Templários.

Foi ele que transferiu a sede da Ordem de Soure para Tomar e, graças a isso, hoje podemos pasmar perante o Convento de Cristo, património da humanidade desde 1983 pelo que representa – segundo a Unesco simboliza o mundo medieval europeu, das cruzadas – e também pela sua célebre janela. A janela do capítulo.

Chamam-lhe “janela manuelina” porque foi projectada pelo próprio monarca e o artista, Diogo Arruda, seguiu os ditames reais. Não era muito sensato contrariar um rei, mesmo um conhecido como O Venturoso

Convento de Cristo, onde fica a janela manuelina
interior do Convento de Cristo em Tomar

O resultado é uma nova gramática decorativa, dizem os entendidos, que mistura a arte europeia com a oriental, com motivos náuticos, que espelha a visão universalista que D. Manuel I tinha para Portugal (daí os Descobrimentos). Do lado de dentro da famosa janela, ficam duas fontes (imagem acima) onde se realizavam os autos-da-fé. A culpabilidade dos réus dependia de que boca jorrava a água.

Mas o Convento de Cristo é muito mais do que uma janela, por muito bela e manuelina que seja. Ele é um dos maiores complexos monásticos da Europa e, para além disso, tem uma imponente Charola Templária, centrada, tal como o Templo da Rocha, em Jerusalém.

Todo o edifício, belíssimo, resulta de seis séculos de ininterrupta construção, reconstrução, alterações, decorações e acréscimos. Mesmo durante a dinastia filipina, quando os espanhóis se sentaram no trono, as empreitadas continuaram.

Perto de Tomar, existem outros locais ligados à história dos Templários, como sejam a Quinta da Cardiga (hoje votada ao abandono) e o  Castelo de Almourol, numa pequena ilha do rio Tejo.

charola do convento de Cristo
Nesta charola, o Mestre Templário abençoava os guerreiros montados a cavalo, antes de cada campanha militar

Deambulámos durante algumas horas, até porque a Joana conhece bem os cantos à casa. Aliás, a companhia de teatro a que pertence (Fatias de Cá) utiliza o Convento como cenário para várias peças! Saibam que as performances duram várias horas, pelo que há pausas para comer. Por exemplo, O Nome da Rosa durava mais de quatro horas e tinha 6 momentos de refeição. Só tenho pena que seja demasiado rebuscado e prolongado para o Pedro aguentar!

Terminamos, cansados mas felizes, na cafetaria do Convento de Cristo. Parece o lounge de um hotel. Infelizmente, não houve tempo para explorar a cidade nabantina (porque é banhada pelo rio Nabão), que evoca longínquas e alegres memórias dos meus tempos universitários.

Um dia volto. Quem sabe durante as famosas Festas dos Tabuleiros?

Quinta da Cardiga, perto de Tomar
A Quinta da Cardiga

P.S. A sangrenta extinção dos templários foi muito mais razoável, em Portugal, graças à habilidade de D. Dinis que criou uma nova Ordem (de Cristo) para onde se transferiram cavaleiros, bens e o próprio Convento. Grande diplomata.