Atualizado em 8 Março, 2022

Continuamos em Liverpool, “a city of great tradition, fabulous humour and stunning architecture”. Hoje falaremos de arte e superlambananas, num lugar onde esta é levada a sério

A terra natal dos Beatles é uma cidade vibrante, com inúmeros festivais ao longo do ano, música ao vivo nos pubs e nas ruas. Mas nem só da tradição musical vive Liverpool que, graças ao seu dinamismo, se tornou o segundo destino cultural de Inglaterra.

It’s been a hard day’s night, and I’d been working like a dog / It’s been a hard day’s night, and I should be sleeping like a log…

Os museus nasceram como cogumelos. Assim rapidamente, consigo apontar uns oito, e não conheço assim tão bem a cidade. Maravilhosamente, a esmagadora maioria tem acesso livre, ou seja, não se paga entrada. E ainda se pode fotografar no interior, premissas que incluem o Tate Liverpool, um satélite do célebre museu londrino.

No seu actual acervo predomina a arte contemporânea, com especial destaque para a escultura. Mas outros tesouros enfeitam as paredes: quadros de Francis Bacon, de William Blake ou Magritte. Um Salvador Dalí fica mesmo ao lado da lata de tomate Campbell’s de Andy Warhol. Aliás, o percursor da pop art está ali bem representado com várias peças, nomeadamente o retrato da rainha Elizabeth II.

Museus na waterfront

Ainda junto das margens do rio, encontramos espaços culturais como The Beatles Story e o Museum of Liverpool, num moderno edifício, que retrata 800 anos de história de uma terra de estivadores, marinheiros e aventureiros. O seu objectivo é contar a história de Liverpool, falar sobre as pessoas que moram lá, e mostrar a importância da cidade para a Inglaterra e para o mundo.

Não esqueçamos o Merseyside Maritime Museum e o International Slavery Museum, que ficam no mesmo edifício – uma vez mais, no Albert Dock.

In the town where I was born / Lived a man who sailed to sea / And he told us of his life / In the land of submarines

Aberto em 1980 e expandido em 1986, o Merseyside Maritime Museum destaca a importância internacional da cidade como porta marítima para o mundo, focando temas como emigração, mercado marinho, entre outros. Ali se recorda as vítimas do famoso Titanic, muitas delas conterrâneas, já que a sede da White Star Line – a empresa onde o Titanic foi registado e que contratou a tripulação – ficava na cidade (o edifício em tijolo vermelho fica na esquina da James Street).  

Já o museu da escravatura honra, de uma forma tocante, os seres humanos que, num passado longínquo ou nos dias de hoje, foram escravizados através de testemunhos, poemas e artesanato africano. “We remember” – é a resposta do museu às palavras do escravo William Prescott: “They will remember that we were sold, but not that we were strong. They will remember that we were bought, but not that we were brave.”

O mais recente museu de Liverpool é o British Music Experience, que antes funcionava em Londres, e honra a história da música pop e rock inglesa. Um país que pariu, para além dos Beatles, os Rolling Stones, The Police, David Bowie, The Clash, The Smiths, entre tantos outros, merecia um museu dedicado à música.

© Colin Lane-liverpoolecho

Museus no centro de Liverpool

St. George’s Quarter é outro pólo artístico, concentrando a biblioteca pública, o World Museum Liverpool e a Walker Art Gallery. Sem esquecer o neoclássico George Hall, onde decorrem muitos eventos.

Neste cantinho, só houve tempo para visitar o World Museum, imponente com os seus cinco pisos. Em cada um deles, uma ou mais exposições incluindo um pequeno aquário (1º andar), culturas do mundo no segundo piso (pode ver-se ali uma armadura de samurai ou óculos de sol artesanais dos esquimós), uma colecção de arte clássica (Egipto, Grécia, Roma e Anglo-Saxónia estão no 3º andar), um departamento de história natural (4º) e até um planetário (5º).

Por muito impressionante que seja este museu, porque o é, deixo aqui um enfático protesto em relação ao espaço. É que nós almoçámos lá, no buffet do último andar. O aviso que deixo é: não experimentem a sopa caseira! Ainda hoje tremo ao imaginar de que seria feita aquela mistela! Bizarro como a letra da Lucy in the sky with diamonds (abaixo)!

Picture yourself in a boat on a river / with tangerine trees and marmalade skies

…Cellophane flowers of yellow and green / Follow her down to a bridge by a fountain / Where rocking horse people eat marshmellow pies 

… Picture yourself on a train in a station / With plasticine porters with looking glass ties

SuperLambBanana

Falando de arte em Liverpool é preciso não esquecer os SuperLambBananas. A escultura original – quase 8 toneladas e com 5,2 metros de altura – foi projectada pelo escultor japonês Taro Chiezo e causou alguma polémica pelo cruzamento entre uma ovelha (lamb) e uma banana. Com esta peça, o artista quis abordar, com algum humor, os perigos da comida geneticamente modificada. A criatura também foi inspirada na história de Liverpool: historicamente, estas eram duas mercadorias comuns a chegarem à cidade.

Encomendado em 1998 para a exposição Art Transpennine da Grã-Bretanha, o SuperLambBanana é uma das peças de escultura pública mais populares e instantaneamente reconhecíveis em Liverpool. Foi revelada ao público na reabertura da Tate Gallery de Liverpool.

“It is Liverpool’s most hated and most loved public monument”, dizem. O que seria uma obra com dimensões éticas transformou-se numa atracção popular, do ponto de vista artístico e turístico, para a cidade.

Tanto que foram criadas 125 réplicas em miniatura durante o ano de 2008, quando Liverpool foi Capital Europeia da Cultura. Patrocinadas por organizações comunitárias e empresas locais, as mini Superlambananas foram espalhadas pela cidade e, após a exposição de 10 semanas, foram leiloadas, arrecadando £ 550.000 para instituições de caridade.

No início de 2010, oito Superlambananas de dois metros, conhecidas como “Oito por 08”, foram encomendadas como peça permanente de arte pública, quatro das quais que permanecem junto do Museu de Liverpool. Seja como for, encontra as simpáticas ovelhinhas em todas as lojas de souvenirs.

Aí fica um breve apanhado de algumas superlambananas em que tropecei!

Obladi, oblada, Life goes on, bra / La la la how the life goes on

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