Atualizado em 16 Abril, 2021
Estamos na província mais a norte de Portugal. Com tradições seculares, paisagens majestosas, mar e montanha, mesa farta – o Alto Minho tem tudo para fazer um visitante feliz.
Verde Minho, verde vinho, diz o povo, aludindo a duas riquezas de uma das regiões mais genuínas do país: a natureza verdejante, mesmo em ano de seca, e o vinho, que alcança a sua plenitude nos concelhos de Melgaço e Monção, com a casta Alvarinho.
Aqui há natureza, há praia mas também cidade, há tradição mas também modernidade. E arte: a singela Vila Nova de Cerveira é conhecida como “vila das artes”, por causa da bienal mais antiga da Península Ibérica. Por aqui também há tranquilidade e silêncio, algo que venho a valorizar cada vez mais.
Portanto, proponho um roteiro de quatro dias, o mínimo para aproveitar a região, sabendo que ficará muito por conhecer. Camilo Castelo Branco dedica generosos adjectivos à capital da região, no seu livro Os Brilhantes do Brasileiro:
“Aquelas noites estivas da gentilíssima Viana, que se reclina à beira-mar, sob um pavilhão de verdura, e se remira no espelho do seu Lima, são noites para poetas, e poetas se fazem ali súbito inflamados por tantas maravilhas da natureza, raro cumuladas num só paraíso”.
Seduzidos pelas palavras de Camilo, começamos este roteiro precisamente em Viana do Castelo (clique nos links para aceder a posts mais completos sobre cada localidade).
Dia 1 Viana do Castelo – Caminha – Vila Nova de Cerveira
E que linda manhã de passeio no centro histórico repleto de casas senhoriais, com uma paragem para provar as famosas bolas de Berlim da confeitaria Natário. Se leva crianças, não deixe de incluir uma visita ao navio Gil Eanes. Subir ao santuário de Santa Luzia é igualmente obrigatório, com ou sem crianças.
Deixamos o rio Lima para trás, seguindo para norte junto à costa, em direcção a outro rio: o Minho. Ao longo de cerca de 40 km, é possível fazer um roteiro pelos fortes do litoral, ou pelo menos fotografar alguns deles.
São seis os fortes que protegeram as povoações numa época em que os larápios chegavam por mar: Castelo de Santiago da Barra (Viana do Castelo), Fortim (Areosa), Forte de Paçô (Carreço), Forte do Cão (Gelfa), Forte da Lagarteira (Âncora) e o Forte da Ínsua (Caminha). Estas sentinelas perderam a sua função, mas continuam belíssimas e firmes no seu posto.
Ainda chega a tempo para um almoço tardio em Caminha, onde sugerimos o Restaurante Primavera, para um belo peixe grelhado.
Em alternativa, siga pelo interior, e faça um piquenique na tranquila Serra da Arga. É possível que perca a rede de telemóvel, mas ganha em sanidade mental. Termine o dia em Caminha ou mesmo Vila Nova da Cerveira; ambas são pequeninas, uma hora chega para conhecer o centro histórico.
Nesta última, recomendo um clássico: a Casa das Velhas. O restaurante é famoso por causa da sua posta de carne, mas posso garantir que faz um bom bacalhau. E tem uma vista que vale milhões.
Dia 2 Sistelo – Soajo
As terras altas do Minho são famosas por causa do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG). Para chegar lá, tem que passar por encostas povoadas de densos laranjais e pacatas aldeias. Antes de mergulhar na natureza profunda, proponho uma longa paragem em duas delas: Sistelo e Soajo.
A pequena aldeia de Sistelo é conhecida como o “Tibete português” por causa dos seus socalcos: uma enorme escadaria verde que desce dos pontos mais altos até ao vale, onde se cultiva o milho e pasta o gado, e que torna a paisagem única.
