Atualizado em 6 Janeiro, 2021

Cem dias entre céu e mar?Porque é que alguns seres humanos precisam de se lançar no desconhecido, ultrapassar todas as barreiras, superar obstáculos hercúleos, pôr em risco a própria vida?

O brasileiro Amyr Klink, filho de um libanês e de uma sueca, oferece a melhor das respostas, na obra Mar sem fim: 360º ao redor da Antártica‎ (2000):

excerto de "Cem Dias entre céu e mar"

 

A sua citação tem tanta mais força porque ele fez precisamente isso. Ele desafiou os elementos e, perante a incredulidade da família e dos amigos, tornou-se o primeiro homem a atravessar o Atlântico sul (a remo) e a circum-navegar a região polar Antárctica.

Acabo de ler Cem dias entre céu e mar (1985), onde o autor relata a primeira dessas travessias, absolutamente extraordinárias. Foram mais de 3500 milhas (cerca de 6500 Km) desde o porto de Lüderitz, na Namíbia, até ao litoral baiano, a bordo de um minúsculo barco a remos.

Imaginem mais de três meses a remar durante oito horas diárias, completamente sozinho numa imensidão sem fim, vencendo tempestades, ondas gigantes e ventos ensurdecedores. Apesar dos fracassos anteriores, nomeadamente dos ingleses Michael McIntayre e John Hornby!

Como deve ter sido reveladora esta odisseia, uma verdadeira viagem de auto-conhecimento, pois Amyr não tinha mais ninguém por companhia que não a si próprio.

rota entre a Namíbia e a Bahia feita pelo autor

Mais do que a capacidade de se superar, o economista e navegador brasileiro concluiu, com esta experiência, que poucas coisas são suficientes para vivermos bem e em paz (p. 119).

Pensando bem, que mais poderia alguém no mundo desejar do que olhar nos olhos das baleias, conversar com as gaivotas sobre os azimutes da vida, procurando durante cem dias e cem noites um único objectivo e, subitamente, tê-lo diante dos olhos, ao alcance dos pés, numa tranquila tarde de terça-feira? (p. 152).

Esta belíssima obra foi-me oferecida por uma amiga brasileira, a Marisa Pereirinha, que aproveitou a sua viagem a Portugal – veio finalmente conhecer a terra onde os seus pais nasceram – para desvirtualizar a nossa amizade.

A fortuna conjura para que certas pessoas se encontrem. Senão veja-se, a Marisa desconhecia que eu nasci na Namíbia, perto da fronteira com Angola, e ofereceu-me, maravilhosa coincidência, um livro que narra uma viagem entre a Namíbia e o Brasil, dois lugares por onde eu passei durante a minha curta existência! Mais do que uma aventura, este livro presenteou-me com valiosas descrições da minha terra natal.

 

excerto da obra
Como o Amyr, só posso exclamar: “é preciso tão pouco para sermos felizes”.