Atualizado em 9 Abril, 2021

Várias pessoas me chamaram corajosa porque viajei até ao outro lado do mundo sozinha.  Vá lá, há mulheres que o fazem todos os dias e medos todos temos mas, regra geral, os nossos monstros são maiores e mais temíveis que a realidade.

Lembram-se do enredo de um dos filmes da saga Hangover, que se passa em Hong Kong? Sim, estava um pouco nervosa em relação ao primeiro impacto com a China, aterrei em Hong Kong à noite, no meio de uma tempestade, teria que apanhar um comboio para chegar a outra ilha e depois um autocarro para chegar ao hotel.

Sabia que em Hong Kong se fala cantonês em vez de mandarim (como se o meu nível de mandarim me safasse, bah!) mas tinha esperança que, ao contrário do que acontece na China continental, toda a gente falasse inglês numa cidade que esteve sob a administração britânica desde a Guerra do ópio até ao século XX.

Foi uma Ruthia jetlaged que, depois de mais de 15 horas de voo, entrou no Royal Pacific Hotel & Towers, em Kowloon, a meca do consumo. Chovia e eu estava muito cansada. Cansada demais para explorar mesmo as redondezas do hotel.

Um oásis móvel, na praça dos Museus, em Tsim Sha Tsui.

Portanto, tudo o que fiz naquela noite foi assistir a uma série na televisão estranhíssima, descansar num maravilhoso e fofo colchão, depois de um longo duche, e aproveitar os mimos desta unidade hoteleira de quatro estrelas que me cobrou os olhos da cara… Valeu bem a pena, pois às seis e meia da manhã só tive que descer as escadas rolantes para apanhar o ferry para Zhuhai.

Regressei a Hong Kong duas semanas depois, na companhia de alguns colegas espanhóis, com a energia necessária para explorar esta metrópole, uma das mais densamente povoadas do mundo, apinhada com sete milhões de pessoas inglesas, chinesas e de muitas outras nacionalidades.

Na manhã seguinte, como os meus companheiros só marcaram encontro às nove e eu sou um pintassilgo madrugador, palmilhei a Avenue of Stars sozinha. Porque os meus sonhos e a minha curiosidade são maiores do que os meus medos! Como é o ditado? Vai. E se der medo, vai com medo mesmo! Até porque, estou em crer que os malfeitores ainda dormem por volta das sete da manhã.

O simpático pescador apanha peixes-pedra. “They are small… for soup is ok”.

Recordo-me que procurava o mercado dos pássaros (em Hong Kong existem mercados de tudo, de flores a material electrónico, de antiguidades a frutos do mar secos) e, depois de duas tentativas junto de moradores da cidade, pedi indicações a um australiano de mapa na mão.

Sorry, I’m as lost as you!

I am not lost, I know where my hotel is... – retorqui, com uma gargalhada.

That’s a way to put things!

Acabei por ser eu a ajudar o turista ruivo de sotaque engraçado, que buscava o escritório da American Express mas nem sabia que HK é composta por duas grandes ilhas, a que carrega o seu nome e Lantau (onde fica o aeroporto e o mais maravilhoso Buda gigante do planeta), para além da península de Kowloon e muitas outras ilhotas pequenas.

At the end of the day, your feet should be dirty, your hair messy and your eyes sparkling!