Atualizado em 6 Outubro, 2022
Tomar, antiga sede dos Templários, é muito mais do que o Convento de Cristo. Fomos explorar a cidade banhada pelo Nabão durante um evento muito especial: a Festa dos Tabuleiros
Ao sinal, os tabuleiros são colocados no topo das cabeças. O desfile parte da Mata dos Sete Montes rumo ao centro histórico, percorrendo as ruas apinhadas. Na Praça da República recebe a bênção religiosa, antes de continuar o percurso de 5 km.
As senhoras, vestidas de branco, carregam um tabuleiro que deve ter a sua altura, decorado com flores de papel, espigas de trigo, 30 pães e uma coroa rematada com a Cruz de Cristo, ou a pomba do Espírito Santo. Um homem – pai, irmão, marido, namorado – acompanha-a, gravata ao peito a condizer com as suas fitas, ajudando-a se for necessário. É que o tabuleiro pesa bastante (entre 18 a 23 kg).
Milhares de pessoas chegam à cidade atraídas pela festa, que se realiza apenas de 4 em 4 anos. Em 2019, o cortejo final, no domingo, recebeu cerca de 600 mil visitantes, incluindo o Presidente da República.
As raízes da Festa dos Tabuleiros perdem-se na memória dos tempos. Possivelmente teve origem nas práticas ancestrais de entrega das primeiras colheitas a Ceres, a deusa romana da agricultura e da fertilidade. Hoje todos associam as festas com o Espírito Santo. Mais do que um evento religioso, a Festa dos Tabuleiros é uma linda tradição portuguesa, que se pretende candidatar a património imaterial da UNESCO.
O centro histórico de Tomar
O coração do centro histórico bate na Praça da República, junto à estátua de Gualdim Pais. É ali, em frente ao grão-mestre dos Templários portugueses, fundador e povoador de Tomar, que deve começar a sua aventura.
Este é o centro da área medieval, organizada em cruz, orientada pelos pontos cardeais e com um Convento em cada ponta. A Oeste fica o famoso Convento de Cristo, sede da Ordem dos Templários, numa colina sobre a cidade. Este foi um dos primeiros locais portugueses a receber a distinção de Património da Humanidade, em 1983.
A Sul fica o Convento de São Francisco, onde se pode visitar um curioso Museu dos Fósforos. A Norte fica o antigo Convento da Anunciada e a Este, nas margens do rio, o Convento de Santa Iria.
Abra-se um parêntesis para falar do Convento e da lenda de Santa Iria. A linda freira terá despertado amores inflamados, na época dos visigodos, e acabou degolada por causa disso. O corpo foi lançado ao rio, dali apanhou o curso do Zêzere, até entroncar no Tejo. Diz a lenda que Iria chegou a uma terra que recebeu o seu nome (Santarém), onde as águas do rio Tejo se abriram, para exibir o seu caixão.
Ainda hoje a 20 de Outubro, data do seu martírio, se deitam pétalas de rosa no local da sua morte, antes de se iniciar a procissão junto ao rio. Este rio, de seu nome Nabão, pode ser inclemente durante as cheias de Inverno. Mas no Verão é um charme, em particular no Parque do Mouchão, com a sua nora de madeira, que evoca os tempos prósperos de outrora.
Outros tesouros da região
A cidade de Tomar possui uma forte herança judaica, que vale a pena assinalar. Na Rua da Judiaria encontrará uma antiga Sinagoga do século XV. Depois de servir como sinagoga, escola, assembleia e tribunal da comunidade, o edifício acolhe hoje o Museu Luso-Hebraico de Abraão Zacuto (astrónomo e matemático quatrocentista).
A tranquilidade do interior contrasta com a azáfama das ruas, enfeitadas pelos moradores. A eleição da mais bela será renhida.
Nas redondezas há outros pontos para explorar, mas não deixe o centro histórico sem provar os doces locais. Falo das tradicionais Fatias de Tomar, feitas com gemas de ovos batidas exaustivamente. São cozidas em banho-maria numa panela especial, inventada pelo Sr. Aurélio, um latoeiro do século passado. Devo alertar que são muito (quase demasiado) doces.
Pode queimar as calorias extra subindo até ao Castelo e respectiva Mata dos Sete Montes que, no seu todo, constituem um dos maiores conjuntos monumentais da Península Ibérica, no espaço (cerca de 45 hectares) e no tempo (sete séculos de construção).
Castelo de Bode, uma das maiores albufeiras do país, fica um pouco mais longe e convida a um mergulho. Pode também fotografar o Aqueduto dos Pegões e o cinematográfico Castelo de Almourol. Mas primeiro desfrute da linda Festa dos Tabuleiros: a próxima é em 2023.
Dicas úteis para a Festa dos Tabuleiros
Como chegar: Tomar fica fica no distrito de Santarém, a cerca de 200 km do Porto e 138 km de Lisboa. Do Porto, deve apanhar a auto-estrada A1 e depois a A13, em Coimbra, em direcção a Lousã/Tomar. Em alternativa, faça A1-A23-A13/IC3. De Lisboa deve tomar a A1 em direcção ao Norte, sair para a A23 e apanhar a saída para A13/IC3.
