Atualizado em 16 Abril, 2021

Nove ilhas vulcânicas plantadas no meio do Atlântico e também são Portugal. Um Portugal de sotaque carregado, tempo instável e um ananás dulcíssimo. Vamos conhecer a maior e mais povoada: São Miguel

Bem-vindos ao paraíso, anuncia o comandante do avião que em breve vai aterrar no aeroporto João Paulo II, em Ponta Delgada. As mesmas palavras são replicadas em inúmeras reportagens internacionais que elogiam os Açores como um tesouro escondido. A National Geographic, por exemplo, elegeu o arquipélago como um dos lugares mais belos do planeta em 2016.

A segunda ilha a ser descoberta no século XV (após a de Santa Maria, a cerca de 81 km), São Miguel, está a tornar-se um destino muito procurado desde que as companhias low-cost fazem voos regulares para os Açores. Vamos explorar a ilha verde?

Dois maciços vulcânicos esculpiram esta terra impossível, rica em pastos verdejantes, jardins exuberantes e águas quentes que jorram das entranhas da terra, tudo emoldurado por um mar imenso. Uma beleza tão perfeita que, por muita magia que os fotógrafos façam, as imagens ficam sempre aquém daquilo nos rodeia.

Vamos à procura das lagoas que repousam em crateras gigantes, cartões-postais dos Açores. Tomamos uma estrada junto à costa, ladeada de hortênsias de um azul pronunciado que, lamenta a minha mãe, não se consegue replicar no continente.

A Lagoa das Sete Cidades é o maior reservatório de água doce da ilha.
O hotel funcionou apenas 2 anos, na década de 80, acabando totalmente vandalizado depois de 2010

Poucos quilómetros depois fazemos a paragem obrigatória no miradouro onde D. Carlos I se apaixonou pela Lagoa das Sete Cidades, ficando o lugar baptizado como “Vista do Rei”, desde que o monarca reconheceu o que via como digno da realeza.

Do alto do esqueleto do hotel Monte Palace a vista é igualmente surpreendente.

Reza a lenda que estas lagoas gémeas, uma azul e outra verde, nasceram das lágrimas de uma princesa de olhos azuis e de um pastor de olhos verdes, que viviam um amor proibido. Ainda que as lendas tornem tudo mais saboroso, a verdade é que esta lagoa, uma das sete maravilhas naturais de Portugal, não precisa de floreados para nos fazer feliz.

Dica: existem cinco miradouros de onde se pode apreciar a lagoa. Sugiro um pequeno desvio até ao Parque Florestal da Mata do Canário, a pouco mais de 3 km da Vista do Rei, até ao Miradouro da Grota do Inferno de onde se vê também a Lagoa Rasa e a Lagoa de Santiago, de um verde profundo. Para além de a paisagem ser ainda mais bela, o lugar é muito muito mais tranquilo.

Outra das grandes lagoas dos Açores, adormecida numa cratera com mais de 1 km de diâmetro, fica mesmo no centro da ilha. Para isso, atravessamos uma estrada montanhosa com curvas apertadas que intercala encostas verdes da floresta endémica com paisagens marinhas.

As vacas felizes que passam o dia a passear com vista para o mar, tal como diz a publicidade, arrancam gritos de alegria ao pequeno explorador que é fã incondicional do tal anúncio. O jingle acompanha-nos durante grande parte da viagem, entre suaves trauteios e cantorias a plenos pulmões.

Ufa, finalmente chegamos a uma das mais impressionantes elevações de São Miguel – o vulcão adormecido da Água de Pau – na boca do qual está a Lagoa do Fogo, com águas de um azul bem forte. Um dos melhores lugares para apreciar a lagoa é o Miradouro do Pico da Barrosa, a mais de 900 metros de altitude, com uma paisagem que se prolonga até ao oceano, em dias de céu limpo.

Dica: nas proximidades da Lagoa do Fogo fica o monumento natural Caldeira Velha, com acesso pago. Para além de um banho quente nas piscinas termais (uma a 25ºC e outra que pode chegar aos 38º), rodeadas de uma frondosa mata de fetos, existe ali um Centro de Interpretação que explica a origem vulcânica do arquipélago.

A Lagoa das Furnas conclui a tríade divina da ilha. Conhecida sobretudo por causa das suas fumarolas e do famoso cozido, é possível fotografar as suas águas verdes desde o Pico do Ferro e do Salto do Cavalo. Ambos os locais renderam lindas fotos. Mas sobre esta preciosidade nos deteremos num futuro post, porque queremos terminar este dia na ilha verde perdidos nas belas plantações de chá.

Sim, porque as duas únicas fábricas de chá da Europa ficam na costa norte de São Miguel. A produção de chá começou no século XIX, depois da cultura da laranja micaelense deixar de ser rentável, e prosperou graças ao aconselhamento técnico de dois chineses da região de Macau.

Visitámos os dois espaços, a poucos quilómetros um do outro, e apreciámos mais a fábrica do chá Porto Formoso pela sua tranquilidade, cortesia e atenção ao detalhe. Beber uma chávena do suave Broken Leaf no seu terraço, com vista para o mar e para a plantação, é ideal para finalizar um dia perfeito.

Dica: porque as condições meteorológicas da ilha são completamente aleatórias (um pouco doidas mesmo) e o nevoeiro pode estragar a visita, pode espreitar previamente os locais através da aplicação SpotAzores, que tem câmaras colocadas em vários pontos estratégicos.

No meio de milhões de pés de Camellia sinensis, a planta do chá.

Próximos posts

Paisagens atlânticas de São Miguel
Furnas de São Miguel, terra de fogo
Os imperdíveis de Ponta Delgada
Sabores de São Miguel
#São Miguel, Açores: Dicas de Viagem

Caldeira Velha: aqui | 09:00 às 20:30 (Abril a Setembro) | Entrada: 2€ (adultos), 1€ (crianças 4-12 anos, séniores)
Fábrica de chá Porto Formoso: aqui | Seg-Sáb: 9h00- 18h00 (Maio a Setembro) | entrada gratuita
Fábrica de chá Gorreana: aqui | Seg.-Sex: 8h00-19h00, Sáb-Dom: 9h00-19h00 | entrada gratuita