Atualizado em 26 Setembro, 2022

Vencemos uma das colinas que caracterizam Lisboa, para chegar às mais comoventes ruínas da capital: eis-nos no Largo do Carmo, palco da Revolução dos Cravos.

Temos o mapa 9 do Explorar Lisboa na mão, porque eu queria muito, muito, mas muito conhecer a Igreja e Convento do Carmo. Na verdade, conhecer as ruínas, pois o templo gótico foi devastado pelo terremoto (1755) que ia varrendo a cidade do mapa.

O abalo foi tão grande que foi sentido em Espanha (recordem os estragos causados na catedral de Salamanca), e a ele seguiu-se um maremoto e muitos incêndios porque, em Dia de Todos os Santos, milhares de velas ardiam nas igrejas. Daí nasceu o ditado “cair o Carmo e a Trindade”, para aludir a uma grande desgraça, por referência a duas igrejas muito próximas e que ficaram seriamente danificadas.

A belíssima igreja nunca chegou a ser reconstruída, pelo que as ruínas permanecem como memória pungente da tragédia. Os gigantes arcos em ogiva conduzem o olhar para as alturas, mas é o céu que serve de tecto às pedras, resultando em fotografias com uma pátina melancólica, mas definitivamente interessantes.

Entretanto, duas partes da construção foram reaproveitadas. A primeira acolhe um Museu Arqueológico, onde repousa o túmulo do rei D. Fernando I e um espólio arqueológico interessante que inclui duas múmias do Peru (juro! foram as primeiras múmias que o Pedrinho viu, mas não se mostrou nada incomodado. A imagem já está no Instagram).

A outra parte habitável do edifício foi convertida em quartel. Marcelo Caetano refugiou-se ali dos militares revoltosos durante o 25 de Abril e o capitão Salgueiro Maia dirigiu o cerco, como recorda a placa comemorativa no largo.

Claro que subir as colinas de Lisboa pode ser penoso, sobretudo se visitamos a capital portuguesa em pleno Verão, mas há algumas ajudas. Por exemplo, pode usar um dos elevadores ou funiculares (Ascensor da Bica, Elevador da Glória, Funicular Lavra ou Elevador de Santa Justa) ou fazer um passeio de Tuk tuk em Lisboa, no bairro de Alfama, que a Carol e família.

Descermos para a baixa lisboeta, parando para comprar um chocolate a um vendedor indiano que só falava inglês e para conhecer a emblemática estação de comboios, com os seus painéis de azulejos e a linda fachada manuelina, onde há pouco tempo um doido por selfies espatifou a estátua do rei D. Sebastião. O Pedrinho respondeu com prontidão à questão acerca do mito que envolve o monarca desaparecido em Marrocos: “ele vai voltar num dia de nevoeiro”.

O mapa levou-nos também ao Teatro D. Maria II e à Ginjinha inventada pelo galego Espinheira. Na porta conta-se a estória de Matheus (feio, magro e tísico) e do seu anafado irmão, que gozaria de uma esplêndida saúde por beber 6 copos de ginjinha por dia!

Por fim, levou-nos ao hospital das bonecas e ao turístico café Nicola. Tenho a dizer que o pequeno explorador soltou deliciosas gargalhadas perante a quadra do Bocage e ainda hoje a recita de cor, a quem o quiser ouvir… Certo dia, um polícia perguntou ao Bocage quem era, de onde vinha e para onde ia. A célebre resposta:

Eu sou o Bocage
Venho do Nicola
Vou p’ro outro mundo
Se dispara a pistola

Site do Museu Arqueológico do Carmo aqui | Bilhete: 3,5€ (adulto)