Atualizado em 9 Abril, 2021

Os chineses são já a maior comunidade de estrangeiros em Angola, ultrapassando os portugueses. E a sua presença revela-se em cada esquina

Os chineses dizem 安哥拉 (Āngēlā). O nome, fonético, inclui um caracter auspicioso: 安 (ān, paz), muito utilizado na toponímia chinesa, por exemplo, na famosa praça de Tianamen. A parceria entre Angola e China, iniciada após o fim da guerra civil angolana em 2002, tem sido assim: pacífica e próspera.

Angola tornou-se o maior fornecedor de petróleo daquele gigante asiático e este, por seu lado,  assegurou que grandes infraestruturas, como o novo aeroporto internacional de Luanda (no Bom Jesus), fossem construídos por empresas chinesas. De resto, a China tem apostado fortemente no continente africano, com empréstimos e grandes projectos de reconstrução, em troca dos recursos naturais necessários ao seu desenvolvimento (mais informação sobre o assunto aqui e aqui).

Esta presença estratégica redesenhou a paisagem angolana, em particular em Luanda, onde as empresas chinesas se concentram. Para mim, que estudo mandarim há três anos, é um passatempo delicioso ler os caracteres chineses que surgem em cada esquina, anunciando de arranjos de carros à venda de areia.

Foi no trajecto entre Luanda e a pequena vila da Muxima que fotografei a maioria das imagens que acompanham este post. Primeiro, chamaram-me a atenção para a Nova Cidade de Kilamba, construída por chineses, que o governo angolano promoveu como um paraíso para a classe média que quisesse fugir do turbilhão da capital, mas que os jornais chamam de “cidade fantasma”. Agora vai recebendo alguns habitantes, mas ainda está longe do meio milhão de pessoas previsto.

Não muito longe dali, no município de Viana, abriu recentemente a “Cidade da China”, um mega centro comercial especializado em electrodomésticos e mobiliário, acessórios e materiais de construção. Não o fui conhecer, mas aposto que tem uns quantos produtos made in China.

© www.verangola.net

Adiante, perto de Cabala, parámos um pouco para esticarmos as pernas. A poucos metros, um senhor chinês pescava tranquilamente no Kwanza. E eu não desperdicei a oportunidade de praticar um pouco o meu tímido mandarim.

O que acha de Angola?

还行 (hái xíng) – responde com um encolher de ombros, o que quer dizer “mais ou menos”. Como o compreendo, não é fácil estar longe da família.

A trabalhar há cinco anos em Angola na construção de estradas, o meu interlocutor contou-me que deixou a família na China – mulher e quatro filhas todas elas crescidas (então e a política do filho único?) -,  e que aos domingos, o seu único dia livre, pesca ali. Pesca o quê? Ele não sabe o nome do peixe, mas aponta para o balde, e eu vejo um espécimen de longos bigodes.

É pequeno, penso, mas então recordo-me de outra ocasião, em Hong Kong, quando me disseram “para a sopa serve”. Portanto, resta-me desejar um 新年快乐!Feliz Ano Novo, antes de voltar à estrada.

Será que no futuro Luanda terá também a sua Chinatown?!

.