Atualizado em 11 Junho, 2023

Em 1762, um menino saltou para o colo da imperatriz Maria Teresa, abraçando-a, depois de a deslumbrar com um concerto. Começava a história de amor entre os vienenses e Wolfgang Amadeus Mozart

O prodígio musical nasceu noutra cidade austríaca, mas foi em Viena que viveu os seus anos mais criativos. Foi aqui que Mozart compôs As Bodas de FígaroDon Giovanni e A Flauta Mágica, entre outras obras mundialmente famosas.

Foi aqui que casou contra a vontade do pai e teve filhos, foi ainda em Viena que faleceu, com apenas 35 anos. A sua vida e o seu talento moldaram de forma indelével a cidade, que merece sobejamente o título de capital da música. Viveram aqui mais compositores famosos do que em qualquer outra cidade do mundo…

A primeira paragem neste roteiro inspirado em Mozart faz-se no Palácio de Schönbrunn, a residência de Verão da família imperial. Aos seis anos, Mozart fez aqui a sua primeira apresentação musical, na Sala dos Espelhos, perante um público nada modesto: a família imperial e a elite austríaca. Dizem que a imperatriz Maria Theresa ficou encantada com o pequeno compositor, daí o momento ternurento relatado acima.

Em 1781, o jovem de 25 anos mudou-se para Viena, ficando na Casa da Ordem Teutónica com o seu patrono, o arcebispo de Salzburgo (uma placa comemorativa recorda essa passagem), mas rapidamente declarou a sua independência.

Quando Mozart se mudou para o luxuoso apartamento da Domgasse, já estava em Viena há três anos, tinha casado e passado de artista desempregado a um próspero pianista, compositor e professor de música. Ele terá passado aqui o seu período vienense mais feliz, até porque nunca morou tanto tempo no mesmo sítio.

De entre os vários lugares que acolheram o génio em Viena, a Mozarthaus é praticamente a única que está de pé. Todo o prédio se transformou num museu. Ao longo de três andares, o áudio-guia vai contando o percurso do músico, relacionando-o com a situação sociopolítica da época.

Para mim, foi uma visita um pouco dececionante, confesso, pois não existem ali objetos pessoais. Digamos que falta alma à Casa de Mozart!

Casa de Mozart
© Mozarthaus. É proibido fotografar no interior da casa-museu.

Dali à Catedral St. Stephen é um pulinho. E porque incluímos a linda Catedral de telhado colorido? Porque Mozart casou com a sua Contanze, batizou os seus filhos, e teve o seu corpo velado, por apenas seis pessoas, nesta que é um dos símbolos maiores de Viena. Ainda hoje as obras de Mozart ecoam nesta incrível construção do século XII, nos concertos da Páscoa e do Natal.

Impossível esquecer a esplêndida Ópera de Viena (Wiener Staatsoper), inaugurada em 1869 com Don Giovanni, essa ópera brilhante de Mozart que tem como “herói” um nobre depravado. Visitámos o espaço no Verão, pelo que não conseguimos assistir a uma ópera ou ballet (a época estende-se de setembro a junho), mas conhecemos os bastidores deste palco histórico através de uma visita guiada.

Homenagens póstumas a Mozart

A inesperada e misteriosa morte de Mozart suscitou grandes especulações e teorias, de envenenamento a gripe, embora provavelmente tenha sido causada por uma infeção intestinal (isso matava, na altura)… o certo é que o músico estava na penúria e foi enterrado numa vala comum do histórico cemitério de S. Marcos, depois de uma cerimónia triste. Há uma estátua de homenagem ao compositor no cemitério, que não visitei.

Catedral de St. Estevão em Viena

No centro da cidade, perto do Palácio de Hofburg e num dos muitos parques de Viena (Burggarten), ergue-se outra estátua comemorativa. Uma clave de sol botânica abre caminho para o monumento construído em 1896, à volta do qual os vienenses fazem piqueniques, leem um livro, apreciam o sol e os amigos.

Outra forma fantástica de conhecer melhor a vida e obra de Amadeus Mozart é visitar a Casa da Música (Haus der Musik), o museu do som com todo um mundo de experiências sensoriais. O terceiro piso é dedicado aos grandes compositores e, como é óbvio, existe ali uma sala dedicada ao Mozart e até um holograma da sua cabeça. Mas este roteiro não fica completo sem pararmos para apreciar a sua música.

Concerto Mozart

A obra do génio é a motivação da Wiener Mozart Orchester, que se apresenta hoje em concerto como se estivesse no século XVIII. Horas depois de passarmos ali pela primeira vez, o Musikverein (Clube de Música) está transformado, com uma multidão que se apressa para o concerto da noite.

Diferentes línguas, numa ruidosa cacofonia, revelam que o público é sobretudo composto por turistas. E nem todos cumprem o dress code recomendado. Bem, não estava à espera de smokings e vestidos compridos, mas também não esperava alguns calções e t-shirts… É neste ambiente informal que somos encaminhados para os nossos lugares, na mais bela e opulenta sala do Musikverein: o Salão Dourado (Große Musikvereinssaal).

© musikverein.at

Por momentos abstraio-me dos chineses que se desdobram em selfies. Porque há cariátides que se sucedem, há o ritmo que as formas e as cores criam nas paredes e no teto, onde afrescos retratam Apolo e as nove musas, numa bela harmonia renascentista.

Por cima dos beirais e do órgão, esculturas brancas contrastam com o dourado e, sob as janelas, bustos de mármore recordam vários compositores. O arquiteto quis, e conseguiu, criar um ambiente maravilhosamente clássico para o desempenho de “obras clássicas”.

A sala é conhecida em todo o mundo, graças à transmissão televisiva do concerto de Ano Novo da Orquestra Filarmónica de Viena, aqui sediada. Para além disso, é o palco principal da Orquestra Mozart de Viena. Criada em 1986, com o objetivo de manter viva a tradição musical do período clássico vienense, a orquestra dedica-se exclusivamente à obra do compositor.

Vienna Mozart Concert

O público emudece à medida que os músicos entram em palco, ricamente trajados. Segue-se, pouco depois, o maestro, igualmente de fato histórico e peruca. Afinam-se instrumentos, o maestro levanta a batuta…

Espera-nos uma “Academia Musical”, muito comum no século XVIII, com fragmentos de sinfonias e concertos solistas como aberturas, árias e duetos de óperas famosas. Como podem imaginar, pequenos excertos das obras mais célebres de Mozart resultam num concerto nada monótono.

A noite começa com a abertura da ópera Die Entführung aus dem Serail, que conta a história do resgate de Constanze das garras de um paxá, que a comprou para o seu harém. Ao longo da noite, ouviremos também duetos de Don Giovanni e da Flauta Mágica (Papageno é sempre interessante de se ouvir), com a soprano Sera Gösch e o barítono Christian Eisenberger.

Rondo Alla Turca, a belíssima sinfonia nº 40, Eine Kleine Nachtmusik (K 525 Allegro), em suma, as melodias que reconhecemos prontamente estavam lá todas.

O público aclamou generosamente, de pé, todo o entusiasmo mozartiano (vamos fazer de conta que o verbo existe) do maestro. No final, este ofereceu a sua batuta a uma menina de palmo e meio. É proibido filmar dentro do salão dourado, mas existem alguns vídeos no youtube que servem de fundo sonoro para este nosso texto musical, sobre o Vienna Mozart Concert.

Nota: Fomos convidados da Orquestra Mozart de Viena, a quem agradecemos a cortesia. Como sempre, as opiniões transmitidas neste artigo são pessoais e sinceras.