Atualizado em 15 Abril, 2021
Os vales do rio Lima são férteis em homens aventureiros. Hoje conhecemos mais um, que partiu de Viana do Castelo para descobrir a Terra Nova, perto do Canadá, onde Portugal ainda pesca muito do seu bacalhau.
Iniciámos a Rota dos Gigantes do vale do Lima em Ponte da Barca, pela mão do navegador Fernão de Magalhães, seguindo depois as pisadas do jesuíta Francisco Pacheco numa das vilas portuguesas mais velhinhas: Ponte de Lima. Hoje chegamos à foz do rio para apresentarmos outro descobridor, de seu nome João Álvares Fagundes.
A sua figura fita o horizonte na marina, peito aberto, como que a ouvir o apelo que o lançou no Atlântico, numa aventura que financiou do seu bolso e o levou até às águas geladas da Terra Nova e do golfo de S. Lourenço (perto da costa do Canadá) no século XVI.
Tudo começou com um povo que se habituou a comer bacalhau, desde que D. Dinis fez um tratado com Inglaterra. Como o consumo crescia, houve um vianense que resolveu procurar um novo poiso do célebre peixe. O nobre Fagundes contribuiu para o consumo do bacalhau em terras lusas, ao garantir direitos sobre uma importante zona de pesca. Nós e as nossas 1001 maneiras de fazer bacalhau agradecemos, ou não fôssemos o país com maior consumo per capita do mundo.
Vamos conhecer a terra natal do capitão da Terra Nova (de acordo com a carta régia de D. Manuel)?
Viana do Castelo, que também responde pelo nome de “princesa do Lima”, tem longa tradição marítima, se recordarmos que Gonçalo Velho, um dos primeiros navegadores do Infante D. Henrique, também nasceu na região.
Aliás, a estátua de uma mulher com roupas ondulantes e uma caravela na mão simboliza a cidade e esta sua vocação marítima. Aos pés da escultura pétrea em estilo rococó estão quatro bustos: são os quatro cantos do mundo até onde os marinheiros e mercadores locais viajaram.
Comecemos este roteiro onde o Lima se fina no Atlântico, passagem guardada pelo forte de Santiago da Barra, seguindo sempre à beira-rio até avistarmos a estátua do nosso descobridor e o navio-hospital Gil Eannes.
Este velho navio foi construído na cidade na década de 50, quando os estaleiros de Viana eram famosos e pujantes, para apoiar as frotas bacalhoeiras na Terra Nova e Gronelândia. Depois de quase ter virado sucata, foi recuperado na cidade e abriu ao público como museu.
Exploradas as entranhas da embarcação (reservem uma hora, pelo menos), seguimos para o centro histórico, passando pela rua Grande onde o nosso descobridor nasceu, até à Sé, onde repousam os seus restos mortais. E dali o passeio é belíssimo até à Praça da República, com o seu grande chafariz, os antigos Paços do Concelho e a Misericórdia.
Fazemos aqui uma pausa na rota para entrar na galeria da Santa Casa da Misericórdia e visitar a exposição de fotografia sobre a ilha de Moçambique, simpaticamente guiados pelo seu autor, Oliveira Martins. O seu olhar prova a capacidade do ser humano ver beleza, mesmo em tempo e cenário de guerra.
Mesmo ao lado do edifício começa o Passeio das Mordomas, particularmente rico em casas senhoriais de arquitectura manuelina, esse estilo que celebra de forma tão bela a época dourada dos Descobrimentos.
Terminamos o dia no alto do Monte de Santa Luzia, na basílica que coroa a cidade de Viana do Castelo, subindo ao zimbório, nada adequado para claustrofóbicos, para apreciar a vista arrebatadora que mereceu aplausos da National Geographic: dali se vê todo o vale do Lima, verdinho e bucólico, atravessado pela ponte da conceituada casa Eiffel, até ao mar de onde as caravelas vianenses partiram em busca de tesouros e aventuras…
Navio-hospital Gil Eannes: aqui | 9.30h às 18.00h (Inverno) | Bilhete: 4€ (a partir dos 6 anos)
Exposição Ilha de Moçambique: até 15 de Novembro na galeria da Santa Casa da Misericórdia | Entrada grátis
Basílica de Santa Luzia: aqui | todos os dias das 8h00 às 17h00 (Inverno) |Entrada grátis; bilhete para a subida ao zimbório 1€
Quando ir
Viana do Castelo pode ser bem ventosa, pelo que a altura mais agradável para visitar é na Primavera/Verão. Em Agosto acontece uma grande romaria, que atrai visitantes de todo o país em busca do colorido das festas minhotas e dos trajes tradicionais: a Senhora da Agonia.
Como chegar
A menos de uma hora do Porto, a cidade tem bons acessos rodoviários, a partir da auto-estrada A28. Para além disso, a linha do Minho, que liga o Porto a Vigo (Espanha), permite chegar de comboio.
Onde comer
Como em todo o Minho, a mesa é farta em Viana do Castelo. Nós almoçámos no restaurante do Museu do Chocolate. Apesar de não ser propriamente barato, o conceito é inovador e o serviço atencioso. Com algumas pequenas afinações – meus senhores, é imperdoável não terem mousse de chocolate – pode tornar-se um restaurante de referência.
