Atualizado em 6 Janeiro, 2021

A mais antiga universidade da Irlanda dá abrigo a dois tesouros nacionais: o lendário Book of Kells e a Long Room. Fomos a Dublin conhecê-los

A Trinity College é uma instituição com pedigree. Por ali passaram vários políticos e escritores irlandeses de referência como Jonathan Swift, Bram Stoker, Oscar Wilde e Samuel Beckett. Aliás, esta academia fundada no século XVI pela rainha inglesa merece, por si só, uma visita.

Mas a grande atracção é a biblioteca, que ocupa vários edifícios, dentro e fora do campus. Detém direitos de “depósito legal” (também no Reino Unido), o que significa que os editores devem depositar ali uma cópia de todas as obras. Para visitar a parte mais bonita, reserve a Book of Kells Exhibit (aproveite para consultar preços e horários). Para além de uma pequena exposição e a sala onde está o Livro de Kells, terá acesso à maravilhosa Long Room.

Eu sei que leitores sôfregos ficam com um brilho nos olhos quando entram numa biblioteca monumental, portanto sou suspeita para falar dela. Mas saibam que a old library inspirou os arquivos dos Jedi em Star Wars episódio II – O ataque dos clones, embora o realizador George Lucas o negue. Este lugar no coração de Dublin é desmesuradamente poético. 

parcial da Long Room
Antes da longa sala de 65 metros, espera-nos o Book of Kells, talvez o maior tesouro cultural da Irlanda.

O precioso Book of Kells

Book of Kells é um manuscrito inestimável com quatro volumes, a que correspondem os quatro evangelhos, e cerca de 1.200 anos. Foi oferecido à biblioteca em 1661 por Henry Jones. O bispo e vice-chanceler da universidade foi ainda responsável pela chegada de outras obras raras e pelas escadarias de carvalho.

As centenas de páginas em pele de carneiro foram escritas à mão, claro. A sua riqueza reside nos detalhes, nas iluminuras coloridas, nos detalhes celtas das imagens, embora tenham sido feitos por monges cristãos do convento de Kells.

O manuscrito é também um fenómeno de sobrevivência: às invasões vikings, fome e revoltas! Isto explica a segurança da sala. Possivelmente pedir-lhe-ão para guardar o telemóvel e colocar a tampa na lente da máquina fotográfica.

Dois dos quatro volumes estão expostos, um aberto numa página decorada e outro numa página de texto. Os volumes e páginas são alterados regularmente, para assegurar a conservação. No dia da nossa visita, estava disponível o  evangelho de S. João, com as palavras iniciais precedidas pelo retrato do próprio. Vimos também o de S. Lucas, com passagens sobre a parábola do mordomo injusto  e a história de Lázaro e do homem rico.

exposição Book of Kells
Book of Kells
Retrato de S. João no Book of Kells, cujo original tivemos o privilégio de ver

Apaixonada pela Long Room

Subindo uma pequena escada chegamos então à linda e apinhada Long Room. É tudo aquilo que as imagens mostram: o assombro, a humildade perante 200 mil livros antiquíssimos, o ambiente de recolhimento favorecido pela madeira escura.

Construída entre 1712 e 1732, inicialmente a Long Room tinha prateleiras apenas no nível térreo. No século seguinte, quando passou a receber uma cópia gratuita de todos os livros publicados na Irlanda e na Grã-Bretanha, a galeria foi aumentada e o tecto erguido, para acomodar um “piso” superior.

Parece um cenário de filme, com a solenidade dos bustos de mármore de grandes filósofos, escritores (o busto do autor d’ As Viagens de Gulliver é um dos mais notáveis) e homens que apoiaram a academia. Ali podemos apreciar também a linda Brian Boru harp, uma harpa de 29 cordas do século XV, esculpida em carvalho e salgueiro. E uma das 12 cópias da Proclamação da República da Irlanda que se fizeram em 1916.

Já visitaram estes dois tesouros da Trinity College? Contem-me o que acharam.

A seguir ao Book of Kells visite a Long Room
piso superior da biblioteca

Acesso Prioritário: Tour Castelo de Dublin e Livro de Kells

Dicas

  • Recomendo que reserve a visita mesmo em baixa temporada, para evitar longas esperas ou ter que voltar noutro dia.
  • Pode fotografar na Long Room (sem flash ou tripé), mas nunca na sala do Book of Kells. O manuscrito é frágil e qualquer exposição acelera a sua degradação. Respeite as regras.
  • Quando entram na Long Room, os visitantes ficam embasbacados e entopem a entrada para tirarem fotografias. No extremo oposto da galeria é possível fotografar com um pouco mais de tranquilidade, ainda que a multidão não desapareça (ah, se tal fosse possível!).