Atualizado em 13 Fevereiro, 2021

Durante quase uma semana, Braga recua no tempo 2000 anos e volta a ser Bracara Augusta, a pujante urbe fundada por César Augusto em 16 a.C.

Hesitei bastante em escrever este post, uma vez que, em rigor, não pus os pés na Braga Romana em 2015. Daí as fotos serem todas da organização desta festa que já rivaliza com o famoso S. João da cidade. Para além disso, terei que explicar o motivo pelo qual fui a Braga e não cheguei a ver nada, zip, do festival, correndo o risco de parecer uma idiota completa.

Vamos lá resumir os motivos para escrever este post. Primeiro, eu gosto de Braga. Antes de ir morar para o Brasil, trabalhava numa agência de comunicação responsável pelo roteiro turístico da cidade minhota, o que me permitiu conhecer um pouco do seu riquíssimo património romano.

Cite-se, por exemplo, o balneário encontrado sob o claustro do seminário de Santiago, várias termas, a Fonte do Ídolo (que, possivelmente, faria parte de um edifício religioso consagrado ao deus Tongoenabiago), o espólio arqueológico guardado no Museu D. Diogo de Sousa, ou as grandes vias romanas que ligavam Bracara Augusta a outras grandes urbes…

© Câmara Municipal de Braga

Em segundo lugar, apesar das feiras medievais serem já banais, Braga consegue envolver os seus habitantes de uma forma notável. Todas as escolas do concelho participam no cortejo inaugural, por exemplo. Os noivos do casamento romano encenado este ano foram escolhidos a partir do passatempo “Ubi tu Gaius ego Gaia e a organização premiou ainda uma família bracaraugustana vestida a rigor.

Em terceiro lugar, o cuidado histórico por detrás de toda a animação resulta sempre em novidades e surpresas. Há iguarias romanas reinventadas, bailarinos que dançam ao som da música do Deus Lupercus, legionários que saúdam Júpiter, grandes cortejos triunfais, workshops sobre jogos de tabuleiro da época.

© Câmara Municipal de Braga

E depois, personagens mitológicas (Fauno e Fauna, druidas, Vénus e Cupido, bufarinheiros, Draco e Isolda) que se cruzam connosco pelas praças.

Ou seja, a Braga Romana comemora, de uma forma digna e muito festiva, os primeiros tempos daquela que foi a opulenta cidade Bracara de Augustus, o imperador que a fundou, após estabilizar a Península Ibérica sob a pax romana.

Tudo isto somado, entendem porque fui até lá numa tarde de domingo, com o pequeno explorador e a minha mãe.

A confusão habitual para estacionar mas, para variar, tenho sorte e o arrumador arranja-me um lugar num sítio excelente, bem pertinho do centro. Saio do carro, não esquecer máquina fotográfica, moeda para o arrumador, dou a volta e vejo que o pneu ficou um pouco em cima do passeio. Ainda cogito em deixá-lo assim, mas a consciência pesa-me.

© Câmara Municipal de Braga

Destranco de novo o carro, abro a porta do passageiro para rodar um pouco o volante (bastava uma coisa de nada). Como o volante está trancado, meto a chave na ignição mas continua a não se mexer. Saio para me sentar no lugar do condutor e pôr o carro a trabalhar mas, assim que bato a porta, o carro bloqueia.

Carro trancado com tudo – chave, telemóvel, carteira, máquina fotográfica – lá dentro. Liga-se para Angola, para o meu marido, porque o raciocínio bloqueou. “É só ir a casa, buscar a chave suplente“, lá responde, depois de me perguntar 50 vezes como é que fiz aquilo.

Tudo bem, tenho várias amigas que moram em Braga, é só ligar a uma delas a pedir uma boleia. Acontece que o meu telemóvel está dentro do carro. E o arrumador, ébrio, continua a dar palpites “parte-se o vidro de trás“…

© Câmara Municipal de Braga

Felizmente, uma amiga da minha irmã – a quem arruinei a tranquila tarde domingueira de praia – dispõe-se a levar-nos a Guimarães. Cinquenta e tal quilómetros, estamos de volta ao pé do carro que não conseguimos abrir, mesmo com o novo comando.

Liga-se a outro amigo, que tem jeito para carros. O comando não funciona? Abram na fechadura!“, remata com uma ponta de ironia (imagino eu, que não estava ao telefone, mas que tomo a liberdade de cogitar o que lhe passou pela cabeça).

Mas o carro não tem fechaduras à vista… Lá vem o tal amigo da amiga da minha irmã, dá cinquenta mil voltas ao meu Seat branquinho e encontra uma fechadura, tão bonitinha e completamente escondida. Modernices!!!

Resultado, quatro horas de um domingo desperdiçadas e a sensação de ter feito a maior burrice da história. Da feira, ali tão perto, só ouvimos o barulho. Resta-nos as imagens da organização e esperar pela Braga Romana 2016.