35 Comentários
Adoro quando história e viagem se encontram, é a única forma que eu consigo aprender alguma coisa para ser sincera rs… que pôr do sol estonteante!!! Amei
Viajar é a forma mais prazerosa que conheço de aprendermos. Daí fazer questão de levar o meu filho nas minhas aventuras, desde muito pequeno.
Grata pela sua visita e amável comentário
Ruthia, gosto muito de ler seus relatos, pelas historias, pelo sotaque 'português de Portugual', como dizemos por aqui (eu leio os blogueiros portugueses com sotaque rsrsrs) e as imagens lindas que compartilha – a que abre o post, especialmente.
Eu também ponho um pouco de sotaque quando leio blogs brasileiros 🙂
Obrigada pela visita e pelo amável comentário
Muito lindo tudo.Adoro aprender aqui e conhecer mais e mais! bjs, chica
Gostei muito de mais esta partilha, muito bem elaborada!
Gosto muito de Viana, quero voltar em breve.
Fico a aguardar pelas notícias sobre esse restaurante do Museu do Chocolate, muito curioso…
Bjs
Já não visitava Viana há uns 20 anos e gostei do rumo que a cidade está a levar. A frente ribeirinha está muito agradável.
Com essa localização, os rumos só podiam estar no oceano… Estou à espera do post sobre o Museu do Chocolate.
O apelo do mar é muito grande. Com uma linha costeira tão grande, não admira que esta nação parisse tantos e tão notáveis navegadores e aventureiros.
Adorei, Ruthia. A começar pelo nome Rotas dos Gigantes. Viajei com você nessa história maravilhosa. Obrigada por contá-la! Abraços do Brasil!
Acho que o nome da rota é um caso de marketing bem sucedido, haha.
Abraço
Como sempre com roteiro imperdíveis em Portugal, já fiquei com vontade de conhecer Viena do Castelo e explorar essas ruas e apreciar toda a história, parabéns pelo post.
Gostei muito de conhecer Viana do Castelo, a igreja de Santa Luzia e a magnífica vista que os nossos olhos alcançam lá de cima. Infelizmente fomos muito mal servidos com a comida, e isso deixou-nos uma má recordação.
Um abraço
A sério Elvira? Que pena, até porque no Minho se come, de uma maneira geral, muito bem. Tem que voltar para criar uma nova recordação da cidade.
Abraço
Uma excelente reportagem com belas fotografias de Viana do Castelo.
Uma boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Adorei o relato, parece um lugar rico em história. Além do mais, suas fotos estão lindas (aquele povo ali deu vontade de comer). Bjss
O polvo é um dos meus pratos preferidos e estava realmente uma delícia. Só que devia ser polvilhado com grué moído (semente do cacau, fermentada, seca e torrada) e não tinha.
Acho que o restaurante está em fase de transição de chef e da carta, precisa algumas afinações…
Muito interessante o seu post, bem completo. Adoro conhecer lugares com história pra contar, fica tudo mto mais interessante.
Que história mais linda, sério mesmo! fiquei viajando ao ler o seu post! parabéns pelo capricho e pelas dicas!
Obrigada Paula. Se viajou pelas palavras, o post cumpriu o seu objectivo.
Acho sensacional a maneira como você mescla história com os destinos turísticos! Parabéns pelo trabalho tão único! <3
Muito obrigada pela sua amável visita e comentário. É muito bom receber este tipo de feedback. Na verdade, esta rota pede mesmo apontamentos históricos já que foram personagens históricos que inspiraram a criarem a rota dos gigantes do vale do Lima.
Adorei o seu relato! Quanta história e beleza reunidos em um único lugar. Esse post só me prova que preciso conhecer Portugal urgentemente. Bjs
Como é a "minha" cidade, nem sei comentar…
Em qualquer caso, este post é mais um magnífico trabalho.
O Museu do Chocolate é mesmo bom, ainda que não seja económico…
Não tão bom, mas com uma boa vista para o mar e mais barato, é o Scala, na Praia Norte. Mas há muitos mais…
Bom fim de semana, amiga Ruthia.
Beijo.
Vou apontar essa dica sobre o restaurante na Praia Norte, para uma próxima visita. O pequeno explorador adorou o Museu do Chocolate!
Gostei muito desse post! Tudo muito bem explicadinho e fácil de entender! O local é realmente encantador <3
Adoro posts que saem do lugar comum de só descrever o local, mas que completam a experiência com a história e nos faz sentir até os sabores da região. lendo teu relato, me senti realmente viajando contigo!
O Berço não gosta muito de lugares comuns… mas às vezes todos cometemos esse pecado. Seja bem-vindo(a).
Gostei do roteiro, Ruthia, sempre em crescendo, a terminar em apoteose no Monte de Santa Luzia.
Muito bem!
Sempre em crescendo pelo menos em altitude 🙂 Abraço amigo AC
Adorei o post, inclusive amo fazer tours que têm história pra contar, ainda mais história sobre as origens do lugar.
O Bacalhau de vocês deve ser um sonho de tão gostoso, ainda quero prová-lo aí em Portugal!
A rota dos Gigantes deve ser incrível, Ruthia, pois ao menos o roteiro é super interessante.Beijos, Paula Abud.
Adorei sua experiencia, quero muito conhecer Portugal. Beleza com fotos lindas em um só lugar.
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