Atualizado em 6 Janeiro, 2021

Pinhel. Por aqui passearam reis, viveram guerreiros, defendeu-se a Pátria. Hoje a pequena cidade ostenta, orgulhosa, um falcão nas suas armas, testemunho de um insigne passado.

As pessoas cumprimentam-se na rua; os mais velhos levantam o chapéu à nossa passagem. O trânsito é pouco e fluido, percorre-se o centro em poucos minutos. E, no entanto, estamos numa cidade. Quem diria que a vida pode ser assim simples?

É verdade que não há muito para fazer num domingo cinzento, como hoje, excepto deambular sem rumo pelas ruas estreitas (passatempo que aprecio particularmente). A muralha medieval entretém-se a jogar às escondidas connosco, revelando-se aqui e ali, por entre casinhas pequenas e quintais.

Cinco das seis portas ainda estão de pé: a Porta de S. Tiago, S. João, de Marrocos, de Marialva e de Alcavar. Para além da história misturada na sua argamassa, elas encerram lendas que o povo conta, reconta, floreia e enfeita a seu bel-prazer.

muralha em Pinhel

Paramos no Largo principal, junto ao pelourinho e à “Casa Grande”. Dizem os populares que este solar do século XVIII, dos condes de Pinhel, foi construído por diabretes porque o mestre pedreiro adoeceu e não foi capaz de carregar os pedregulhos necessários para a obra. Usou então um livro tenebroso, de onde saltaram os servos do demo, que usou como ajudantes. A dita tem 365 janelas e portas, 1 para cada dia do ano.

Deixamos a Casa Grande para trás e iniciamos a subida, rumo às duas poderosas Torres, únicas sobreviventes do primitivo castelo. Tomamos a rua de Santa Maria, cujas casinhas revelam a presença de cristãos novos, expulsos do reino vizinho.

A subida ainda agora começou mas vale a pena fazer uma paragem junto à torre do relógio, enfeitada por um belo galo que anuncia se haverá neve, chuva ou sol (diz este povo de imaginação fértil). O galo com dotes de meteorologista repousa num pequeno pátio, com bancos de pedra e uma farta oliveira, que dará uma sombra deliciosa nos dias de estio.

Mas hoje chuvisca. Pelo que prosseguimos rumo ao castelo, ou ao que dele resta. O caminho não é longo, tudo em Pinhel é “logo ali”. Eis-nos, pois, no Largo dos castelos, onde o olhar alterna entre a Torre de Menagem, com a sua janela manuelina e a verdura de uma árvore vizinha, e a Torre Sul a que acoplaram um café…

Casa Grande
A Casa Grande terá sido construída por diabretes.

 

Acho que este edifício moderno irritou alguns historiadores mas, pessoalmente e apesar de não ser propriamente bonito, gosto deste espaço tranquilo, onde se pode beber um chá que é servido com umas amêndoas caseiras, com canela e baunilha, fabricadas por uma doceira local.

Infelizmente o “Bar dos Castelos” está fechado ao domingo, assim como a Torre, pelo que voltarei outro dia para fotografar a paisagem pontuada por oliveiras que se vê lá do alto. A chuva começou a cair com mais força, soprada pelo vento. Que desagradável… parece que estamos no Minho!

Ai cabeça de vento. Quase me despedia sem explicar porque Pinhel é chamada de cidade Falcão. Nos idos medievais, mais propriamente em 1385, os espanhóis batiam em retirada, derrotados na Batalha de Aljubarrota, quando os corajosos pinhelenses capturaram o falcão de estimação do rei de Castela.

Um gesto que o monarca português elogiou, descrevendo a cidade como “Pinhel Falcão, Guarda-Mor de Portugal”. Desde então que o brasão inclui um falcão, vigilante na copa frondosa de um pinheiro. Vitória, vitória, acabou-se a história.

 

 

Dicas úteis:

Como chegar: Pinhel fica a 313 km de Lisboa e a 190 km do Porto. Saindo de Lisboa, siga pela auto-estrada A1 no sentido norte. Depois apanhe a A23, em direcção Abrantes/Castelo Branco. Siga pela saída 36 para estrada nacional N221, em direcção a Pinhel.

Do Porto, siga pela A1 para sul, apanhe a saída 16 para convergir com a A25, em direcção a Viseu-Guarda. Siga para a IP2 e depois N226 e N221 em direcção a Pinhel.

Onde ficar: as opções de alojamento em Pinhel são escassas. A melhor opção são unidades de turismo rural como as Casas da Retorta ou a Quinta das Pias, um pouco afastadas do centro da cidade. As Casas do Juízo são lindas e numa envolvência muito tranquila, mas fica no meio de nenhures. Se procura descanso, podem ser uma boa opção.

O que comer: a região é conhecida pelos seus vinhos e enchidos. As cavacas também são famosas. Infelizmente, não tive nenhuma experiência espectacular nesta pequena cidade, ao nível da gastronomia. Os restaurantes são todos comuns e sem grandes especialidades.

O que visitar: Pinhel fica numa região com várias aldeias históricas, sendo fácil alcançar Figueira de Castelo Rodrigo, Cidadelhe, Castelo Mendo ou Marialva. Também pode optar por um tour às aldeias de Linhares da Beira e Celorico da Beira, com saída da região do Porto.