Atualizado em 27 Junho, 2025

O Parque Nacional de Taï, a oeste da Costa do Marfim, representa a maior mancha de floresta tropical primária que resta da que outrora cobriu a África Ocidental. Conheça os segredos deste refúgio de primatas, a escassos quilómetros da Libéria

O Parque Nacional deve o seu nome à cidade de Taï, localizada entre o parque e o rio Cavally, que é a fronteira natural da Costa do Marfim com a Libéria. Com 5.364 km² de floresta tropical primária, o Parque Nacional de Taï foi incluído na rede de reservas da biosfera em 1978 e classificado Património Mundial da Humanidade em 1982.

O que o torna tão especial, para suscitar a atenção da UNESCO? Trata-se de uma biosfera única no mundo, com uma infinidade de espécies endémicas, raras e ameaçadas, incluindo hipopótamos-pigmeus, pangolins da floresta (três espécies), leopardos, cabritos-de-Jentink e bongos. Não menos importante: é lar de número indeterminado de elefantes, num país que os levou praticamente à extinção.

A sua rica flora e fauna são de grande interesse científico. Por exemplo, li algures que diversas plantas que antes eram consideradas extintas (como a flor Amorphophallus staudtii) foram descobertas no parque. Mais de 250 espécies de pássaros foram identificadas, incluindo 143 restritas a florestas primárias e grandes pássaros como calaus e pintadas de peito branco, severamente reduzidos em outros lugares devido à caça.

Apesar da UNESCO considerar a condição geral do parque “satisfatória”, a desflorestação, a caça ilegal e atividades de mineração de ouro aluvial constituem ainda ameaças. Ao visitar o Parque Nacional de Taï, está a contribuir para que as comunidades locais valorizem esta riqueza natural e a ajudem a preservar.

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detalhe do Parque Nacional de Ta]i

#Nota: a pressão humana tem sido grande, tanto que o parque inicial (definido em 1926) tinha uma superfície de 960 mil hectares, que se transformou em 350 mil hectares em 1972, quando o parque recebeu a designação atual.

Os primatas do Parque Nacional de Taï

O Parque Nacional de Taï é famoso pela sua variedade de primatas: o macaco de Campbell, o macaco de nariz manchado, o macaco Diana, o pequeno colobo vermelho e o colobo verde, o mangabei e uma das maiores populações de chimpanzés da África Ocidental, para citar apenas algumas espécies.

Segundo biólogos, os chimpanzés do Parque Nacional de Taï são reconhecidos pelo seu comportamento, único em todo o continente. Há mais de três décadas que a Wild Chimpanzee Foundation possui um projeto de investigação no local.

Esta ONG com sede na Alemanha possui projetos de conservação na Costa do Marfim, Libéria, Guiné e Serra Leoa, porque entende que concentrar o seu trabalho em regiões onde os chimpanzés selvagens são ainda abundantes, permitirá assegurar a sobrevivência desta espécie tão especial.

Espreite no site oficial os estudos que têm sido desenvolvidos sobre os primatas em Taï. De lembrar que todas as espécies de grandes primatas integram a lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), por serem consideradas ameaçadas ou extremamente ameaçadas.

Como visitar o Parque

A Wild Chimpanzee Foundation criou, em anos recentes, o projeto Ecotourisme Taï, como forma de envolver a comunidade, criando empregos, e financiar o seu projeto de investigação.

Foi aquela equipa que organizou a minha viagem desde Abidjan com duas amigas. Sim, porque a entrada do parque é tão remota, que exige entre 8 a 10 horas de condução desde a maior cidade da Costa do Marfim. Para além da distância (e do estado da estrada no trecho final), há a considerar que a cidade de Taï não possui grande oferta hoteleira.

aldeia de Daobli
A comunidade de Daobli que nos acolheu.

Nós ficámos num B&B na aldeia de Daobly, o alojamento mais rústico onde já fiquei na minha vida. Sem ar condicionado, com água em baldes para tomar banho, e mosquiteiros que já viram melhores dias. Uma experiência que valerá a pena, caso cheguem à aldeia a horas decentes, é reservar uma dança tradicional do povo Gueré.

No dia seguinte, um carro 4×4 conduziu-nos até à entrada do parque, seguindo-se quase três horas de caminhada até ao acampamento, com a mochila às costas. As tendas onde dormimos nas duas noites de floresta são mais interessantes do que as da aldeia. Não há buracos para a bicharada entrar e há chuveiro, ainda que com água fria.

#Nota: esta não é uma aventura para toda a gente, já que pressupõe longas caminhadas com calor, de botas de borracha, e estadia com pouco conforto no meio da floresta, sem internet ou rede de telemóvel. O parque aceita crianças a partir dos 12 anos

Povo Gueré, da Costa do Marfim
© Ecotourisme Taï

Atividades no Parque Nacional de Taï

Duas ecoguias acompanharam-nos em todas as atividades na floresta. A Nicole, em particular, revelou bastante conhecimento sobre os animais e plantas do parque.

A equipa explicou-nos que a população de chimpanzés não está habituada à presença humana, pelo que não é possível, neste momento, os turistas aproximarem-se. Mas é possível fazer observação de outros macacos, nomeadamente os colobos vermelhos e os mangabeis.

No primeiro caso, os pequenos macacos vermelhos vivem no topo das árvores, o que exige boa vista (não é o caso desta míope), binóculos e uma máquina fotográfica com lente apropriada. Para além de força no pescoço para ficar especado(a) durante muito tempo… quase fazia um torcicolo, juro!

primatas do Parque Nacional de Taï

A observação dos mangabeis, que passam cerca de 80% dos seus dias no chão, é uma atividade maravilhosa. Dois monkey sitters passam o dia com eles – das 6h da manhã às 18h durante 365 dias no ano –, pelo que estão muito habituados à presença humana.

Isso não significa que possamos interagir com os macacos, os guias não podem sequer comer na floresta. Apenas os acompanham e observam, marcando as presenças no livro de ponto (reconhecem os rostos de cada macaco) e registando tudo o que seja digno de nota.

Passámos 3 horas junto desta família de macacos e foi me-mo-rá-vel. Aliás, toda a aventura Taï foi linda de se viver (espreitem o reels). Não houve internet, mas houve jogos e longas conversas depois do jantar. Substituímos o carro pelas pernas, fizemos até um passeio botânico. E respiramos ar tão puro que o cérebro até desconfiou.

#Nota: a observação de mangabeis exige a utilização de máscara, pois uma simples gripe pode ser fatal para a população de macacos.

Vocês “perder-se-iam” no meio de uma floresta primária, sem rede de telemóvel, a várias horas de caminhada da povoação mais próxima?