Atualizado em 15 Abril, 2021

Seguimos uma estrada sinuosa no meio de nenhures, de montes verdinhos e calhaus gigantes. O nosso destino: Santo António de Mixões da Serra, para assistir à bênção dos animais

Estamos mesmo às portas do Gerês, numa zona embalada pelo rio Homem. A justificar os sinais de trânsito que abundam por estas paragens, uma pacata manada de vacas, barrosãs e de longuíssimos chifres, interrompe-nos o caminho. Olham-nos com vagares budistas e não se dignam interromper a sua faina ruminante até um autocarro buzinar ruidosamente.

Alguns quilómetros depois, a quietude é substituída por uma forte cacofonia de gentes, carros, cavaleiros, foguetes e vendedores ambulantes.  No centro desta confusão e da aldeia minhota fica o santuário, onde se prepara a missa das onze.

Os leitores que já me vão conhecendo poderão estranhar esta súbita devoção. Acontece que esta cerimónia é um tanto peculiar: destina-se a crentes racionais e irracionais. Ou não fosse o Santo António, para além de casamenteiro, também conhecido como “advogado” dos animais.

santuário de Santo António em Mixões da Serra
Padre benze um cavalo

Vacas, cavalos, cães, gatos, possivelmente algumas cabras também, aguardam junto dos seus donos pela água benta. A secular bênção remonta ao século XVII (1680), quando uma grande peste vitimou boa parte dos animais que ajudavam os agricultores nas suas lides, nomeadamente vacas e cavalos.

Em desespero, a população prometeu a Santo António a construção de um templo, se este os livrasse da doença e dos lobos. O santo lisboeta “ouviu” as preces e surgiu então uma pequena capela no alto do monte. Desde então, acolhe no domingo imediatamente anterior ao 13 de Junho – dia de Santo António -, os animais enfeitados com flores, guizos e fitas vermelhas.

O padre Marques, pároco aqui há cerca de 40 anos, abençoa cada animal e cada dono, antes de seguir em procissão. Misturados com os crentes estão os animais, que largam  valentes prendas no chão empedrado (o pequeno explorador afirma, categórico, que as vacas cheiram muito mal). Há também os curiosos e os turistas, incluindo um grupo de estudantes chineses que causa admiração e tira muitas fotos.

Multidão em Mixões da Serra, para a bênção dos animais

A festa termina nas tasquinhas e restaurantes, por entre bacalhau, frango assado e caldo verde.

Deixamos a simpática aldeia minhota a derreter – estariam cerca de 40ºC –  e a imaginar como seria ainda mais interessante se outros animais domésticos se juntassem à festa: periquitos, asnos e mulas, papagaios, iguanas, tarântulas. Pensando bem, as tarântulas dispensavam-se!

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