Atualizado em 19 Maio, 2023

Nem só de campos verdejantes e vulcões vive o turismo de São Miguel. Palmilhamos a calçada negra e desvendamos os recantos de Ponta Delgada, a capital da ilha, porque há muito para ver num dos destinos mais sustentáveis do planeta.

O olhar alonga-se pela extensa baía que define o perfil de Ponta Delgada. Um concerto anima as Portas do Mar, o novo terminal marítimo desenhado pelo arquitecto responsável também pelo Centro Cultural de Belém ou pelo Estádio do Dragão.

O cheiro a maresia acompanha-nos até às Portas da Cidade, onde o descobridor Gonçalo Velho Cabral – compincha do Infante D. Henrique e responsável pelo povoamento das ilhas do grupo oriental – nos dá as boas-vindas.

Ponta Delgada começou por ser um simples povoado de pescadores mas a segurança das suas enseadas fez crescer a importância do porto e da cidade. Foi sobretudo a partir do século XVII que surgiram conventos, igrejas (o pórtico manuelino da matriz de São Sebastião fica tão lindo à noite), casa senhoriais e tantas outras construções, históricas e charmosas.

Uma das mais surpreendentes é a Capela de Nossa Senhora da Esperança, junto ao convento com o mesmo nome, onde o poeta romântico da ilha, Antero de Quental, se suicidou.

O triste episódio está há muito esquecido. Quem entra na capela vai para apreciar os painéis de azulejos e, sobretudo, para rezar ao Senhor Santo Cristo dos Milagres, que motiva a maior celebração religiosa dos micaelenses, no quinto domingo depois da Páscoa.

Ponta Delgada substituiu Vila Franca do Campo como a cidade mais importante da ilha, após o grande terramoto de 1522

Poucos saberão que a jóia que enfeita a imagem é a maior do património português (documentário aqui). O Santo Cristo de punhos atados, coroa de espinhos e manto púrpura tornou-se um símbolo tão popular que pode ser encontrado em qualquer lojinha de souvenirs, em canecas, porta-chaves… you name it.

Apesar de ser a principal urbe dos Açores, Ponta Delgada tem a tranquilidade de uma cidadezinha do interior. As casas caiadas de branco contrastam com o negro do basalto, sorrindo vaidosas com as suas varandas de ferro rendilhado. As tasquinhas transbordam de clientes até à rua, onde um brasileiro dedilha o seu violão.

Mãe olha eu aqui ganhando honestamente a vida – declara, entre duas canções melosas.

Os turistas, cada vez em maior em número, deambulam sob a humidade açoriana, de mapa na mão, em busca dos monumentos e pracetas de calçada negra, feita de basalto, a pedra vulcânica que abunda na ilha. Ao contrário do que acontece no continente, aqui o calcário apenas serve para os detalhes, formando padrões tão interessantes que uma equipa da Universidade dos Açores criou dois percursos para os ver: o roteiro de frisos e o roteiro de rosáceas.

Se é fã deste tipo de calçada histórica, poderá gostar de ler Calçadas de Pedras Portuguesas, que a Carolina escreveu sobre o Rio de Janeiro.

A imagem de Santo Cristo dos Milagres terá sido oferecida pelo Papa Paulo III às freiras do Convento de N. Senhora da Esperança

Pelo caminho, tropeçamos noutros pontos interessantes, já que vários edifícios históricos foram convertidos para outras funções: o governo regional ocupa o Convento da Conceição, o Forte de S. Brás acolhe um museu militar e o Museu Carlos Machado está instalado no antigo mosteiro de Santo André (séc. XVI), primeiro padroeiro da cidade.

Aqui e ali, grandes obras de street art recordam-nos que continuamos no século XXI. A maioria foi criada no âmbito do festival de arte pública Walk & Talk, que se realiza todos os Verões desde 2011. Vhils, Mark Jenkins, MAR, Mariana a Miserável, Paulo Arraiano e Eime são alguns dos artistas com obras espalhadas pela ilha, do centro de Ponta Delgada à vila de Rabo de Peixe.

Hora de repor energias, pelo que nos propomos devorar um belo prato de peixe. Leiam o nosso post sobre os sabores micaelenses, revelando os tesouros gastronómicos da ilha.

Outras visitas: Gruta do carvão

A Gruta do Carvão, no caminho do aeroporto, é um lugar fantástico para perceber a força vulcânica das ilhas. Para se maravilhar com as estalactites que pendem do tecto, não se esqueça de reservar no dia anterior. Porque a gruta com uma idade entre os cinco e doze mil anos atrai tantos curiosos que as visitas diárias (duas de manhã e três à tarde) esgotam rapidamente.

Portas do Mar: aqui. Mais do uma marina, onde aportam cruzeiros e partem os barcos de observação de baleias, as Portas do Mar têm muitas opções de lazer: piscinas, bares e restaurantes.

Festival Walk & Talk: aqui

Gruta do Carvão: aqui | Horário visitas: 10h30-11h30-14h30-15h30-16h30 | Bilhete: 5€ (adulto), 2,5€ (seniores e estudantes), 1€ (crianças 6-11 anos)