Atualizado em 23 Abril, 2021

No sul da China existe uma réplica do famoso Palácio Yuan Ming, o palácio de Verão de Pequim. Nós fomos conhecer o espaço em Zhuhai, no delta do rio das Pérolas

Cerca de dois mil quilómetros separam Zhuhai de Pequim, o que se traduz em 17 horas de viagem de comboio ou dois dias de autocarro.

Provavelmente, muitos moradores do sul nunca visitaram a capital. Com certeza terão ouvido falar da grandiosidade e da perfeição da Cidade Proibida e de outras construções imperiais mas, como se sabe, muitas pessoas não têm qualquer capacidade de abstracção ou compensam a falta de imaginação com a tradição. “Sempre assim se fez” e ponto final.

Perdoem esta minha tirada existencial, na verdade não posso dizer que conheço os chineses só porque tenho alguns amigos dessa nacionalidade ou a partir desta breve experiência num cantinho do seu imenso território.

Alunas coreanas celebram o ano do carneiro

De qualquer forma, é bem conhecida a sua tendência para copiarem em vez de criarem, fazem réplicas de Rolex e malas Prada mas tive dificuldade em encontrar uma loja de roupa tradicional. E nem me quero lembrar do pastel de nata made in China que provei… A civilização chinesa já não é a mesma que inventou o papel e a pólvora.

Em Zhuhai, existe uma réplica do Palácio de Verão de Pequim, preciosidade que tive oportunidade de visitar. A ideia foi recriar parcialmente o grandioso complexo de jardins e palácios de Yuanming (cinco vezes maior do que a Cidade Proibida), parcialmente destruído no século XIX, durante a segunda guerra do ópio.

A fachada é impressionante, mas o desapontamento foi crescendo desde que entrei no recinto. É com muita pena que escrevo isto, mas afirmo-o de uma forma categórica. Conseguiram transformar um espaço que se pretendia pedagógico/museológico numa feira de horrores.

Arte em caramelo, inspirada no zoodiaco chinês

Meandros do Novo Palácio Yuanming

Como descrever o Novo Palácio Yuanming? Um cruzamento entre um parque aquático e uma feira da Disney deprimente? Podem achar que exagero, já que conheço muitos sítios históricos na Europa, portanto os meus termos de comparação serão exigentes.

Emoldurado por grandes montanhas verdejantes, o espaço está dividido em três áreas. A primeira inclui o portão da Rectidão e da Honra e o palácio onde se resolvia assuntos de Estado. Existe ali uma placa que diz “governo diligente e talentoso” (动政亲贤, dòng zhèng qīn xián) da autoria do imperador Kangxi, apelando ao empenho na governação e à cooperação com os seus conselheiros.

Na segunda, estão os aposentos privados do imperador, os “nove continentes de clareza e calma”, com vários edifícios voltados para o belo Lago Fuhai. No meio deste, existe um terraço que acharam por bem baptizar de “terraço de jade da ilha paraíso“. Por fim, a terceira área tem claras influências do barroco, revelando a curiosidade de alguns governantes da dinastia Qing para com os ocidentais.

Tudo isto parece muito bem, não fosse pelo facto de não existirem folhetos informativos sobre o que estamos a ver. Some-se a isso o facto de sermos constantemente interpelados por vendedores, que nos tentam impingir uma fotografia. O preço da fotografia dependerá do fato que escolhermos, sendo os do imperador e imperatriz obviamente mais caros.

Escolhida a indumentária, passa-se pela caracterização. Sim, existe uma pequena penteadeira para compor o penteado e a maquilhagem. Segue-se a pose para o fotógrafo no trono ou noutro espaço qualquer, perante dezenas de espectadores. Escusado será dizer que quem não comprou uma fotografia não tem acesso a esses lugares especiais. Ou queriam sentar-se no trono dourado sem pagarem?

Logo ao lado – na verdade não existe qualquer separação – fica a Lost City, um parque de diversões com carrosséis, escorregas de água e barraquinhas de souvenirs manhosos. Portanto, esqueçam qualquer estado zen que um lugar como este poderia oferecer a um ocidental em busca de si mesmo.

Encontrei essa tranquilidade num templo em Foshan, uma outra cidade da província de Guangdong, mas sobre isso falar-vos-ei noutra entrada deste diário irregular.