Atualizado em 6 Janeiro, 2021

O nobilíssimo Saramago teceu rasgados elogios a Cidadelhe, pequena aldeia alcandorada entre as escarpas dos rios Côa e Massueime.

Li ainda, algures, que Cidadelhe (distrito da Guarda), é uma das mais belas aldeias históricas e que os locais lhe chamam “o calcanhar do mundo” por estar no limite do concelho. A UNESCO incluiu-a no Parque Arqueológico do Vale do Côa, classificado como Património da Humanidade, por causa das suas gravuras rupestres.

Mais. No romance “A Viagem do Elefante”, que narra a épica caminhada de um paquiderme indiano de Lisboa até à Áustria, enquanto prenda de casamento de D. João III ao seu primo arquiduque Maximiliano II, o enorme Salomão passa por este lugarejo esquecido (Rota Portuguesa imaginada por Saramago aqui).

Como devem calcular, tudo isto somado foi capaz de me excitar a curiosidade e para lá rumei num destes domingos lentos, em que precisamos sacudir a preguiça e recordar que estamos vivos. Aliás, aquela região é fecunda em aldeias lindas, como sejam Sortelha, Marialva ou Penha Garcia.

a linda aldeia de pedra de Cidadelhe

desenho de Cidadelhe
Cidadelhe vista pelo meu filho: o traço preto é a estrada. Em cima, o Castelo que não vimos. Ao fundo, o rio, as flores e as espigas.

paisagens de Cidadelhe
Vêem as estranhas figuras esculpidas nos lintéis das portas?

 

Ouvi falar de um “Castelo dos Mouros”, da “Forca dos Lusitanos” e do “Poio do Gato”, de onde supostamente se pode desfrutar de uma paisagem assombrosa. Ainda no plano das suposições, parece que moram cerca de 40 pessoas em Cidadelhe.

Eu vi três, falei com duas delas e só uma parecia saber o que era o tal Castelo dos Mouros, que os homens não podem visitar depois de anoitecer, sob pena de sucumbirem aos prazeres sensuais das mouras, desaparecendo para sempre.

Apontou-me um caminho de cabras que, poucos metros adiante, se sumia sob a pujança primaveril. Fomos obrigados a voltar para trás, eu e o pequeno explorador. Portanto, não vimos quaisquer ruínas de castelo, nem ficámos a saber o que raio será a Forca dos Lusitanos e o Poio do Gato.

Se foi um passeio em vão? De maneira nenhuma. Vimos dois faisões a atravessar a estrada, vivemos uma pequena aventura no meio do mato e acabámos a merendar com esta vista. E, por momentos, nada ouvimos senão o vento.