A aldeia faz parte da reserva da Biosfera Gerês-Xurés e, no início do ano, foi classificada como monumento nacional. Uma boa forma de explorar a região é fazendo uma caminhada pela Ecovia do Vez, com passadiços que se prolongam por mais de 30 km. Nós fizemos parte do percurso no Verão passado, experiência que podem ler em Da Ecovia do Vez aos Passadiços do Sistelo. E por falar na aldeia, o Pedro Henriques, do blog Espírito Viajante, tem um post belíssimo que podem espreitar aqui.
Há uma única tasquinha na aldeia, que serve petiscos e refeições, desde que a aldeia foi descoberta pelos turistas. Portanto, não tem que se preocupar com as escolhas para comer.
Já em pleno Parque Nacional da Peneda-Gerês, esconde-se a pitoresca aldeia do Soajo com os seus centenários espigueiros comunitários, que vêem na foto de entrada. Ao todo são 27 (o mais antigo de 1782) e servem para secar o milho. Construídos em pedra, apoiam-se em vários pilares, directamente assentes na rocha, sobre os quais se abre uma peça redonda para evitar que os ratos comam os cereais (os roedores não conseguem andar de cabeça para baixo, julgo eu).
E que tal assistir ao pôr-do-sol no Santuário de Nossa Senhora da Peneda? O esforço para vencer as escadas é recompensado com a imponência da paisagem e, no caminho, ainda pode apreciar os abrigos usados pelos pastores.
Dia 3 Parque Nacional Peneda-Gerês
A primeira área protegida criada em Portugal, e a única com o estatuto de parque nacional, o Gerês oferece uma experiência única de contacto com a natureza. O silêncio, a riqueza vegetal – com imensos carvalhos, medronheiros, azevinho e espécies próprias como o lírio-do-gerês – o ar puro e a paisagem são um anti-stress notável.
Várias espécies povoam o parque que se estende por 70 mil hectares: dos javalis aos veados, dos texugos às lontras, das águias-reais aos morcegos (vivem ali 10 espécies ameaçadas de morcegos), das víboras aos lobos. Mas, para mim, o símbolo do Gerês são os garranos selvagens, esses cavalos que continuam livres na natureza como Deus os criou.
Há cinco portas de entrada para o Parque, que asseguram informação aos visitantes, já que o acesso é gratuito, à excepção de uma pequena taxa de 1,5€ aplicada a todos os veículos motorizados que pretendam atravessar a Mata da Albergaria (julgo que só é cobrada entre Junho e Setembro).
Nós entrámos pela Porta do Mezio, junto da qual existe um núcleo megalítico com uma dezena de monumentos distribuídos por cerca de 2 km (mal assinalados, por sinal), e um centro hípico.
Para além de caminhadas, em trilhos devidamente identificados, nada melhor do que descobrir os miradouros e as cascatas do Parque, sobretudo no Verão. Para mim, uma das mais bonitas é a Cascata de Fecha de Barjas, mais conhecida como Cascata do Taiti, na freguesia de Vilar da Veiga, concelho de Terras de Bouro (na mesma freguesia fica também a Cascata do Arado).
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Dia 4 Arcos de Valdevez – Ponte de Lima
Terminamos esta aventura do Alto Minho de novo nas margens do Lima, em Arcos de Valdevez, uma pequena vila com mais de nove séculos. Caminhe na marginal do rio, onde um monumento evoca o torneio entre os primos e adversários Afonso VII de Leão e Afonso Henriques.
Suba depois pelas ruas estreitas, passando pelo Pelourinho até chegar ao Jardim dos Centenários, entre na igreja Matriz e depois sente-se para apreciar a magnífica vista sobre o rio e as montanhas. Para o almoço, recomendo o restaurante Foral de Valdevez, onde pode apreciar a carne de cachena e outros pratos regionais. Foi lá que provámos o doce típico (charutos dos Arcos) mas também os pode encontrar na centenária Doçaria Central.
À tarde, restam duas opções: Ponte da Barca ou Ponte de Lima. A primeira é mais pequena e resulta numa visita mais rápida. O melhor da pacata vila fica precisamente junto ao rio, com a bonita ponte do século XV, e uma pequena praia. Já Ponte de Lima tem uma ponte romana, um centro histórico muito bem preservado, e o Festival Internacional de Jardins, entre Maio e Outubro, que fazem desta uma das mais bonitas vilas do norte do país.
