Atualizado em 12 Abril, 2021

Tic, tac, tic, tac… há séculos que a Suíça é famosa pelos seus relógios. E tudo começou em Genebra, a cidade de Calvino, ali entre os picos alpinos e as montanhas do Jura. Hoje, propomos um passeio pela arte do tempo

Vamos para sul, em direcção à Suíça francófona. Os pomares de macieiras sucedem-se, floridos. A maçã suíça não é tão famosa como o seu chocolate, mas é igualmente saborosa.  An apple a day, keeps the doctor away: o lema é tão popular em terras helvéticas que até vendem ímans com a frase. A importância desta produção revela-se num pequeno detalhe: quem quiser entrar no país com maçãs na bagagem terá que as deixar nos serviços alfandegários.

Mas o tema de hoje é outro. Relógios.

A arte relojoeira chegou a Genebra na segunda metade do século XVI e ganhou força graças a Calvino. Porquê? Bem, uma das actividades económicas tradicionais da cidade era a ourivesaria. Mas, com a rigorosa reforma protestante, proibiu-se o uso de jóias e outras formas de ostentação de riqueza. Assim, os ourives orientaram a atenção para a relojoaria, até transformarem a Suíça no principal produtor mundial.

Ainda hoje, 90% da produção de relógios está concentrada na região do Jura, conhecida como Watch Valley, o país da precisão, que se prolonga por 200 km.

Genebra homenageia os cinco séculos de relojoaria com um roteiro específico, que inclui uma longa lista de marcas: Franck Muller, Audemars Piguet, Richard Mille, Breitling, Ulysse Nardin, IWC, Boucheron, Avakian, Panerai, Tiffany & Co… (pausa para recuperar fôlego)… Delaneau, Louis Vuitton, Mont Blanc, Bovet, Van Der Bau Wede, Vacheron Constantin, Tudor, Rolex, TagHeuer, Hublot, Piaget, Omega (vou parar por aqui, acho que já perceberam)! Haja carteira.

Começamos o watch tour na Cité du Temps, uma antiga estação de água recuperada pela Swatch em 2005. O edifício hoje conta com uma galeria de arte, restaurante e uma exposição dedicada àquela marca de relógios.

Não muito longe dali, na saída da Ponte Mont Blanc, um estranho relógio de sol revela o chamado “tempo solar” e a altura do astro-rei (que permite calcular a data através de um ponto luminoso projectado no centro). O magnífico objecto foi oferecido à cidade em 1974 pela Gübelin.

O relógio de sol desenhado pela Gübelin, que calcula o tempo solar

Seguimos lentamente pelas margens do Lago Léman, o maior lago de água doce da Europa Ocidental. É impossível não reparar no enorme jacto de água que lança 500 litros de água no ar por segundo, a uma velocidade de 200 km por hora.

O que muita gente não sabe é que o jacto nasceu por causa de um problema técnico, em 1886. A hidroelétrica do rio Rhône (que fornecia artesãos, indústria e relojoeiros de Genebra) tinha tanta força, que quando se fechava a unidade à noite, a forte pressão ameaçava as turbinas. Um engenheiro lembrou-se então de colocar uma válvula de segurança para escoar o excesso de água, provocando um jacto de 30 metros de altura.

Anos mais tarde, nas comemorações do 600º aniversário da Confederação Suíça (1891), a cidade decidiu tornar o Jet d’Eau num ponto turístico, criando um modelo ainda maior, de 90 metros. Hoje, atinge os 170.

O ponteiro dos segundos, com 2,5 metros, é o maior do mundo!

Nas margens do lago fica também o jardim inglês e o mais famoso relógio da cidade, que alia duas artes belíssimas: botânica e relojoaria. Com 16 metros de circunferência e 5 metros de diâmetro, o dito relógio é feito com mais de 6 mil flores, que mudam de acordo com a estação do ano. Para além de bonito, o Horloge Fleurie informa as horas com precisão suíça: o horário é transmitido via satélite.

Seguimos de relógio em relógio, até ao incrível exemplar da Passage Malbuisson, que encanta os visitantes de hora em hora com o seu visor musical, quando 42 figuras de bronze em miniatura marcham ao som de pequenos sinos.

Concebida por Eduard Wirth, esta criação de conto-de-fadas é inspirada na L’Escalade, a vitória dos genebrinos sobre as tropas de Carlos Emanuel I de Sabóia – que  usaram escadas para vencerem as muralhas e atacarem a cidade – na noite de 11 para 12 de Dezembro de 1602.

Terminamos este roteiro extraordinário no Museu Patek Philippe (uma marca local), entre criações dos seus mestres relojoeiros e uma coleção de relógios, autómatos musicais e miniaturas de esmalte dos séculos XVI ao XIX, criadas em Genebra, na Suíça e na Europa.

Tic, tac, tic, tac. O tempo esfuma-se quando somos felizes.

Philippe Patek Museum: site | Terça a quinta 14h00-18h00 e sábado das 10h00-18h00 | Bilhete 10 CHF (adulto), gratuito (crianças)
Cité du Temps: site | Todos os dias 9h00-18h00 | Gratuito

Dica: Transporte público gratuito. Quem se hospedar num hotel, pousada da juventude ou acampamento em Genebra, recebe um “Geneva Transport Card” que permite usar os transportes públicos da cidade, gratuitamente, durante a sua estadia.

Outras visitas notáveis: CERN

A noroeste da cidade de Genebra, fica um dos laboratórios científicos mais fantásticos de sempre. Considerado o maior laboratório de física de partículas do mundo, o CERN fica na fronteira entre a França e a Suíça.

Criado em 1953, o objectivo desta organização científica é a “promoção e a colaboração entre países europeus na área da investigação fundamental no domínio da Física das Altas Energias, de modo a permitir à Europa a liderança nesse domínio”. À entrada, o Globo da Ciência e da Inovação, com 27×40 metros, dá as boas-vindas aos visitantes.