Atualizado em 7 Abril, 2021
Os picos montanhosos reflectem-se nas águas tranquilas do lago de Sanabria, uma magnífica herança da era glaciar. Há cerca de 100 mil anos, o gelo esculpiu este vale, hoje ocupado pelo maior lago natural da Península Ibérica.
A esta versão científica soma-se outra, muito mais interessante, que explica a formação do lago de Sanabria. Numa noite fria de inverno, um peregrino encharcado buscou ajuda na pequena aldeia de Valverde de Lucerna. Todos lhe recusaram ajuda, excepto duas irmãs, que coziam pão já no final da povoação. Aquecido e saciado com pão acabado de cozer, o estranho adverte as mulheres de que devem permanecer ali toda a noite.
Cá fora, na noite escura, o peregrino clama: “Aquí clavo mi bastón, aquí brote un gargallón“. E onde o cajado bate começa a brotar um grande caudal, inundando Valverde. Na manhã seguinte, um grande lago cobre o vale, restando apenas uma pequena ilha, com um forno a lenha.
Já no século XX, Miguel de Unamuno, que visitara o lago (numa das margens funcionou em tempos um balneário termal, de águas sulfurosas), elevou esta lenda a literatura, na obra San Manuel Bueno, Mártir:
“Campanario sumergido
de Valverde de Lucerna
toque de agonía eterna
bajo el agua del olvido…”
Apuramos o ouvido e apenas ouvimos o vento, porque o potente catamarã que nos transporta é absolutamente silencioso. O Helios Costeau, assim baptizado em honra do deus sol e do oceanógrafo Jacques Cousteau, é uma pequena maravilha tecnológica. Trata-se do primeiro barco eólico-solar do mundo. Por que não utiliza combustíveis fósseis é ambientalmente neutro. Impressionados?
E se vos disser que dois biólogos marinhos (Tomaz e María José) nos acompanham neste cruzeiro de hora e meia, em que se recolhem amostras para analisar a saúde do ecossistema, e que observamos os organismos num mega microscópio?
E se acrescentar que, junto à Isla de Moras y Bouzas, Tomaz mergulha com uma câmara que nos permite ver, em directo, o fundo do lago? Vasos, telhas e outros restos do que talvez fosse Valverde de Lucerna…. e até um basilosaurus! E mais não digo, para não estragar a surpresa.
O catamarã realiza estes cruzeiros turístico-ambientais desde 2011, graças à empresa Europarques, responsável também por aulas ecológicas no Duero-Douro. As receitas são canalizadas para projectos de investigação da Estação Biológica Internacional. Agora sim, estão estupefactos, confessem lá!?
E tudo termina numa alegre confraternização, com um copo de cidra regional. Ali à volta, existe todo um Parque Natural para descobrir, com cascatas escondidas e castores envergonhados. Não nos demoramos, porque ainda teremos que chegar a Astorga esta noite, depois de já termos visitado a pequenina Puebla de Sanabria.
Agradecemos a cortesia da Europarques, que nos convidou para o cruzeiro no Helios Cousteau, e também pela forma amável e profissional com que nos receberam.
Cruzeiro no Helios Costeau: 16€ adulto /8€ criança (valores de 2017)
18 Comentários
Que lindo saber mais disso tudo que nos encanta sempre! valeu e muito,não?E o pequeno explorador, sempre pronto para novas aventuras! Lindo domingo! bjs, chica
Helios Cousteau, e ele (o Pedrito) gostou. 🙂
O que eu vou aprendendo por aqui!
Um beijinho 🙂
O Pedrito gostou, claro. Em especial do basilosaurus, mas sobre esta personagem não posso contar mais nada…
Eu pessoalmente prefiro a versão da lenda 😛
Adorei, um sítio deveras bonito e achei essa ideia de aulas de microscópio numa viagem de barco super original. Espero um dia passar por lá! 😉
Já agora, achei o blog super interessante! Parabéns.
Ruthia,
estou passando só pra te deixar um abraço com votos de Feliz Dia das Mães brasileiro.Consegui assistir ao vídeo do jovem e elegante pianista…lindo demais. Obrigada.
Deixei comentário lá no próprio.
Volto depois pra ler mais esta rica página.
Bjos,
Calu
Certamente um lugar para não esquecer! E eu, aqui do outro lado do oceano fiquei com uma vontade imensa de conhecer! Sou bióloga e fiz pós graduação em Biologia Marinha há muito tempo… Sou uma eterna apaixonada pelas pesquisas e viagens de Jacques Cousteau! Que lindo passeio, Parabéns à família toda!!!
Beijinho
Bia <°)))
Imagino que para alguém com a sua formação, seja um destino muito apetecível. O lago é belíssimo e o barco é qualquer coisa de extraordinário. Imagina, ambientalmente neutro, não faz barulho nenhum, não perturba o ecossistema…. formidável. Adorei conhecer todo o projecto da Europarques, que também fazem actividades no Douro Internacional, entre Portugal e Espanha.
Beijinho Bia
Querida Ruthia
Apesar de tão perto das minhas origens, ainda não conheço esse lago!
Como deve ser interessante o cruzeiro!
Obrigada pela divulgação.
Um beijinho
Beatriz
Esse sitio parece ser fantástico! Tenho que ir lá um dia!
Beijinhos
Ruthia,
O lugar é lindo, fora o que se tem a saber.
Mas parece muito frio, o vento é gelado… eu acho que sim.
O seu filho curtiu um bocado! Será um homem culto.
Beijinhos
Ana Araújo, seja bem vinda, retribuirei a sua amável visita logo que possível.
Sissym, no Inverno deve ser um lugar gelado mesmo, mas imagino que no Verão magnífico, com tantas árvores, lugares para picnics….
Beijinhos querida
Deve ser uma viagem deveras interessante.
Um abraço e fique bem
Acho os lagos fascinantes e desconhecia este! Um assombro de passeio, como imagino pela fabulosa descrição 🙂
Beijinhos (acabam de sair dois tabuleiros de biscoitos do meu forno…)
Isso não se faz, vir aqui falar de biscoitos. E enviares uma caixinha cá para casa, hã?
Beijinhos 🙂
Ruthia, que coisa maravilhosa, um passeio inesquecível certamente e cheio de histórias e curiosidades!!! e o catamarã!! sensacional, amiga!!!Parabéns pelos belos momentos vivenciados!!
bjs
Parece um lugar além do tempo…
Belíssimo, Ruthia!
Boa semana, viajante! 🙂
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