Atualizado em 27 Fevereiro, 2023

Arthur Guinness acreditava tanto na sua cerveja, que a baptizou com o nome de família. Dois séculos e meio depois, a sua porter cremosa é um símbolo nacional

Qual será a atracção mais visitada em Dublin? A catedral de St. Patrick ou o Temple Bar? A Casa de James Joyce ou o Phoenix Park? Eu respondo. É a Guinness Storehouse, a casa da marca irlandesa.

A história da própria cidade está entrelaçada com a da cervejeira, que produz 1,7 milhões de litros diários de cerveja preta e chega a mais de 150 países. A sua publicidade – presente e passada – faz parte da paisagem urbana de Dublin.

Mas nem só de amor à cerveja se explica a importância da Guinness na Irlanda. Por exemplo, a harpa, que todos associamos ao país, é uma marca registada da Guinness. Quando o governo quis usá-la, teve que inverter o símbolo.

O famoso Guinness Book foi uma ideia do gestor da cervejeira no início dos anos 1950, no seguimento de uma aposta de caça. Ainda hoje é a obra que mais lucra com direitos de autor. Ao longo dos anos, a família deixou várias marcas na história e arquitetura de Dublin.

publicidade da Guiness

Explorando a sede da Guinness

Tudo começa no coração de St. James’s Gate. O confiante Arthur alugou ali uma pequena fábrica, em 1759, pelo período de 9.000 anos. Coisa pouca. O contrato de arrendamento pode ser visto na Guinness Storehouse, no início da visita.

A unidade foi crescendo, atravessou o rio, construiu o seu próprio caminho-de-ferro, até se tornar a maior cervejeira do mundo. Na viragem do século XXI, transformou o edifício de fermentação em museu, para contar a sua história.

O percurso interactivo desenvolve-se ao longo de seis andares, num edifício em forma de copo de cerveja. Um copo gigante, capaz de receber 14,3 milhões de pints de Guinness. Isto é sinónimo de mais de 8 milhões de litros, já que cada pint tem 568 ml por aqueles lados.

O piso térreo apresenta-nos a história do fundador e os ingredientes que dão à Guinness o seu sabor especial. São eles o lúpulo (hops), a cevada (barley), a levedura (yeast) e água das montanhas de Wicklow. Dizem que a água explica porque uma Guiness produzida em Dublin sabe melhor do que uma cerveja da mesma marca produzida noutro país.

entrada da Guiness Storehouse
A visita é interessante também para os não apreciadores de cerveja. O Pedrinho divertiu-se imenso.

O piso seguinte é dedicado ao processo de fabrico, armazenamento e transporte. Há uma secção dedicada à arte de tanoaria porque, durante muito tempo, a cerveja foi transportada em barris de madeira. Segue-se um piso com salas de prova, que não cheguei a conhecer, porque tem que se esperar à porta, até estar formado um grupo.

O terceiro andar é dedicado às campanhas publicitárias da Guinness. Do peixe a andar de bicicleta à ostra que assobia, originalidade não falta por ali. As pessoas bebiam Guinness depois de darem sangue, para reporem os electrólitos? Um trabalhador carregava uma viga sozinho, energizado pela cerveja preta? Na publicidade, tudo é possível.

Guiness storehouse em Dublin

Tirar a Guinness perfeita e bebê-la

Chegamos à Academia Guinness (em que piso? Estou perdida e ainda não bebi) onde aprendemos a tirar uma cerveja perfeita. Este é um ritual de seis passos que demora 119,5 segundos. Se passarem no teste, terão direito a um certificado. Os verdadeiros apreciadores podem reservar ainda uma experiência Connoisseur, mais privada. E cara.

Ao almoço podem provar alguns pratos feitos com Guinness nos restaurantes do 5º andar: pão preto, salmão curado, ensopado de carne, brownie de chocolate. Ali fica o Brewers Dining Hall, que reproduz o ambiente do refeitório da fábrica nos séculos passados, o Arthur’s Bar e o Gilroy’s, em homenagem ao criador de alguns anúncios icónicos da marca.

A visita termina na “espuma”, que é como quem diz, no Gravity Bar, que corresponde ao topo do edifício/copo de cerveja. Foi ali que provei a minha pint e o Pedrinho se refrescou com uma Fanta, enquanto apreciávamos a linda vista panorâmica da cidade.

Escultura “Guinness Made of More” (2012)

Legado Guinness em Dublin

Para além da maior empregadora da capital irlandesa durante décadas, a família Guinness ficou conhecida pela sua filantropia. O fundador patrocinou as artes gaélicas e serviços de saúde para os mais pobres. Morou sempre numa casa modesta, na Thomas Street, com a esposa e os 21 filhos (apenas 10 chegaram à idade adulta), apesar da riqueza que conquistou.

Os descendentes seguiram-lhe o exemplo. Além de assistência médica, refeições e bolsas de estudo oferecidas aos trabalhadores, em 1872, construíram casas para as famílias de 300 funcionários. Ainda se mantêm de pé, com o tradicional tijolo vermelho. Depois, criaram um fundo que permitiu construir blocos de casas sociais, creches e albergues para os sem-abrigo.

Sir Benjamin Guinness patrocinou o restauro da catedral de St. Patrick: procurem a sua estátua, junto à igreja. O seu filho criou o parque ao lado, onde os irlandeses celebram a vida, sempre que o sol aparece (foto abaixo). Outros espaços verdes de Dublin estão ligados aos Guinness. É o caso dos jardins Iveagh e do simpático St. Stephen’s Green, que foram comprados por membros do clã e depois oferecidos à cidade.

St. Pactrick Park

A visita a Dublin deu-me toda uma nova perspectiva sobre a cerveja e marca Guinness.

Guinness Storehouse site | Horário: 9h30-19h00 ou 9h30-21h00 (Julho e Agosto) | Preço: a partir de 18,50€ (adulto), 16€ (13-17 anos), grátis (até aos 13 anos). Entrada gratuita com o Dublin Pass**

** valores de Junho de 2019