A cidade tem ligações directas de comboio desde Lisboa (consulte horários e preços no site da CP) e ligações de autocarro da Rede de Expressos a partir de várias cidades. Ou pode optar por um Tour Templário dos Cavaleiros de Tomar e Almourol ou Passeio de dia inteiro a Tomar e Almourol (com passeio de barco), ambos com saída de Lisboa.
Onde estacionar: Tomar recebe milhares de visitantes no último dia da Festa dos Tabuleiros, por causa do desfile. Porque as ruas centrais são cortadas, a cidade prepara vários pontos de estacionamento. Pode consultar o seu estado em tempo real, através da aplicação Smarter Fest, disponível para o iOS e Android, na App Store e no Google Play. Esta app permite também perceber onde o cortejo está a passar, ao minuto.
Onde ficar: o centro de Tomar não tem muitos hotéis disponíveis, já que a cidade é pequena. Uma opção segura será o Hotel dos Templários, um quatro estrelas com vista para o rio, ou o elegante Thomar Boutique Hotel. Para opções mais económicas existe o Hostel 2300 Thomar, no centro histórico.
O que comer: comida tradicional portuguesa, peixe de rio (lampreia e sável) e feijoada de caracóis!! Espreite a Casa das Ratas (Rua Dr. Joaquim Jacinto, nº 6), que mantém o ambiente de taberna e serve vários petiscos: as iscas são famosas. A Taverna Antiqua (Praça da República, nº 23) oferece uma refeição à luz de velas num ambiente medieval. Prove também os doces regionais: Fatias de Tomar, “Beija-me Depressa” e queijadas.
A região possui vários vinhos premiados que poderá querer conhecer. É o caso do Casal das Freiras, Encosta do Sobral, Solar dos Loendros e Herdade dos Templários.
Este post faz parte do 8on8, um projecto colectivo que une lindas viajantes em volta de um tema comum, no dia 8 de cada mês. Espreitem os restantes textos sob o tema “centros históricos”, inspirem-se e partilhem (por ordem alfabética):
Chicas Lokas – O charmoso Centro Histórico de Florianópolis
Destinos Por Onde Andei – Conexão em Bogotá, o que fazer?
Let’s Fly Away – Viagem para Dubai, desvendando seu centro histórico
Mapeando Mundo – Oito atrações para visitar no centro histórico de Praga
Travel Tips Brasil – O que fazer em Bergen – andando pelo centro histórico
Turistando.in – Um passeio pelo centro histórico de Gênova na Itália
Turista FullTime – Centro histórico de Manaus e as principais atrações
33 Comentários
Que b ela festa e tão boas dicas pra melhor conhecer! Gostei! Bjs E Tudo de bom,chica
Fico aqui imaginando como é antiga a origem da festa. Do tempo que se entregava as primeiras colheitas a Ceres. É muito comum que costumes pagãos tenham sido transformados em costumes cristãos, pois o mais importante era que não se perdesse a tradição, não é mesmo? Torcendo para que a Festa dos Tabuleiros entre para a listas dos patrimônios culturais da UNESCO.
Portugal conseguiu que 2 sítios integrem a lista de património mundial este fim-de-semana: o Bom Jesus de Braga e o Convento e Tapada de Mafra. Significa mais atenção e preservação do património
Adorei! Que fotos lindas, que criancinha mais fofa!!! Obrigada pelas dicas, quero conhecer essa festa o quanto antes.
Que festa maravilhosa essa festa de tabuleiros de Tomar! A história toda da cidade é simplesmente fascinante, a começar pela da freira que sofreu martírio por despertar amores! Que delicadeza a procissão com pétalas de rosas. Fiquei aqui só imaginando. Me senti visitando com você esse lindo momento cultural.
Já tinha estado várias vezes em Tomar, mas nunca tinha tirado tempo para fotografar o centro histórico direito. Este fim-de-semana fui no sábado, para deambular pelas ruas enfeitadas e depois no domingo, para o desfile final. Adorei o ambiente da festa, os tomarenses ficam muito felizes por participarem no cortejo
Nunca assisti à Festa os Tabuleiros, obrigado pela partilha… agora é “só” esperar mais quatro anos. 🙂
Passa num instante. Só é preciso alguma organização prévia, senão acontece-te como o Vassalo, que teve que ir pernoitar… a Lisboa.
Gente, nunca ouvi falar desta festa e nem da cidade … e já fui em lisboa 2 vezes. Quanta tradição e alegria! Obrigada pela riqueza da descrição da festa de tomar.
Abraços.
Todos os portugueses já ouviram falar, mas poucos já assistiram ao vivo. Eu também fui este ano pela primeira vez
É incrível como um país tão pequeno como Portugal pode ter tantas cidades lindas. Visitei Tomar muitos anos atrás e me apaixonei pela cidade. Adorei saber sobre essa Festa dos Tabuleiros em Tomar. O post está muito completo. Desconhecia a existência da festa, mas agora quero ver ao vivo. Quem sabe daqui 4 anos…
É um país pequeno e singular, com muitos tesouros escondidos. A Festa dos Tabuleiros é apenas mais um
E eu que pensava que já havia visto de tudo nesta vida…
Como assim, uma festa com mulheres carregando enormes ornamentos coloridos, nunca imaginaria, juro, rsrs.