Como e quando ir: pode chegar a Viana do Castelo de comboio mas para fazer este roteiro é preciso carro, já que muitos destes lugares não têm ligações de transportes públicos. Recomendo visitar a região a partir de Maio, já que no Inverno chove muito por aqui.
Onde ficar: já ficámos no Luna Arcos Hotel e no Ribeira Collection Hotel e recomendamos vivamente. Pode pesquisar outras opções usando o Booking.
Onde comer: já comemos em imensos sítios no Alto Minho. Os que mais gostámos foram o restaurante Primavera (Caminha), Casa das Velhas (V.N. Cerveira), Foral de Valdevez (Arcos de Valdevez) e restaurante Vai à Fava (Ponte da Barca).
35 Comentários
O Minho é a província que melhor conheço. Por duas vezes passei uma semana percorrendo-o. A primeira em 2006 a segunda em 2015.
Mesmo assim ainda não conheço o Santuário de Nossa Senhora da Peneda apesar de ter estado em Arcos de Valdevez e pensar que o Santuário não estaria longe, mas as pessoas que me acompanhavam não quiseram ir.
Um abraço e bom fim-de-semana
Quando viajamos em grupo temos que fazer cedências. Mas foi uma pena. Um dia terá que voltar, Elvira!
Cascata linda! Qual a temperatura da água?
Água de nascente geladinha, Marta. Não sei dizer a temperatura, mas só com muito calor é que consigo mergulhar 🙂
A cada piscadela um tesouro se mostra nestas plagas sortidas em belezas naturais e construídas.Tua introdução magistral aliando bela descritiva ao excerto camiliano aguça fortemente a curiosidade de teus inúmeros leitores. Confio-te , Ruthia, verdadeiramente, que és a responsável pelo aumento da minha paixão pelas terras lusitanas.Vejo aqui que quase nada vi quando aí estive, porém , não ficarei só no lamento, vou me esmerar na realização de uma volta ao querido Portugal.
Belíssima postagem, minha cara ( como de praxe).
Bela semana pra ti e o pequeno.
Bjo,
Calu
Fico muito feliz por ter o cargo de "cupido lusitano" da minha cara amiga. Venha que será bem recebida!
Beijinho
Que maravilha, estou a gostar deste passeio.
Um abraço e boa semana.
Que lugar lindo! Nunca tinha ouvido falar, fiquei com mt vontade de conhecer… =D Portugal está na minha loooonga "wish list" hehehe =)
Muito legal. acho que nunca tinha ouvido / lido nada a respeito dessa região de Portugal. As paisagens e história do lugar parecem ser fascinantes.
Obrigado por compartilhar.
Ah… que vontade de conhecer seu país! Está nos meus planos há tempos! Que roteiro lindo! Me fale uma coisa: você diz que é bom viajar a partir de maio. Julho é bom ou é muito quente? Eu só consigo viajar nas férias escolares…
Olá Liliane. Julho é um mês habitualmente quente, então dependerá se você está habituada ao calor e lida bem com ele. O roteiro inclui várias localidades à beira mar (que são mais frescas) e também zonas de montanha, com muita sombra. Portanto, acho que o calor não seria um problema, mesmo em Julho
Querida Ruthia
Estou em casa! E que bem me sinto nela! E ainda por cima na tua companhia…
Passei parte da minha infância – dos 6 aos 12 anos – muito perto de Barcelos.
Passei a lua de mel em Viana do Castelo – lindíssima cidade, para mim de saudosas mas maravilhosas recordações.
O meu sogro era de Arcos de Valdevez…
O resto… é tudo bom e bonito.
Do vinho verde aos rojões… não há nada que não se aproveite.
Já há um certo tempo que não viajo para esses lados; está na altura de aproveitar a tua sugestão e seguir esse roteiro.
