Atualizado em 17 Fevereiro, 2021
Depois das escarpas impactantes da Costa da Morte, terminamos a nossa pequena aventura galega na península do Grove, banhada pelas cálidas Rias Baixas.
Diz-se que são obra de Deus, que Ele estendeu a mão e, com os seus dedos, as formou num impulso de generosidade. Perdoemos a hipérbole natural de um povo apaixonado pela sua terra, sem deixar de reconhecer que existem ali recantos belíssimos.
A bênção divina estende-se às águas, ricas, que sustentam a comunidade de pescadores. As plataformas de criação de marisco dão um toque peculiar à paisagem e atraem turistas aos magotes. Anualmente, no mês de Outubro, chegam aos milhares para uma festa gastronómica que começou em 1953.
À distância de uma pequena ponte fica a isla de La Toja, que os galegos teimam em chamar A Toxa, a região turística mais elitista da Galiza, com o seu balneário termal, os SPAs, um casino e campos de golfe verdinhos. E pensar que, até ao século XIX, a ilha era uma mera pastagem para o gado.
A descoberta destas águas nada tem de glamouroso: um padre terá deixado aqui o seu burro, agonizante, à espera da morte. Quando regressou à ilha, foi com surpresa que encontrou o asno alegre e com o pelo brilhante. Foi curado pelas águas milagrosas!
Para além das termas, nasceu aqui uma fábrica de produtos de beleza, famosa por causa do sabonete de cor negra e por usar água termal. Hoje, a produção é toda feita na Alemanha e na Eslovénia e a fábrica virou loja-museu. Da ilha, os sabonetes apenas carregam o nome e os sais minerais.
O sol ainda está meigo quando saímos da loja, perseguidos por um leve aroma perfumado. Quero espreitar a ermida de San Sebastián antes que o primeiro autocarro chegue e vomite dezenas de turistas. A igreja românica do século XII nada tem de sumptuoso, mas queria mostrar ao Pedro porque é tão singular: está coberta de conchas de vieira.
O material, que abunda por estes lados, faz o pequeno templo brilhar num tom nacarado. No interior, modesto, mora uma Virgem do Carmo pequenina emoldurada por uma grande concha. O pequeno explorador admira as vieiras de perto, lendo em voz alta os nomes inscritos (foto no Instagram d’O Berço).
Na verdade, um pequeno aviso na porta pede aos visitantes para não escreverem nas conchas, mas o ser humano tem esta sede de deixar sempre a sua marca por onde passa…
O primeiro grupo chega, quebrando o encanto e o silêncio. É a nossa deixa para rumarmos até outras paragens.
Site da marca La Toja aqui
9 Comentários
Já lá estive, é um local muito agradável! E adoro o cheirinho daquele sabonete!
Beijinhos, bom domingo 🙂
Conheço pelo menos três localidades com fontes termais que têm, também, as respectivas lojas de sabonetes e outros artigos confeccionados com as águas "mágicas". Funcionam? Não sei, mas parece que são autênticos. No entanto, nem todos têm um aroma muito agradável (é por isso que se diz que nada é perfeito).
Bela postagem. Tenha uma ótima semana!
Bem, Ruthia, pelas Rias Bajas já andei, pernoitei, fruí. Poderei mesmo acrescentar que, na minha próxima ida à Galiza, desta vez mais para norte, não deixarei de por lá passar para cumprimentar quem merece.
Mais uma excelente crónica!
Um beijinho 🙂
Tenho uma imagem dessa Virgem, que uma amiga me trouxe de recordação há dez anos atrás.
Obrigada por esta partilha
Abraço e boa semana
linda, por sinal, a foto do instagram…. mais um passeio que podemos fazer através de teus olhos e tuas linhas sempre tão lindamente escritas
obrigada! bjs
Lindo passeio o que esta postagem me proporcionou, por terras que não conheço…
Fiquei a pensar no burro… Se as águas o puseram fresco e airoso, o que não farão às pessoas, em princípio mais influenciáveis que um burro… 🙂
Quem ficou a ganhar foi o padre, que "ganhou" um burro novo.
É bem verdade que o ser humano deixa sempre a sua marca por onde passa, e, frequentemente, essa marca não é das mais louváveis, como se pode comprovar na foto do Instagram… É uma tristeza, não é? A mim estas coisas põem-me doente.
Votos de uma semana muito feliz.
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS
A mim também me deixam muito irritada, Mariazita. E o pior é que encontrei vários blogs de viagens que mencionam a igreja e dizem, com o maior desplante, para os visitantes não se esquecerem de deixar o seu nome nas conchas. Pelo amor de Deus!
Olá amiga, mais uma bela partilha e apresentação de uma localidade interessante com sua historia e crendices, que ninguém ouse dizer que não. Interessante este uso das conchinhas e uma pena o vandalismo da descultura.
E lá vai o pequeno descobridor criando historias de viagens.
Meu terno abraço amiga.
Bju de paz no coração.
Boa noite, Ruthia, seus relatos de viagem são sempre muito ricos, com detalhes preciosos da cultura local. Lindo o trabalho com as vieiras, o pequeno explorador sempre atento…
Grata pela partilha, feliz sexta-feira, abraços carinhosos
Maria Teresa