Fiquei perplexa, curiosa e louca para participar de um evento tão importante e lindo desses, pena que não aconterá quando estarei em Portugal, agora em julho e agosto/19.
Fica nos sonhos e na lista de desejos viajeiros.
Grande beijo!
Há tradições muito curiosas. Cada elemento do “tabuleiro” tem um significado. Por exemplo, os 30 pães simbolizam as chagas de Cristo. Não deve ser fácil carregar aquilo 5 km, até porque há paragens constantes
Que bonita e animada festa! Fiquei bem impressionada com os tabuleiros e com o peso, e como as pessoas apesar do peso carregado estão sorridentes!
Como Portugal tem uma cultura e tradições ricas não é? Fico encantada com o que vou conhecendo sobre o país. Temos muito o que ver e aprender. Lindo demais.
Nunca havia escutado falar dessa festa e deve ser mesmo muito peculiar. Achei lindas as mulheres a carregar os cestos coloridos nas cabeças.
Que linda a festa dos tabuleiros de Tomar! Vale muito uma viagem, né? Conhecer essa tradição de pertinho. Adorei
É uma tradição de grande beleza estas festas de Tomar, aproveito para desejar um bom fim-de-semana.
Já fiquei empolgada em conhecer Tomar, independentemente da Festa dos Tabuleiros. Eu adoro esta mescla de diferentes culturas, religiões e estilos, tão presente em Portugal! e, quando leio a palavra “Castelo” em dado destino, aí sim é que fico doida pra visitar!
Belo post. Parabéns!
Tomar merece uma visita sim, em qualquer altura. Durante as festas, apesar das ruas estarem mais bonitas, também há muita confusão. Não se consegue desfrutar tão bem a visita.
Estou encantada com a cidade de Tomar, suas fotos e relatos ficaram incríveis! E essa festa dos Tabuleiros..muito linda!
Incrível a história de Tomar! Realmente a festa dos Tabuleiros parece ser linda. Muita vontade de conhecer! gostei de conhecer aspectos culturais como a lenda de Santa Iria. Lindo post!
Linda história, viajer é conhecer historias, culturas e muito mais né? Essa festa de tabuleiros deve ser incrível de conhecer adorei, quem sabe um dia vou nela.
Oi Ruthia, que relato cheio de histórias interessantes. Fiquei muito curiosa para provar as Fatias de Tomar, pois adoro doces portugueses. Tenho certeza que deve ser delicioso! A festa dos tabuleiros é muito bonita esteticamente, gostei muito das fotos. Gostaria de ter a oportunidade de participar um dia e apreciar a cultura local.
É verdade, é muito vistosa e rende lindas fotos, muito coloridas. Foi a primeira vez que assisti ao vivo e fiquei encantada
Que incrível essas cidade e essa festa. Realmente o pessoal da cidade se envolve bastante com o festival né?? Querendo ir muito a Portugal. Quem sabe eu não planejo essa ida para 2023 para aproveitar a próxima festa. 🙂
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Este Portugal vive a mexer com meu coração, o enchendo de vontade de voltar! Embora guarde profundas e significativas diferenças, a Festa dos Tabuleiros lembrou-me, à medida que fui desenrolando o texto, da Lavagem do Bonfim aqui em Salvador. Como são ricas estas nossas festas populares! Faz bem a cidade de Tomar em candidatar a festa a património imaterial da UNESCO. Não sei se um dia conseguirei estar ai para a próxima, daqui a 4 anos, mas quem sabe em próxima visita a Portugal, não consiga visitar Tomar e seu bonito centro histórico?! 🙂 bjokas
Essa festa do Tabuleiro me fez recordar uma festa medieval de Gubbio chamada “Corsa dei Ceri”, algo como a corrida dos candelabros. Dizem que sua origem é católica, mas há quem afirma que é pagã e que remonta das épocas pré-cristãs. Ao invés das mulheres, são os homens que carregam um tipo de candelabro imenso que pesa mais de 300 kilos e devem chegar até a parte mais alta da cidade.
Curiosa essa organização do centro histórico de Tomar…. Para mim, a desorganização das nossas ruas é uma herança portuguesa. Rsrsrsrs
E uma das coisas que mais adoro em teu post são as dicas gastronômicas… Feijoada de caracóis…. Será que isso é bom?
ps: não sabia que vocês diziam “Este” (para nós é Leste)
Nunca ouvi falar dessa festa medieval com candelabros. Deve ser bem interessante.
Quanto à (des)organização das cidades portuguesas, há de tudo. As cidades mais antigas não tinham qualquer planeamento, claro. Afinal urbanismo é uma “arte” recente. Mas há excepções notáveis
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Bom dia! Vim avisar que acabam de entrar por lá céus teus. Obrigadão! beijos, chica
Podes ver aqui:
http://ceuepalavras.blogspot.com/2019/10/ceus-da-ruthia-e-cris.html