Atualizado em 10 Maio, 2022

Um voo doméstico trouxe-nos desde o sul do Egipto até ao Cairo. Dizem que esta é uma das capitais mais caóticas do mundo. Só posso acenar que “sim”, ainda estou muito assustada para falar

Acordámos de madrugada para visitar Abu Simbel e agora temos bastante sono, um sono que nem a turbulência do voo espantou. Mas, assim que saímos do aeroporto, os sustos sucedem-se numa sequência vertiginosa, enxotando de vez a preguiça.

Um autocarro aguarda-nos – bastante moderno quando comparado com o parque automóvel que circula nas ruas apinhadas do Cairo – para nos conduzir ao hotel Cataract Pyramids.

Na primeira rotunda, um carro em contramão dirige-se a nós, desviando-se a poucos metros. Aponto, de boca aberta, e ainda consigo balbuciar um “cuidado” – sei que o motorista não fala português, mas o cérebro congelou naquela fracção de segundo.

Seguimos pela direita, por uma longa avenida, onde os carros transformam as três vias em quatro, cinco, seis… conforme calha e com a maior das descontracções. Vejo mais alguns condutores em contramão, mas o nosso continua impávido e sereno. Começo a suspeitar que ele faria o mesmo, se isso lhe abreviasse o caminho.

Não há um único sinal de trânsito à vista, mas os condutores lá se entendem, por entre buzinadelas e sinais de luzes. Curiosamente, quase não vimos acidentes durante os dias que permanecemos na cidade. E isto apesar de, saberia eu mais tarde, a maior parte dos egípcios conduzir sem carta.

Ao trânsito, somem-se as ruas esburacadas, o ordenamento inexistente e, nos bairros menos turísticos, bastante lixo no chão. Suponho que não poderia esperar um cenário muito diferente, numa cidade do terceiro mundo que concentra mais de 11 milhões de pessoas.

O Museu Egípcio (antigamente chamado Museu do Cairo) segue o ritmo. Lá dentro, as peças amontoam-se em todos os cantos, muitas por catalogar e legendar, tal é a falta de espaço. Os visitantes mexem, sentam-se em cima das pedras, numa familiaridade escusada com o património. (visitámos o país antes da inauguração do novo museu).

Paramos para almoçar e, nesse hiato, assimilo o Cairo. A partir daquele momento, já nada me surpreenderá, pelo menos é o que prometo a mim mesma.

O bazar gigante do Cairo

À noite, quando saímos para explorar o bazar Khan El Khalili, percebo que os automobilistas não acendem os faróis senão para fazer sinais, numa espécie de linguagem “agora passo eu, tem lá paciência”. E assusto-me outra vez!

No meio desta confusão medonha, surpreendo-me com uma rotina muito civilizada. O porteiro do hotel apontou a matrícula do táxi que nos levará ao milenar bazar árabe. Apontou ainda quantos somos e a nossa nacionalidade. Os turistas são preciosos para o Egipto, existe até uma polícia especialmente treinada para os proteger (farda branca) uma vez que as receitas geradas pelo Turismo têm um peso determinante para a economia.

Chegamos ao Khan El Khalili, o célebre e imenso mercado que fica bem no coração da cidade e remonta ao período otomano. As ruelas estreitas fervilham de gente a esta hora mais fresca. As lojinhas vendem de tudo, do artesanato típico às bugigangas fabricadas na China, passando pelas t-shirts do mais puro algodão egípcio. Cada compra é longamente regateada, é preciso entrar no espírito e ter paciência.

 Cairo: Excursão Nocturna dos Segredos Mais Bem Guardados

© wikiwand.com

Alguns turistas poderão ter receio de visitar o bazar sozinhos, especialmente à noite e sem guia. Mas nós éramos um grupo e, diga-se, não sofremos o mais pequeno sobressalto nesta aventura.

Aliás, foi no Khan El Khalili que encontrei a minha recordação da lua-de-mel – um papiro escuro com o rosto da bela Nefertiti – pelo qual me tinha apaixonado à tarde, num “instituto do papiro”. Comprei-a por 1/3 do valor que me pediam na loja oficial, o que me deixou muito feliz e, provavelmente, ao vendedor também.

Faça uma excursão à Cidadela do Cairo, Cairo Antigo e Khan El Khalili.

Voltámos nas noites seguintes, porque achámos o Khan El Khalili colorido e vibrante. Com as compras arrumadas, apreciei melhor o ambiente e meti conversa com dois meninos que estavam a vender umas pulseiras manhosas. Tinham 8 e 9 anos, frequentavam a escola mas estavam de férias (sendo Julho presumi ser verdade) e por isso podiam ajudar os pais no mercado. Um deles falava árabe, inglês, francês e arranhava o espanhol… provavelmente graças ao contacto com os turistas. Aí estão umas férias pedagógicas!

Fatimah explica o processo de extracção de papiro.

Amigos, regressaremos ao Cairo para visitar as pirâmides. Até lá!