RE: O pequeno explorador não será explorado :))) se algum dia te decidires a mandar-mo, nem que seja pelo correio como encomenda postal :))).
Falando sério, a oferta mantém-se de pé para qualquer eventualidade.
Quanto ao pudim… só tens que avisar quando vens, para eu comprar os ovos :)))
Votos de uma boa semana.
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS
És sempre bem vinda na minha bagagem Mariazita! O Minho entranha-se na gente, não é? Acho que é por ser tão verdinho
Bom dia, tenho o prazer de conhecer o alto do Minho e mais ou menos o roteiro sugerido, a região é fabulosa na sua enorme beleza em qualquer altura do ano, o verde da natureza é encantadora, as fotos são perfeitas.
Continuação de feliz semana,
AG
A natureza é realmente linda e rende imagens inspiradoras. Imagino o que o amigo AG faria com a sua máquina fotográfica
A leitura desse post veio na hora certa! Ontem, uma amiga, que irá visitar a filha que está estudando em Portugal, me pediu dicas sobre o Norte do País, região que ainda não conheço. Agora, vou passar para ela o link de seu post com essas dicas valiosas do Alto do Minho. Muito obrigada!
Se precisarem de alguma dica em particular, pode dizer.
Boas aventuras em terras lusas para a sua amiga.
Abraço
Eu amo Portugal e adorei essas dicas! tudo anotadinho para quando eu voltar lá, em breve!
Que lugar encantador, Ruthia! Amo o seu país – meu lugar no mundo. Abração!
que lindas paisagens.. e cascata maravilhosa.. me deu vontade de sair a caminhar… o verde está como o da Irlanda, com uma coloração toda especial, em tuas fotos! amei este passeio que novamente tu me proporcionou! bjs no coração de vcs, cheia de saudades!
Pois é, Portugal é mais do que Lisboa, Porto e Algarve. Imagina o que poderia conhecer em um mês ou dois.
Beijinho
Feliz fim de semana,
AG
Me senti conhecendo essa linda região com você. Que passeio maravilhoso, como Portugal tem tantos cenários e histórias para oferecer.
O lugar é um encanto e seu post reúne dicas preciosas. Adicionando à lista de desejos em 3, 2, 1! Ótimo post!
Lindo! Não conheço nada de Portugal mas seus posts são sempre inspiradores. Posso dizer que conheço um pouco mais de Portugal por ler seus posts, são lugares que nem sempre vemos na mídia por aqui
Muito obrigada pela sua visita e amável comentário. Portugal tem muitas faces, não é só em cidades apinhadas de turistas que se conhece um país
Conheço alguns desses pontos e, agora que chega o bom tempo, mal posso esperar para revisitá-los!
Beijinhos 🙂
Que demais esse roteiro! Muito completo 🙂
Olá! Não conhecia essa região, mas já amei pelas fotos. Portugal é um país com cada tesouro. Queria poder ter conhecido mais. Ainda voltarei para conhecer outras regiões. Bjs
Olá Ruthia, adorei este roteiro pela região mítica do Alto Minho.Conheço quase como a palma das mãos os locais que apontaste e agradeço a referência ao meu artigo. Ao ler o texto, lembrei-me que estou em falta com Viana do Castelo que já não visito há muitos anos. Um abraço de Braga.
Já conheço muito e muito mais tenho para conhecer.
Bjs
Inspirador, fotos magnificas, viva o NORTE*
Em maio andei por essa região e passei por vários dos lugares que descreves, com uma sublimeza assinalável… sempre um enorme prazer ler quem trata tãooooo bem a língua portuguesa 🙂
Ruthia, olá!
Estou encantada com este lugar. As fotos estão maravilhosas. Me parece um ótimo roteiro.
Aproveito para agradecer pelos seus votos no meu aniversário, um prazer recebê-la no meu blog. Desejo a você e família, toda a felicidade deste mundo, com saúde e alegrias.
Beijocas querida Ruthia.
nunca ia imaginar que encontraria tais paisagens como as de pequena aldeia de Sistelo em Portugal! Que demais!!